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‘Sociedade francesa está à deriva’, diz ministra vítima de racismo

Christiane Taubira foi chamada de 'macaca' por grupo de jovens contrários ao casamento gay

Wikimedia Commons

Taubira: Milhões de pessoas são desafiadas quando eu sou chamada de ‘macaca’

São Paulo – A ministra da Justiça francesa, Christiane Taubira, fez duras críticas à sociedade de seu país em uma entrevista publicada nesta quarta-feira (06/11) no jornalLibération, na qual adverte que os recentes ataques racistas de que foi vítima são um risco à coesão social e que o repúdio em torno desse episódio foi demasiadamente brando.

“O que mais me assusta é que não houve uma voz que se levantasse de forma alta e forte para alertar sobre o estado de deriva que se encontra atualmente a sociedade francesa”, afirmou. “Esses ataques racistas são na verdade direcionados ao coração da República”.

Nascida em Caiena, na Guiana Francesa, ela também foi uma das responsáveis pela lei que leva seu nome, promulgada em 2001, que reconhece a escravidão e o tráfico de negros como crime contra a humanidade. “As vozes da consciência da sociedade francesa poderiam ter dito: cuidado, isto não é um episódio superficial, é um alerta. É a coesão social que está em jogo, a história de um país que está em causa”, disse.

Taubira ganhou destaque internacional por ter comandado o projeto de lei que autorizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo na França que, embora tivesse obtido apoio popular, também provocou forte oposição de setores conservadores.

A ministra afirma que casos semelhantes aos quais foi vítima precisam ser levados à Justiça. “O racismo não é uma opinião, é um crime (…) Mas a justiça não será suficiente para reparar as doenças profundas que estão minando nossa democracia. Milhões de pessoas são desafiadas quando eu sou chamada de ‘macaca’. Milhões de meninas sabem que poderão ser tratadas da mesma forma nos pátios das escolas durante os intervalos”. Para a ministra, a situação chegou ao ponto atual por culpa do principal partido de extrema direita do país, a Frente Nacional.

O caso

No último dia 25, Taubira foi alvo de um protesto racista na cidade de Angers (noroeste da França) por integrantes da organização “Manif pour Tous”, contrária ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Um grupo de adolescentes portando bananas gritava: “Para quem é a banana? É para a macaca!”. No dia 17 de outubro, ela já havia sido chamada de ‘macaca’ por Anne-Sophie Leclère, integrante da Frente Nacional, durante um programa de televisão: “preferia vê-la em cima dos galhos de uma árvore do que no governo”. Leclère foi imediatamente suspensa do partido, que tenta afastar sua imagem de casos de racismo.

Neta quarta-feira (06/11), um grupo ligado à juventude da Frente Nacional divulgou uma carta de repúdio aos ataques sofridos por Taubira em Angers. E acusou uma das manifestantes de ser prima de um deputado da direitista UMP (União por um Movimento Popular), principal partido da oposição e cujo eleitorado é disputado pela FN.

A mesma Frente Nacional entrou na Justiça contra a ministra quando ela afirmou anteriormente que, embora sua líder, Marine Le Pen, tente se mostrar como uma figura apresentável, a verdadeira ideologia do partido de extrema-direita é colocar “os negros nos galhos das árvores, os árabes no mar, os homossexuais no (rio) Sena e os judeus no forno”.

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