Em São Paulo

Ativistas pedem asilo para Snowden durante discurso de Dilma a catadores

Jovens levantaram cartazes e máscaras com rosto do homem que revelou sistema espionagem dos EUA. 'Presidenta tem obrigação de asilá-lo', defendem

Jorge Araújo/Folhapress

Para ativistas, não há motivo para que não se receba Snowden no Brasil, país com tradição em asilo diplomático

São Paulo – Bastou a presidenta Dilma Rousseff começar a discursar hoje (19) em São Paulo para que oito jovens levantassem de suas cadeiras. Vestidos de amarelo, destoaram da multidão de catadores de materiais recicláveis e moradores de rua presentes à solenidade do Natal Solidário, comemorado com a presidenta há três anos. Estrategicamente posicionado entre a imprensa e o palco, o grupo ergueu cartazes pedindo: “Asilo para Snowden já!”

Na hora da ação, estavam todos com o rosto coberto pela foto do técnico de informática que revelou o sistema de espionagem massiva mantido pelos Estados Unidos sobre cidadãos, empresas e instituições em todo o mundo. Em seguida, revelariam suas identidades para explicar o porquê do protesto.

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“Snowden escolheu o Brasil. Três países já o aceitaram, mas ele quer vir para cá. Não vemos razão para Dilma não recebê-lo”, explica Michael Freitas, diretor de campanhas da Avaaz, página que organiza um abaixo-assinado pela concessão de asilo ao ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana.

Freitas lembra que, em carta publicada na Folha de S. Paulo na terça-feira (17), Snowden agradece à presidenta Dilma Rousseff pela campanha que seu governo tem liderado nas Nações Unidas pela privacidade nas comunicações globais. Muita gente encarou o documento como um pedido de asilo político. No entanto, o jornalista Glenn Greenwald, interlocutor de Snowden, nega essa intenção.

Snowden se encontra atualmente na Rússia, onde recebeu asilo temporário. Ao permitir que o ex-espião residisse no país, porém, Moscou impediu que continuasse com suas revelações: é uma maneira de evitar conflitos diplomáticos com Washington. Em julho, Snowden enviou pedidos genéricos de asilo a 20 países, entre eles o Brasil. Na época, o Itamaraty disse que não se manifestaria sobre o assunto – e ainda não o fez. Até agora, apenas Venezuela, Bolívia e Nicarágua aceitaram recebê-lo.

“Temos uma tradição enorme na concessão de asilo político. Já concedemos até para ditadores de países vizinhos”, continua o diretor de campanhas do Avaaz, cuja petição já possui 57 mil assinaturas. “Queremos que a presidenta assuma a liderança desse movimento global e dê as boas vindas para Snowden. Ela tem todas as condições. E a população brasileira apoia o asilo. Não faz o menor sentido não concedê-lo.”

Além do Avaaz, também participaram da intervenção jovens do coletivo Juntos, ligado a entidades estudantis e ao Psol. “Snowden revelou que, em todo o mundo, o Brasil foi o país mais investigado pelas agências de espionagem dos Estados Unidos. Isso culminou no caso de espionagem sobre a Petrobras, sobre as comunicações pessoais da própria presidenta e sobre milhões de brasileiros”, explica Thiago Aguiar, 24 anos, membro do grupo. “É um sujeito apátrida, perseguido em todos os países.”

Para Aguiar, a concessão de asilo a Snowden permitirá que ele tenha liberdade de atuação e consiga dar prosseguimento à revelação dos documentos sigiloso que obteve na NSA. Assim, conclui, “poderemos saber a dimensão da espionagem dos Estados Unidos. Temos a convicção de que, se forem liberados, coisas muito importantes virão à tona, que prejudicam nossos direitos democráticos e a soberania nacional.”

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