Memória

Em ato de um ano da morte de Chávez, Maduro diz que ‘revolução está de pé’

Celebrações em Caracas servem como apoio a chavismo no momento em que Venezuela tem ações violentas que já resultaram em 19 mortes. Presidente faz novo apelo pela paz e pede que OEA 'fique longe'

Santi Donaire/EFE

Maduro desfilou no centro de Caracas para militantes que recordaram um ano da morte de Chávez

São Paulo – O ato de um ano da morte de Hugo Chávez se transformou numa cerimônia de apoio a Nicolás Maduro, como era de se esperar, com a reunião de milhares de pessoas hoje (5) em Caracas para fazer memória ao líder, vítima de um câncer que o afastou oficialmente do poder em dezembro de 2012.

“A um ano da partida de nosso comandante em chefe, a Revolução Bolivariana está de pé, vitoriosa, em luta e aberta em batalha, rumo ao socialismo bolivariano, cristão e chavista”, afirmou o presidente, em um encontro que serviu para tentar fortalecê-lo em meio a protestos convocados por opositores em algumas regiões do país.

Como tem feito nas últimas semanas, Maduro ao mesmo tempo cobrou o fim da violência, que já deixou 19 mortos desde 12 de fevereiro, e acusou haver um plano para desestabilizá-lo. Neste sentido, o presidente, eleito em abril do ano passado, afirmou ter recebido hoje palavras de solidariedade de governantes do mundo inteiro. Estão em Caracas os presidentes da Bolívia, Evo Morales, de Cuba, Raúl Castro, e da Nicarágua, Daniel Ortega, além dos ministros de Relações Exteriores da Argentina, do Equador e da Palestina. O Brasil é representado por Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República.

Ao cumprimentá-los, Maduro afirmou que as nações consideradas parceiras “se sentem felizes ao constatar que nosso povo em batalha vai limpando o caminho da violência almejada pela direita fascista”. Além de protestos, opositores vêm promovendo barricadas. Em alguns casos, arame farpado é passado de uma ponta a outra da rua, a uma altura de 1,20 metro, para atingir motoqueiros – ao menos uma morte foi provocada desta maneira.

Hoje houve tentativas de impedir a realização das marchas em memória de Chávez. As ruas do leste de Caracas, distritos governados pela oposição e com um perfil de classes média e alta, amanheceram fechadas por barricadas. Durante as comemorações, Maduro informou que foram detidos e apresentados ao Ministério Público os responsáveis por fechar pontes, túneis e rodovias em várias cidades do país.

Ele disse que foram apreendidas armas, coquetéis molotov e pólvora. “Bem presos estão e têm de ser castigados severamente”, afirmou, classificando-os como “remanescentes da violência”, parte do esforço para mostrar que se trata de grupos isolados e que a situação está sob controle. “O país está funcionando livremente, com tranquilidade, desde a manhã, e assim será todo o dia de hoje e os que virão.”

Durante o discurso, Maduro, que normalmente cita Chávez várias vezes em suas falas, fez questão de recordar o antecessor como alguém que trabalhou pelos mais pobres e que empreendeu esforços para garantir os direitos populares. “Nunca antes na história existiu um líder que amasse com autenticidade o povo, que amasse os humildes e respeitasse os pobres. Foi um reivindicador do pobre e do trabalhador, dos seus direitos, da sua educação, cultura e dignidade, que passou à história como o redentor dos pobres da Venezuela e da América.”

Ao mesmo tempo, o presidente reiterou suas críticas a que forças de fora do país tomem posição em relação à atual conjuntura. Nas últimas semanas, ele vem citando os Estados Unidos como responsáveis por aquilo que classifica como “golpe de Estado continuado”. Na visão do governo, a oposição tenta criar um clima de instabilidade que garanta uma interferência estrangeira sob o pretexto de guerra civil. “Vou responder com força e contundência a qualquer intenção de governos da América de intervir na Venezuela.”

Cidadãos venezuelanos fizeram questão de recordar a imagem de Chávez, a quem seguem chamando por "presidente" e "comandante"O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) se reunirá amanhã em Washington para analisar a situação venezuelana. Opositores pedem que o órgão regional emita uma reprimenda pública ao governo de Maduro, a quem atribuem a violência responsável pelas mortes ocorridas desde fevereiro. A OEA definirá sobre convocar ministros de relações exteriores para debater o caso, enviar uma missão observadora ou ditar uma resolução conclamando à busca de uma solução negociada. “Que não se equivoquem: a OEA, deixem-na onde está, bem longe de nós. Nosso caminho é o sul, a paz e a soberania. Fora a OEA daqui, por ora e para sempre.”

Parte da oposição a Maduro busca capitalizar o momento ruim da economia. O país sofre com um ciclo negativo que tem provocado alta inflação e desabastecimento. Uma das questões é que a Venezuela, com uma economia baseada na exportação do petróleo, continua dependendo de importações para produtos básicos. Com isso, uma oscilação na cotação do bolívar frente ao dólar provoca alta de preços.

Isso tem se agravado devido à existência de três cotações oficiais e uma paralela (ou muitas paralelas, a depender do gosto do cliente). Recentemente, o governo adotou um novo sistema que prevê uma cotação com o bolívar mais valorizado para as compras oficiais, um outro com atualização periódica que libera cotas mensais para operações de empresas e da população, e um terceiro com liberação semanal de cotas, também para estas operações.

O problema é que o sistema vigente até há pouco facilitou a vida de especuladores. É fácil de imaginar que importadores peçam autorização para trazer ao país uma determinada quantidade de produtos, mas, em vez de fazerem a operação completa, compram apenas uma parte, e utilizem o restante dos recursos para colocar dólares no mercado paralelo e lucrar muito mais. De quebra, garantem escassez daquele produto e podem cobrar mais caro por ele. Com isso, o novo método se transforma em mais uma tentativa de frear ataques especulativos. Com mais moeda em circulação e a liberação de cotas maiores para importação de produtos básicos, o governo espera conter a alta de preços, que no ano passado foi a maior do período chavista, de 56%.

Mas há também um aspecto político no desabastecimento. De um lado, a oposição acusa o governo de levar a economia a um nível inaceitável de insegurança, provocando a falta de produtos básicos. De outro, o governo denuncia que empresas de importação e de produção de alimentos têm deixado que faltem insumos com a ideia de fazer com que a população fique contra Maduro.

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