Diplomacia

Governo da Venezuela reitera objeção a debate na OEA e cobra encontro da Unasul

Maduro diz que não aceita ingerência, confirma ruptura de relações diplomáticas com Panamá devido a atitude considerada 'inamistosa' e recebe apoio de Danny Glover. Mais duas pessoas morrem em Caracas

EFE/Miraflores

Ao lado de Maduro, Glover afirmou que povo venezuelano saberá lidar com adversidades

São Paulo – O governo da Venezuela reiterou hoje (6) a visão de que a Organização dos Estados Americanos (OEA) carece de legitimidade para debater os episódios violentos ocorridos desde 12 de fevereiro e voltou a cobrar um encontro extraordinário da União de Nações Sul-americanas (Unasul).

Durante encontro no Palácio de Miraflores, em Caracas, o presidente Nicolás Maduro pediu pessoalmente ao chefe de governo do Suriname, Desiré Bouterse, que comanda temporariamente a Unasul, que convoque rapidamente uma reunião entre os presidentes das 12 nações que integram o bloco. Na visão de Maduro, o encontro serviria para que seu governo pudesse expor aos demais países os atos violentos cometidos por “pequenos grupos que trataram de violar a vida social e impor uma situação política”.

Segundo a chancelaria venezuelana, trabalha-se neste momento na organização do encontro, ainda sem local definido, e na tentativa de alinhar as agendas dos presidentes. Na última semana o ministro das Relações Exteriores, Elías Jaua, fez um giro por várias nações americanas na tentativa de encontrar respaldo ao governo de Maduro, que acusa estar sofrendo uma tentativa de golpe de Estado forjada por opositores – que, de fato, têm dito abertamente que a intenção de manifestações e atos violentos é dar fim ao chavismo.

Este foi mais um dia agitado para a Venezuela no campo diplomático. Enquanto em Washington o Conselho Permanente da OEA decidia se convoca reunião para tratar do caso da nação caribenha, em Caracas Jaua reiterava que não enxerga no organismo regional legitimidade para tomar qualquer medida. Para o chanceler, há uma tentativa dos Estados Unidos de criar um clima internacional desfavorável ao chavismo, tentando passar a ideia de que a institucionalidade e a democracia foram atropeladas pelo governo, que não tem mais condições de se manter.

“Aqui há dois lados enfrentando-se: há o povo que quer a paz com as instituições democráticas firmes, sólidas e em plena vigência, e um grupo de violentos que foi preparado e que está exercendo o terror contra centenas de famílias. Frente a isso há um Estado que está obrigado pela Constituição a atuar, em estrito apego aos direitos humanos, com o uso progressivo e diferenciado da força.”

O governo informou ainda que apresentou denúncias formais contra atos violentos frente ao Conselho de Direitos Humanos e à Secretaria da ONU, à Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e ao Mercosul. Para os chavistas, há uma clara intenção dos Estados Unidos em promover violência e boicote dentro do país de forma a inviabilizar a administração pública.

Neste sentido, tiveram sequência hoje as medidas para a ruptura formal das relações diplomáticas com o Panamá. O principal motivo de irritação foi o pedido do presidente panamenho, Ricardo Martinelli, pediu uma reunião da OEA com a finalidade de condenar a atitude de Maduro. Em nota, o Ministério de Relações Exteriores afirmou se tratar de uma atitude “inamistosa” e de ingerência em assuntos internos. Com isso, o embaixador e os demais integrantes do corpo diplomático têm 48 horas para deixar o território venezuelano.

Em discurso ao entregar apartamentos do programa habitacional Misión Vivienda, Maduro afirmou que os assuntos internos da Venezuela devem ser tratados exclusivamente no âmbito interno, sem intromissões. “Sei que conto com o apoio do povo venezuelano para defender a dignidade e a soberania da Venezuela.”

Ao lado dele, o ator norte-americano Danny Glover reiterou sua defesa do governo iniciado há 15 anos. Na semana passada, Glover, famoso por seu ativismo político, já havia enviado um comunicado de apoio a Maduro, e agora viajou a Caracas para fazê-lo pessoalmente. Ele afirmou que Chávez foi um promotor da “democracia real” e que o povo venezuelano tem pela frente uma tarefa difícil, mas que saberá superar as adversidades. “A Venezuela deve representar uma luta pela paz e a democracia no continente e em todo o mundo.”

O chanceler Elias Jaua relacionou a postura do Panamá com um comunicado emitido pela chamada Mesa de Unidade Democrática (MUD), que congrega figuras da oposição, no qual se apoia a aprovação de uma condenação regional ao governo de Maduro, a quem se atribui a culpa pelas 19 mortes ocorridas desde 12 de fevereiro. Para ele, a atitude da MUD a relaciona de maneira definitiva com os grupos violentos que promovem barricadas e tiroteios. “Ou se exerce a violência ou a via pacífica, quer dizer, o caminho democrático pacífico. Isso é o que tem de dizer ao país os dirigentes da MUD: se eles apostam no jogo democrático ou se jogam nas duas águas. Se jogam nas duas águas, estão sendo desleais antes seu próprio povo.”

Mortes

O governo atribuiu à oposição mais duas mortes ocorridas hoje em Caracas. As vítimas são um motoqueiro e um integrante da Guarda Nacional Bolivariana. O primeiro teria sido assassinado por um franco-atirador na zona leste da cidade, quando removia barricadas promovidas por opositores. Essas barreiras, feitas com lixo queimado, têm sido colocadas em redutos governados por políticos adversários de Maduro.

O anúncio foi feito pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, que afirmou enxergar no país o mesmo roteiro que levou ao golpe de Estado contra Hugo Chávez, em 2002. Na visão dele, naquela ocasião atiradores contratados por opositores foram parte da justificativa da derrubada do presidente constitucional. Agora, Cabello avalia que a ideia é criar a necessidade de uma intervenção estrangeira.

O Ministério Público informou que até hoje 1.322 pessoas haviam sido apresentadas ao Judiciário em virtude de violência nos protestos. Dessas, 92 estão presas de maneira preventiva por instigação de atos violentos, lesões graves e homicídio. 15 funcionários de órgãos de segurança estão detidos por abusos. Desde o começo do protesto, 318 pessoas ficaram feridas, segundo os números oficiais, entre elas 81 agentes policiais – não foi esclarecido se pertencentes a polícias municipais, estaduais ou federal.

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