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Maduro: ‘Não voltarão nunca. Por um golpe, menos ainda’

Presidente venezuelano pede que população resista caso seja tirado do poder e encaminha solicitação a Obama e a líderes opositores para que trabalhem para desencorajar atos violentos

Marchas vêm sendo realizadas pelo governo e pela oposição, com clima cada vez maior de acirramento

Caracas – O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, voltou a falar neste sábado (22) em um golpe de Estado em curso e encorajou a população a resistir caso seu governo seja derrubado. Ele recebeu no lado externo do Palácio Miraflores, sede presidencial, participantes de uma marcha de mulheres convocada para apoiar sua gestão e se opor à passeata realizada simultaneamente pela oposição.

“A contrarrevolução decidiu derrotar pela via violenta esta revolução constitucional pacífica e democrática. O que conseguiu foi despertar com mais força a energia do povo”, afirmou. “Vocês sabem que estamos enfrentando um golpe de Estado. Estamos derrotando o golpe. Eles não voltarão nunca. Por um golpe de Estado, menos ainda. Jamais.”

Marchas vêm sendo realizadas todas as semanas deste mês pelo governo e pela oposição, com clima cada vez maior de acirramento. A prisão de um jovem durante um protesto universitário desencadeou a fúria de setores das classes média e alta em todo o país, que somaram a isso a insatisfação pelas restrições à compra e venda de dólares, à inflação e à escassez de produtos. Representantes de segmentos da oposição afirmaram abertamente que a ideia é manter as manifestações até a derrubada de Maduro, eleito no ano passado para um mandato que vai até 2 de fevereiro de 2019.

As marchas deste sábado tiveram formato parecido às anteriores. Transcorreram pacificamente, até que, no final, grupos se desgarraram do protesto opositor e passaram a promover depredação e fechamento de ruas e avenidas. Foi assim que nas manifestações anteriores foram mortos participantes. O governo atribui os episódios a tentativas da oposição de desestabilizá-lo, e a oposição afirma que os óbitos foram provocados por grupos armados de apoio ao chavismo.

O ato em Miraflores, transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, foi o fechamento da marcha de apoio ao governo. Durante duas horas, Maduro discursou apelando à resistência de seus apoiadores e culpando a oposição pelos atos de violência. Ele aproveitou o momento para transmitir vídeos nos quais acusa Leolpoldo López, chefe do partido Vontade Popular, de comandar um levante com a intenção de derrubá-lo. O governo acusa López de agir a mando dos Estados Unidos e do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, com quem tem ligações próximas.

Alguém acredita que incendiando o país poderão tomar o poder político. Não poderão nunca. Se nestas circunstâncias de violência política e fascista, vocês acordam e não está mais Nicolás Maduro como presidente, vocês vão aceitar outro? Eu os autorizo, se algum dia desaparecerem com Maduro, a que vocês tomem as ruas e resistam.”

O discurso de Maduro foi assistido desde arquibancadas e de pé, de frente para o palco montado para receber os manifestantes, que se concentraram durante a manhã. Apenas à tarde eles iniciaram a passeata pela zona oeste da cidade, de onde começaram uma subida pelas ladeiras de Caracas, sempre apoiados pela população no comércio e nos edifícios, com bandeiras de Hugo Chávez e cantos recordando o ex-presidente, morto em março de 2013.

O presidente prometeu realizar na próxima quarta-feira (26) uma conferência de paz com diferentes setores da sociedade civil para começar a debater saídas para a violência. O primeiro encontro será no palácio presidencial, e deve ser seguido por reuniões comunitárias em todo o país. Maduro citou nominalmente os líderes da oposição e pediu que trabalhem para dar fim a atitudes violentas. Ele informou que terá uma reunião na segunda-feira (24) com o governador de Miranda, Henrique Capriles, que tem sido o principal opositor ao chavismo nos últimos anos.

Capriles, apoiado nas eleições do ano passado por López, vem se posicionando contra as tentativas de ruptura institucional e afirmando que prefere esperar pelo caminho mais longo, porém mais seguro. Ele admitiu apenas este ano, em meio aos atos de violência, a derrota sofrida no ano passado para o presidente. Na ocasião, o próprio Capriles se recusou a reconhecer o revés e convocou marchas que acabaram com a morte de 11 militantes chavistas.

No discurso de hoje, Maduro seguiu afirmando que as mortes dos últimos dias são responsabilidade da oposição. “Aqui está o povo. O povo chavista está em paz. Se aqui o chavismo tivesse chamado a fazer confusão e violência, igual vocês… se tivesse sido chamado às ruas para fazer violência, a esta hora não teríamos país. Porque o chavismo vive de combater nas ruas. Toca a vocês falar com essa gente e desmobilizá-los.”

Outro ponto muito abordado por Maduro foi a participação dos Estados Unidos no processo de instabilidade de seu governo. O presidente deu especial atenção à nota emitida na sexta-feira à noite pelo chefe do Departamento de Estado dos Estados Unidos, John Kerry. Para ele, o horário em que saiu o comunicado já é revelador de como a Casa Branca está atenta aos movimentos em Caracas. O texto foi lido em público, durante a cadeia nacional, e comentado com ironias por Maduro.

Na nota, Kerry classifica como “inaceitável” o uso da força por parte do governo e acusa haver “intimidação judicial” contra opositores. “Não é assim que se comportam as democracias”, definiu o chefe do Departamento de Estado, chamado de insolente por Maduro, que tornou a pedir que o presidente Barack Obama indique um embaixador para negociar diretamente com a Venezuela e tentar normalizar as relações entre os dois países. “O que tem John Kerry para observar na Venezuela? Observe a pobreza nos Estados Unidos, que está aumentando. Observe a prisão de Guantánamo, que mantém sequestrados ilegalmente, que vocês tinham prometido fechar”, afirmou. “Obama, conclamo que dê a ordem de respeitar a Venezuela e não imiscuir-se mais nos assuntos dessa pátria.”

Maduro se despediu projetando nova vitória do chavismo nas eleições para a Assembleia Nacional, em dezembro de 2015. Ele recordou que o governo se submeteu a 19 processos eleitorais em 15 anos, e saiu vencedor em 18 vezes. No final, empunhando a espada do libertador Simón Bolívar, o presidente pediu que as mulheres presentes jurassem trabalhar pela manutenção deste governo e pelo bem do país.

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