Venezuela

Maduro aposta em reunião com opositores para conter violência

Antes de encontro em Caracas, presidente da Venezuela reitera ser vítima de golpe de Estado comandado pelos EUA e líder da oposição afirma que desafeto é 'erro da história' e fala 'lixo'

Miguel Gutiérrez/EFE

No sábado (22) Capriles, governador de Miranda, protesta ao lado de Lilian Tintori, mulher do oposicionista preso Leopoldo Lopez

Caracas – O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, diz apostar em uma reunião com líderes opositores nesta segunda-feira (24) para dar fim aos episódios de violência ocorridos ao longo deste mês. Ele receberá governadores no Palácio de Miraflores para a tradicional reunião do Conselho Federal de Governo, ocasião em que espera aprovar a destinação de recursos para obras nos estados e definir atribuições na luta contra a criminalidade.

A grande expectativa gira em torno da presença do governador de Miranda, Henrique Capriles, principal nome da oposição institucional. Na última semana, o candidato derrotado nas eleições de abril do ano passado vem mantendo postura dúbia em relação aos protestos, que já provocaram onze mortes em todo o país. Ao mesmo tempo em que buscou se afastar de setores que pedem abertamente a derrubada do presidente, Capriles fez críticas duras a Maduro.

No sábado, chegou-se a dar como certa a participação do governador na reunião de segunda, mas no domingo ele adicionou suspense a sua ida a Caracas e subiu o tom contra Maduro. “No mundo já começam a chamá-lo ‘o genocida Nicolás’. É um grave erro da história de nossa Venezuela”, disse, em mensagem no Twitter. “Que quantidade de lixo diz, Nicolás, nos canais do Estado. Deveria te dar vergonha. Está acabando com este país.”

No sábado, Capriles participou da marcha organizada pela oposição na zona leste de Caracas e tampouco adotou tom diplomático. “Maduro, não aceito nem ninguém aceitará que os venezuelanos que pensam diferente são fascistas. Pegue estas palavras e esconda você sabe onde.”

Já o presidente tem reiterado que as mortes ocorridas em protestos são culpa dos opositores, a quem cabe trabalhar para desencorajar a violência. Neste domingo, em entrevista transmitida ao vivo pelo canal TeleSur, ele disse que em 92% do território não se assistiu a nenhum ato de agressão, e que os episódios de enfrentamento têm se dado exclusivamente nas áreas controladas pela oposição. “Eles dizem protestos. Eu não digo protestos. Digo ataques. Isso não tem uma reivindicação.”

Ele apresentou uma pesquisa na qual 85% dos entrevistados reprovam a “guarimba”, o fechamento de ruas e avenidas se valendo de barricadas construídas com a queima de lixo. Em Caracas, esse tipo de expediente tem sido adotado acompanhado de panelaços em bairros da zona leste, de classe alta e antichavistas. Na noite de sexta-feira, um desses bloqueios vitimou um militante chavista, que, sobre uma moto, passou por uma barreira de arame e acabou degolado. A noite deste domingo foi a primeira em uma semana em que não ocorreram fechamentos. Na véspera, assim que surgiram os bloqueios, motoqueiros passaram removendo-os e atirando para assustar moradores.

A sondagem apresentada pelo presidente indica que 7,4% dos entrevistados são a favor da continuação dos protestos. Percentual parecido deseja sua saída imediata do governo, a principal bandeira da oposição, que tenta aproveitar o momento de problemas na economia, com inflação e desabastecimento de produtos básicos. A maior parte da população, 54%, deseja que Maduro fique até o fim do mandato, em fevereiro de 2019, e 32% entendem que se deve promover em 2016 um referendo para decidir se ele segue no cargo ou não – um expediente previsto na Constituição.

“Vem, Capriles, e dê um passo pela paz. Temos diferenças. Você é capitalista, eu não, sou socialista. Você acredita na democracia de uns líderes reunidos. Eu acredito na democracia direta, do povo”, disse o presidente durante a entrevista. Maduro deu sinais de atender a duas demandas que vêm colaborando para a continuação das marchas. Em passo muito parecido ao tomado por Dilma Rousseff em meio às manifestações de junho, pretende conversar com os governadores a respeito da aceleração de obras consideradas importantes e sobre caminhos para resolver a questão da violência, que vem crescendo nos últimos meses.

Ao mesmo tempo, Maduro reiterou a ideia de que é vítima de uma articulação complexa para retirá-lo do Palácio de Miraflores. “Não é uma campanha mais de conspiração nem uma jornada mais de guarimba. É um golpe de Estado continuado, decidido nos círculos de poder dos Estados Unidos, comungado com as cúpulas empresariais da Venezuela e dirigido e conduzido na rua por um setor da extrema direita.”

Os atos de sábado em Caracas terminaram sem episódios graves de violência, o que pôde ser encarado no governo como um sinal positivo de desmobilização dos setores mais truculentos. Mas, em Táchira, na fronteira com a Colômbia, um dos principais centros da oposição, um rapaz tentou passar por uma guarimba e foi esfaqueado, transformando-se na 11ª vítima das marchas. “Fomos apagando a insurreição golpista da extrema direita, sua intolerância e seu ódio, mas as chaminhas estão por aí e desde o exterior tratam de avivá-las com mentiras permanentes. Nós, sem lugar a dúvidas, vamos terminar de apagá-las.”

Além da reunião com governadores, Maduro recebe neste domingo um grupo de motoqueiros, projetado em 10 mil participantes, para conversar sobre o processo de paz no país. No sábado, o presidente disse que as organizações do setor ligadas a Chávez foram convencidas por um de seus ministros a não vingar a morte ocorrida na noite anterior. Agora, a ida ao palácio ganha importância não apenas por este fato, mas por se tratar de um segmento muito conectado ao governo e conhecido por seu potencial de violência.

Na quarta-feira Maduro promete encabeçar a primeira etapa de uma conferência nacional de paz. No estilo chavista, a conferência terá depois etapas setoriais e regionais, de modo a debater soluções que possam encerrar não apenas os protestos com mortes, mas diminuir os problemas relacionados à criminalidade.

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