América Central

El Salvador realiza segundo turno com partido governista liderando pesquisas

Salvador Sánchez Cerén, da FMLN, enfrenta o ex-prefeito de San Salvador Norman Quijano, do opositor Arena

Luis Galdamez/EFE

Qualquer que seja o vencedor, terá de enfrentar desafios estruturais deixados para trás por décadas

San Salvador – Neste domingo (09), cerca de 5 milhões de salvadorenhos estão convocados novamente às urnas para eleger, em segundo turno, o presidente e o vice-presidente do país para o período de 2014-2019.

Dois partidos se apresentam para este segundo embate eleitoral: o governista Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional – de esquerda (FMLN), cuja fórmula presidencial está formada pelo ex-comandante guerrilheiro e atual vice-presidente da República, Salvador Sánchez Cerén, e o ex-prefeito de Santa Tecla Oscar Ortiz, e o opositor Aliança Republicana Nacionalista – de extrema direita (Arena), que apresenta o ex-prefeito de San Salvador Norman Quijano, acompanhado do acadêmico René Portillo Cuadra.

Este segundo turno é necessário porque, no primeiro, realizado no dia 2 de fevereiro, nenhum dos partidos inscritos alcançou os 50% mais um de votos. Naquela ocasião, o FMLN obteve 48,93% dos votos (1.315.768), contra 38.96% (1.047.592) do Arena.

Um estudo comparando as diferentes pesquisas realizadas nas últimas semanas aponta uma ampliação de mais de 14 pontos percentuais de vantagem em intenções de voto da FMLN, isto é, quase 5 pontos percentuais e mais em relação ao resultado obtido no primeiro turno. Além disso, todas as pesquisas preveem uma diferença de pelo menos 10 pontos percentuais entre a FMLN e o Arena.

Segundo o economista e analista político dominicano César Villalona, o resultado das pesquisa reflete uma realidade indiscutível. “O Arena cometeu uma série interminável de erros no desenrolar de sua campanha eleitoral e não foi capaz de se desassociar da grande quantidade de casos de corrupção que salpicaram membros importantes do partido”, disse Villalona a Opera Mundi.

Sem dúvida, o caso que mais repercutiu é o do ex-presidente (1999-2004) e chefe de campanha do Arena, Francisco Flores, que está sendo investigado por uma comissão especial da Assembleia Legislativa pelo suposto desvio de 75 milhões de dólares durante seu mandato. Atualmente, ninguém sabe do paradeiro do ex-presidente, que abandonou sua residência sem rastros, e seu partido se limitou a suspender sua afiliação.

Direita em debandada

Frente ao decepcionante resultado obtido no primeiro turno e a perda de quase 300 mil votos em relação às eleições de 2009, o Arena tentou mudar drasticamente o conteúdo de sua campanha. “Norman Quijano deixou de falar de militarização da segurança pública para combater a criminalidade e prometeu que vai dar continuidade e melhorar os programas sociais do atual governo. Essa falta de propostas, de coerência e de seriedade, somadas à uma desgastada campanha do medo e de difamação do adversário, projetaram na sociedade a imagem de um partido em debandada e sem ideias, criando maior desencanto nas suas bases”, garantiu Luis Alvarenga, filósofo e catedrático da Universidade Centro-americana.

Durante sua participação no programa de rádio de sábado “Conversando com o Presidente”, o mandatário salvadorenho Mauricio Funes atacou essa atitude. “Curiosamente, as 19 propostas apresentadas são medidas que já estão sendo tomadas, não há nenhuma novidade, nada original, nada que surpreenda o cidadão”, disse.

O presidente lembrou que, apenas alguns meses atrás, o próprio Quijano dizia publicamente que esses programas não eram mais que “caridade”, “presentes” ou “desperdício” do Estado.

Segundo Villalona, o resultado deste domingo para o Arena poderia ser ainda mais desastroso que o do primeiro turno, provocando um verdadeiro terremoto interno. “Caso se confirme o fracasso eleitoral, a direita salvadorenha não teria outra opção a não ser se encaminhar para a sua reconversão política e estratégica. O ex-presidente Elías Antonio Saca poderia se aproveitar disso”, afirmou.

Saca, que no dia 2 de fevereiro encabeçou a aliança de partidos de direita Unidade, obtendo 11,44% dos votos, deu a seu eleitorado a liberdade de voto nesse segundo turno. No entanto, vários analistas consideram que boa parte desses votos se dividiriam entre os dois partidos que se enfrentam e o abstencionismo.

Governo de unidade

Se, por um lado, a campanha do Arena parece não ter conseguido reduzir a distância do partido governista, o FMLN e sua fórmula presidencial se dedicaram a percorrer todo o país, para fazer alianças com diferentes setores, grupos e organizações, mantendo uma campanha limpa e sem confrontações. “O FMLN se dedicou a apresentar propostas concretas que pretendem aprofundar os programas sociais e econômicos iniciados durante o governo de Mauricio Funes. Além disso, apresentou à sociedade salvadorenha a ideia de um governo de ampla participação e de acordo, convocando um grande pacto de nação”, explicou o economista dominicano.

Essa estratégia, que levou o partido governista a visitar 1,7 milhões de lares para apresentar o plano de governo e motivar o voto, contribuiu para desmontar a campanha do medo promovida pelo Arena, que, nesse último mês, focou em criar um falso paralelismo entre os últimos acontecimentos na Venezuela e a realidade que viveria El Salvador se o FMLN ganhar. “Essas coisas não servem porque é a mesma mensagem desgastada que a direita tem usado por décadas e que não consegue penetrar como antes na população”, disse Alvarenga.

Durante o encerramento da campanha no último de 2 de março, Salvador Sánchez contestou as acusações, provenientes da direita, de quere instaurar um governo de recorte comunista ao estilo do venezuelano ou do cubano. “Que fique claro ao país que o nosso modelo econômico não é cópia de nenhum modelo estrangeiro. O nosso modelo é o de vocês, é o modelo salvadorenho que pretende garantir justiça e igualdade social”, disse o candidato presidencial do FMLN.

Para o catedrático da UCA, o que está em jogo nesse domingo é o futuro do país. Independentemente de quem ganhe, o novo governo terá de enfrentar grandes desafios. “Além dos problemas históricos estruturais, sociais e econômicos, o governo terá de abordar com força o tema da segurança, de forma integral e levando em conta a história de violência, injustiça, exclusão social, autoritarismo e impunidade que o país viveu ao longo de décadas”, concluiu.

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