Europa

Eleições municipais francesas são marcadas por avanço da extrema-direita

Partido Socialista, de Hollande, propõe pacto com diversos grupos para evitar vitórias da Frente Nacional no segundo turno, no próximo domingo

Amanda Lourenço/Opera Mundi

Funcionários de órgão eleitoral fazem apuração de pleito municipal na França

Paris – Se o primeiro turno das eleições municipais na França era considerado um teste para a política do presidente François Hollande, ele não foi muito bem. O pleito deste domingo foi marcado pela ascensão da extrema-direita, ao mesmo tempo em que o PS (Partido Socialista) sofreu retrocesso e a direita da UMP (União por um Movimento Popular) obteve um leve avanço. A abstenção recorde e o grande número de disputas “triangulares” para o segundo turno também foram destaques da eleição.

A FN (Frente Nacional), partido da extrema-direita, comemorou resultados históricos após a estratégia de renovação de sua imagem. Marine Le Pen, líder do partido, abandonou a retórica racista de seu pai e conquistou 7% dos votos de todo o país, um aumento importante em relação ao primeiro turno das últimas municipais, em 2008, quando atingiu apenas 1%.

Em um rápido anúncio à imprensa francesa, Le Pen afirmou que os resultados do primeiro turno foram espetaculares e que algo de novo está acontecendo no cenário político do país, pois “os franceses não querem mais ficar presos entre a UMP e o PS”. A deputada afirmou ainda que o resultado desta eleição foi uma “colheita excepcional” que marca “o fim da bipolarização da vida política francesa”.

Candidatos da extrema-direita aparecem em primeiro lugar em uma dezena de cidades, principalmente no litoral mediterrâneo, onde as taxas de desemprego são elevadas. Em Hénin-Beaumont, norte da França, Steeve Briois, candidato da FN, conseguiu ser eleito já no primeiro turno com 50,26% dos votos, uma surpresa até para o próprio partido. Le Pen ainda alcançou seu objetivo inicial de prolongar a disputa da FN em pelo menos 200 das 600 cidades em que o partido concorria.

O PS de François Hollande conquistou 43% do total de votos, 5 pontos percentuais a menos do que nas últimas municipais. Até mesmo em Paris, onde a candidata Anne Hidalgo era a favorita para a sucessão do também socialista Bertrand Delanöe, as urnas foram favoráveis à sua opositora Nathalie Kosciusko-Morizet, que ganhou com uma pequena margem de votos (34,8% contra 33,6%), levando a disputa para o segundo turno.

Em discurso após os resultados, Hidalgo criticou “uma direita que repele tudo que seja inovador” e que “usa o medo do outro” em benefício próprio. Em relação à sua rival, a candidata afirmou que ela “não tem amor nem ineteresse por Paris”. Kosciusko-Morizet, por sua vez, disse que “o povo de Paris desmentiu todos os prognósticos” e convocou uma “insurreição democrática”.

Em Marselha, outra decepção para os socialistas. Patrick Mennucci, candidato do PS, esperava recuperar a prefeitura de Jean-Claude Gaudin, da UMP, que está há quase 20 anos no cargo. Entretanto o atual prefeito conseguiu uma vantagem de 20 pontos em relação a Mennucci, que foi ultrapassado mesmo pelo candidato da FN, com 2 pontos percentuais a mais. Nenhuma pesquisa de opinião conseguiu prever este cenário.

Na França, o segundo turno não é disputado obrigatoriamente por apenas dois candidatos, mas por todos os concorrentes que conseguirem mais de 10% dos votos, a menos que um deles consiga mais de 50% e vença a eleição no primeiro turno. Desta forma, tanto em Marselha como em diversas outras cidades, o segundo turno será “tringular”. Por isso, o candidato do PS ainda espera ganhar e pediu aos cidadãos insatisfeitos que se juntem a ele no segundo turno “para restaurar uma esperança em Marselha”.

Para evitar a vitória da extrema-direita nas triangulares, o partido socialista propôs uma “frente republicana” que negociaria cos candidatos que têm mais chances de vencer. “A mensagem do PS é sem ambiguidade: no nosso caso, faremos de tudo para que, no final destas eleições municipais, nenhuma cidade seja liderada pela Frente Nacional”, afirmou Harlem Désir, secretário-geral do partido. A UMP, no entanto, recusou qualquer negociação: “Nós não pediremos que votem jamais na Frente Nacional, mas muito menos em um partido socialista que é aliado à Frente de esquerda”, disse Jean-François Copé, presidente da UMP.

O grande número de abstenções também marcou este primeiro turno. Foram 37,9% dos inscritos nas listas eleitorais que não compareceram, um recorde nas municipais. Nas últimas eleições, há seis anos, a taxa havia sido de 33,5%. Na França o voto não é obrigatório e a abstenção é uma forma de demonstrar desinteresse ou desilusão com o quadro político atual.

Segundo uma pesquisa feita antes da votação, as pessoas que tendiam a não sair de casa eram os mais jovens, decepcionados com os rumos do país. Desta forma, o alto índice de abstenção acabou favorecendo os partidos mais conservadores. O PS espera reverter o quadro convencendo o maior número possível de pessoas a votarem no segundo turno, que acontecerá domingo que vem.

Leia também

Últimas notícias