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Capriles não participa de reunião de governadores convocada por Maduro

Em meio aos protestos na Venezuela, objetivo do encontro de ontem era falar de paz, segundo presidente. Aumenta número de mortos em conflitos na rua

EFE/Miguel Gutiérrez

Manifestações contra o governo venezuelano continuam em Caracas, com barricadas

Caracas – O governador do estado venezuelano de Miranda e candidato derrotado na última eleição presidencial, Henrique Capriles, não compareceu à reunião extraordinária do Conselho Federal de Governo de ontem (24), convocada por Nicolás Maduro com todos os governadores do país.

O início da reunião dos governadores foi conduzido pelo vice-presidente, Jorge Arreaza. Mas também contou com a presença de Maduro. Arreaza afirmou que esta é a segunda ausência de Capriles “sem justificativa” e lembrou que é “dever” do governador assistir às plenárias do Conselho Federal de Governo, segundo a Constituição, “a menos que haja uma causa maior”.

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O vice-presidente afirmou que se fará um estudo detalhado dos projetos que devem ser desenvolvidos no estado para uma redistribuição de recursos e responsabilidades entre entidades políticas e territoriais. “Não vamos deixar o povo de Miranda sem seus recursos”, esclareceu.

Em coletiva na tarde de ontem, Capriles classificou o governo de “moribundo” e questionou: “Como vou ao Conselho Federal de Governo enquanto continuam reprimindo?” Segundo ele, “o Palácio de Miraflores não é cenário hoje para um processo de pacificação, porque é um espaço de conflito”, e Maduro somente queria um “aperto de mãos para dizer ao mundo que tudo está bem”.

Na última quinta-feira, Maduro convocou os opositores a comparecerem à reunião. “Aí te espero, [Henrique] Capriles, aí te espero, Henry Falcón, aí te espero, Liborio Guarulla. Não sigam fugindo do diálogo, não sigam fugindo de seu trabalho, aí os espero para falar de paz (…) Eu os convoco como chefe de Estado, última convocatória”, dissera o presidente aos governadores de Miranda, Lara e Amazonas, respectivamente.

O chamado ao diálogo se dá em meio à intensificação de protestos no país e a instalação de barricadas com fogo e, até mesmo, arames em várias cidades. Na última sexta, um jovem morreu degolado ao não ver uma das barricadas. Ontem, a fiscal da Promotoria Geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, confirmou 13 mortes vinculadas aos protestos desde o dia 12 de fevereiro, além de 149 feridos.

Em coletiva de imprensa, Díaz afirmou que seis mortes ocorreram em Caracas, três no estado de Carabobo, uma em Sucre, uma em Lara e uma em Mérida. Ainda de acordo com a promotoria, três funcionários do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional) estão detidos por suposta vinculação com duas mortes no dia 12 de fevereiro, quando um chavista e um opositor foram mortos no centro da capital.

A promotora negou a veracidade da denúncia de que um estudante foi violado com um fuzil por forças de segurança, que o Foro Penal Venezuelano – organização que congrega advogados que acompanham os casos de desrespeito aos direitos humanos no país – ratifica com supostos exames médicos. Díaz afirmou que a denúncia não foi realizada no tribunal e que o exame médico forense determinou que o fato não ocorreu. A promotora disse, no entanto, que há funcionários detidos por supostas agressões contra o manifestante.

Também ontem, Maduro afirmou que um “mercenário trazido do Oriente Médio” foi capturado no estado de Aragua. “Estavam preparando colocar carros-bomba para encher nosso país de violência e tentar nos levar a uma loucura como na Líbia ou como levaram a algumas cidades da Síria”, afirmou. Segundo ele, o homem tinha 11 telefones internacionais e se movia por condomínios residenciais de classe média alta de Maracay, capital de Aragua.

O governador de Aragua, Tareck El Aissami, escreveu no Twitter que o homem capturado é Jayssam Mokded e que há “provas contundentes” de que preparava atos terroristas. “Suas contas bancárias são impressionantes”, garantiu, complementando que um veículo blindado, 13 equipamentos eletrônicos, comprovantes de transferência de centenas de milhões de dólares aos Estados Unidos e outros destinos, além de documentos que o vinculam a uma empresa radicada em Miami, foram confiscados.

El Aissami também afirmou que o homem tinha um artefato explosivo, pólvora e logística para barricadas. “Foi detido em Maracay, às 4 da manhã, em companhia de outras duas pessoas, das quais uma tem preparação militar”, escreveu.

No domingo (23), Maduro disse em entrevista ao canal de teelvisão multiestatal Telesur que solicitaria ao Legislativo a instalação de uma “Comissão da Verdade” para investigar “toda a violência, as denúncias sobre este golpe de Estado em processo e as mentiras nacionais e internacionais, para desentranhar os monstros que ativaram para justificar a intervenção estrangeira na Venezuela”.