Chile

Antes de posse, Bachelet já enfrenta crise em coalizão por equipe educacional

Identificados com o movimento estudantil, deputados recém-eleitos lamentaram indicação de supostos opositores ao projeto de gratuidade

EFE/Ismael Francisco/POOL

Deputados oriundos do movimento estudantil chileno criticam equipe educacional do novo governo

Santiago – A mais de 30 dias para a posse de Michelle Bachelet, que acontecerá em 11 de março, deputados provenientes do movimento estudantil aumentaram nos últimos dias o tom nas críticas contra a equipe que dirigirá o Ministério da Educação.

Como resposta, Bachelet interrompeu seu primeiro fim de semana de férias e recebeu jornalistas em uma conferência improvisada às margens do Lago Carburga, próximo à casa de campo onde está hospedada. Ela defendeu as nomeações do futuro ministro Nicolás Eyzaguirre e da sua número dois, Claudia Peirano, conhecida por ter criticado a proposta de educação gratuita.

“Claudia participou da elaboração do meu programa de governo em educação, que pretende devolver a gratuidade à rede pública em um prazo máximo de dois anos no ensino fundamental e médio, e de seis anos no caso do ensino superior. Não tenho porque duvidar de seu comprometimento com as metas que nós estabelecemos”, afirmou a presidente eleita.

Novos parlamentares, Camila Vallejo, Karol Cariola, Giorgio Jackson e Gabriel Boric se reuniram no último sábado (01/02) para falar sobre os nomes anunciados para os dois principais cargos do Ministério de Educação, especialmente o caso de Claudia Peirano.

A economista é fundadora do Grupo Educativo, empresa que oferece assessoria a estabelecimentos educacionais privados. Peirano já foi coautora de um manifesto contra a gratuidade, junto com dois ex-ministros de Educação, Harald Beyer (do atual governo, de Sebastián Piñera) e Mariana Alwyn (governo de Ricardo Lagos Escobar).

A frustração com Peirano se somou à da semana anterior, com a escolha do também economista Nicolás Eyzaguirre para chefiar a pasta, devido à sua relação com o mundo privado e por ter sido o precursor de uma política de créditos educacionais criticada pelo movimento estudantil.

Idealizador do encontro, o líder da Esquerda Autônoma, Gabriel Boric, disse que o principal ponto em comum da conversa foi que “os quatro concordamos que os designados por Bachelet para o ministério não apontam na direção de uma reforma verdadeiramente transformadora”.

O ex-dirigente também se referiu ao fato de ser o único presente que não apoiou Bachelet durante a campanha presidencial (as comunistas Camila Vallejo e Karol Cariola aderiram desde o primeiro turno e Giorgio Jackson, da Revolução Democrática, no segundo). “Temos diferenças, mas também uma convicção comum, pois acreditamos e lutamos para que a educação seja um direito e não um negócio, e nesse aspecto sempre fomos aliados”, explicou Boric.

Camila Vallejo, líder das primeiras marchas de junho de 2011, e também recém-eleita deputada, fez coro às críticas de Boric, às que chamou de “inquietudes”. “São nomes que não coincidem com o que a cidadania expressou ao escolher a candidatura que prometeu uma reforma educacional profunda”, analisou.

A deputada comunista também pediu explicações sobre fundos que Claudia Peirano teria recebido como assessora: “existe uma denúncia de que sua empresa recebia fundos destinados à educação de crianças vulneráveis, isso deveria ser esclarecido o quanto antes”. O caso se refere a uma consultoria realizada junto ao governo regional da província de Los Lagos, no sul do Chile, na qual sua empresa recebeu 80 milhões de pesos (cerca de R$ 350 mil) e terminou sendo multada por atrasos e não cumprimento de metas.

Os ex-dirigentes estudantis não foram os únicos aliados que criticaram os futuros ocupantes do Ministério de Educação. Dentro da Nova Maioria (frente política criada por Bachelet em 2013, para substituir a antiga Concertação), surgiram críticas de todas as legendas, inclusive dentro do PDC (Partido Democrata Cristão), onde milita Claudia Peirano.

Foi a ex-ministra de Educação do primeiro governo de Michelle Bachelet (entre 2006 e 2010), a agora deputada Yasna Provoste, quem reconheceu o conflito gerado na coalizão, sobretudo por causa de Peirano. Ao comentar uma discussão da executiva do seu partido, realizada após a nomeação da subsecretária, Provoste contou que “não foi uma reunião fácil, mas terminamos respaldando a equipe escolhida pela presidente, trabalharão por um programa que prevê ampla reforma da educação. E isso é muito mais importante que os nomes”.

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