Diplomacia?

Embaixador venezuelano denuncia plano para assassinar o presidente Nicolás Maduro

Segundo o embaixador da Venezuela no Brasil, Diego Molero, e-mails conspiratórios foram trocados entre líderes oposicionistas venezuelanos e autoridades de estado dos EUA

Agência EFE

O plano de assassinato do presidente configura a terceira etapa do “golpe suave” em curso na Venezuela

São Paulo – E-mails trocados entre líderes da oposição venezuelana e autoridades de estado dos Estados Unidos, interceptados com autorização judicial em investigação conduzida pelo Ministério Público da Venezuela, revelam a existência de um plano para assassinar o presidente Nicolás Maduro. O objetivo da morte seria encerrar o ciclo de governos bolivarianos que, desde a primeira vitória eleitoral do ex-presidente Hugo Chávez, em 1998, venceu 18 dos 19 pleitos realizados no país para todos os níveis de governo.

A revelação foi feita pelo embaixador da Venezuela no Brasil, Diego Molero, que repetiu em Brasília a denúncia que autoridades venezuelanas buscam agora divulgar pelo mundo em uma tentativa de furar o bloqueio da mídia internacional, que, segundo ele, atua como coautora do golpe a serviço da política norte-americana.

“Como eles não conseguiram derrotar Maduro com as estratégias anteriores de desestabilização do país por meio de protestos violentos e do desabastecimento de itens básico de consumo, agora partiram para uma solução mais drástica: assassinar o presidente”, denuncia o embaixador. De acordo com ele, o plano de assassinato do presidente configura a terceira etapa do que classifica como “golpe suave em curso na Venezuela”, deflagrada no dia 12 de fevereiro com o primeiro protesto violento de uma série que já deixou 42 mortos, 873 feridos e prejuízos materiais estimados em US$ 15 bilhões.

Os e-mails não falam textualmente em assassinato do presidente, mas oferecem indícios fortes de que seja essa, de fato, a estratégia. Além disso, não deixam dúvidas da ingerência norte-americana na articulação do golpe para desestabilizar o governo da Venezuela. Exemplo disso é a correspondência eletrônica enviada em 23 de maio pela líder oposicionista de ultradireita María Corina Machado, um das lideranças que convocou os protestos pela renúncia de Maduro, ao ex-diplomata venezuelano Diego Arria, referência da direita venezuelana.

“Não me aguento mais nesta espera. É preciso limpar essa porcaria, começando pela cabeça, aproveitando o clima mundial com Ucrânia e agora Tailândia. Quanto antes, melhor”, diz um trecho da mensagem eletrônica. Em um segundo momento, Corina é ainda mais clara: “chegou a hora de acumular esforços, fazer as chamadas correspondentes e obter o financiamento para aniquilar Maduro, o demais cairá sozinho”.

Em outro e-mail enviado ao ex-deputado oposicionista Gustavo Tarre, do partido Copei, também em maio, María Corina Machado afirma que o funcionário o embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, Kevin Whitaker, já “reafirmou seu apoio” à conspiração e ainda “indicou novos passos”.

“Já decidi, essa luta é até que esse regime se vá e cumpramos a nossos amigos do mundo. Se eu fui a San Cristóbal e me expus na OEA, não tenho medo de ninguém, já Kevin Whitaker me reafirmou apoio, e indicou novos passos. Contamos com uma ‘chequera’ mais forte que a do regime para romper os anéis de segurança”, revela a mensagem. “Chequera” significa talões de cheques, dinheiro, financiamento.

Outro e-mail enviado a Arria pelo ex-diretor da estatal petrolífera PDVSA Pedro Mario Burelli Briceño, defensor da abertura do país ao capital estrangeiro nos anos 90, corrobora as informações de María Crina Machado. “Me pedia opinião sobre a resolução de MCM e creio que essa é a atitude. Vamos por tudo e com tudo. Contamos com o Departamento, a embaixada e agora vem as sanções do Senado”, assinalou.

Segundo o embaixador, a conspiração envolve também os ativistas Ricardo Koesling e Robert Alonso, o criador da “guarimba”, a metodologia utilizada nos protestos que prevê a organização de barricadas e a utilização, por exemplo, de fios de aço para degolar quem tentar furá-las. Condenado pela Justiça no país, Alonso está exilado em Miami, mas continua muito ativo nas redes sociais venezuelanas.

Em e-mail, Koesling diz à Alonso: “Sua valentia me inspirou, pois ninguém tem mais bolas nessa merda que você, espero que aproveite e poste essa coisa para que todos a vejam, seguramente outros se inspiram e se agarram as bolas para acabar com essa merda de uma vez por todas”. No e-mail, enviado em 25 de maio, aparece um vídeo do que parece ser um treinamento para o assassinato de Maduro, com o presidente transformado em alvo.

Ação articulada

Para o embaixador da Venezuela no Brasil, os e-mails colocam por terra a tese da oposição de que os protestos na Venezuela começaram de forma espontânea. “Desde o início, o ‘golpe suave’ é uma ação articulada entre a oposição e os Estados Unidos para colocar fim ao chavismo, o regime de governo que o povo venezuelano escolheu de forma democrática, por meio do voto”, afirmou.

Ele lembrou que, nas eleições de 2013, após a morte do ex-presidente Hugo Chávez, Maduro foi eleito por uma pequena margem, mas dentro das regras democráticas: obteve 50,66% dos votos, contra 49,07% do seu concorrente, o oposicionista Henrique Capriles. “O golpe suave em curso na Venezuela segue a mesma metodologia dos outros efetivados recentemente no continente, como no Paraguai e em Honduras, para destituir governos democráticos”, denunciou.

Molero avaliou que os protestos, cuja principal metodologia de articulação são as “guarimbas”, têm causado terror e perturbação à população, além de grande número de mortes e perdas materiais. Por isso, defendeu que sejam reprimidos pelas forças de segurança, dentro de parâmetros democráticos. “A oposição diz que a violência é causada pelos estudantes, mas só 8% dos 224 detidos nos protestos são estudantes. Na Venezuela, hoje, concentram-se de mercenários de várias partes do mundo, muito bem pagos para promover a violência”, afirmou.

Ele também criticou a postura da mídia internacional, que, na sua avaliação, desinforma mais do que informa sobre a realidade de seu país. “A mídia acusa o governo da Venezuela de responder aos protestos com repressão, mas dos 42 mortos já registrados, 11 eram servidores públicos, a maioria das forças de segurança. Outras 11 pessoas morreram tentando atravessar as barricadas, quatro deles degolados pelos fios de aço usados nas ‘guarimbas'”, contrapôs. Ainda segundo ele, dos 873 feridos, cerca de 280 são funcionários públicos, o que demonstra “o alto nível de violência presente nas chamadas manifestações pacíficas da oposição”.