Emir Sader

Guerras erradas podem condenar Obama a ser um ‘pato manco’

Obama parlamentar se opôs à guerra do Iraque. Presidente, prometeu concentrar-se no Afeganistão – a ‘guerra certa’. Agora, nas eleições parlamentares deste ano, corre risco de perder apoio do Congresso

Sgt. Laura Buchta/US Army

Obama, durante solenidade de homenagem ao sargento Kyle White por ações no Afeganistão

Como parlamentar, Barack Obama tinha se oposto à guerra do Iraque. Como presidente, se comprometeu a retirar as tropas norte-americanas daquele país – a “guerra errada” – e concentrar os esforços no Afeganistão, que seria a ‘guerra certa’. Já próximo da segunda metade do segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos tem dificuldades no Iraque e no Afeganistão. Oficialmente, os Estados Unidos saíram do Iraque e adiaram a saída do Afeganistão.

Ninguém já acreditava que nenhum dos dois países poderia sobreviver sem a presença militar dos EUA. No Afeganistão, seguem na ordem do dia conversações com o Taleban, porque sua derrota não parece mais provável. Não por acaso, a data de saída definitiva das tropas norte-americanas é sistematicamente adiada.

No Iraque, os EUA optaram pela aliança com os xiitas, concentrando fogo contra os sunitas, base de apoio do regime de Saddam Hussein. Com isso, trataram de sair do centro do fogo, deixando que as duas tendências se digladiem entre si. Porém, ao mesmo tempo, renunciou à possibilidade de unificar o país.

A fragilidade dessa posição se revela agora com toda a força, levando o Estado iraquiano ao borde da desagregação. Porque forças sunitas internacionais, aparentemente financiadas pela Arábia Saudita, as mesmas que lutam no norte da Síria, avançam na direção da tomada da capital do Iraque.

Enquanto forças do exército iraquiano se entregam diante dessa ofensiva, forças curdas, situadas no norte do país, aproveitam para estender a influência com reivindicações históricas sobre cidades do norte do Iraque.

Obama é pressionado para intervir, menciona-se a possibilidade de bombardeios e do uso de drones, mas, por enquanto, o presidente dos EUA reafirma que não se comprometeria mais militarmente no Iraque. O clima interno não favorece nenhuma nova experiência militar, mas é preciso saber até quando Obama resistirá, porque o risco da queda de Bagdá nas mãos de forças sunitas seria desastroso para ele, confirmando o consenso que foi se formando a partir da Siria, do Irã e da Ucrânia, sobre a debilidade da política externa dos EUA.

Paradoxalmente, o Irã e os EUA convergem na necessidade da defesa do governo xiita do Iraque, mas não se sabe de que forma poderiam ter algum tipo de ação conjunta. O certo é que as forças sunitas pertencentes à corrente mais radical impuseram a Sharia numa cidade que conseguiram ocupar. Transferiram tropas da Síria, onde o governo de Assad se consolida, para concentrar ações na direção de uma tentativa de tomada de Bagdá.

Os xiitas tentam construir um novo país, que iria do norte da Síria até o Iraque, unificado pela Jihad Islâmica, mudando o mapa da região. Contam com a Arábia Saudita como apoio fundamental.

Sobra para os EUA a situação mais delicada. Quando tem problemas sérios pendentes na Ucrânia, negociações complexas com a Siria e o Irã e a retirada do Afeganistão a conduzir, certamente não vão poder assistir impassivelmente um processo de desintegração do Estado iraquiano.

Nao importa que Obama tenha considerado a guerra do Iraque como uma “guerra errada”. Ele recebeu a herança como presidente a não pode passar à historia como quem perdeu o Iraque, cuja invasão custou tanto desgaste para os EUA. Com eleições parlamentares que podem condená-lo a ser um “pato manco”, ficando sem apoio nas duas casas do Congresso, Obama tem meses decisivos até o fim deste ano.