eleições do chile

Candidato que se diz não político embola eleição chilena e ameaça governista

Dependendo da pesquisa, o economista Franco Parisi se aproxima da segunda colocação, junto a Evelyn Matthei

Felipe Trueba/EFE

Parisi é economista, professor universitário, se diz “não político” e já se aproxima dos 20% das intenções de voto

Santiago – As pesquisas que medem a corrida presidencial chilena têm mostrado que a candidata governista, Evelyn Matthei, não consegue deslanchar – na que aparece melhor, ela tem 22%, o que mantém viva a possibilidade da favorita Michelle Bachelet, que sempre supera os 40% e pode vencer ainda no primeiro turno. Porém, segundo as estatísticas, não é a ex-presidenta que está freando a ascensão de Matthei – e sim o surgimento de um novo concorrente no segundo escalão da disputa.

Ele se chama Franco Parisi, é economista, professor universitário, se diz “não político” e já se aproxima dos 20% das intenções de voto. Dependendo da pesquisa, ele empata ou supera por pouco o progressista Marco Enríquez-Ominami e cria um cenário onde qualquer um dos três poderia ser o desafiante, caso a eleição seja decidida no segundo turno.

A candidatura começou a ganhar força depois que o primeiro candidato governista, Pablo Longueira, desistiu, e foi substituído por Matthei. A inércia da candidatura dela faz com que analistas acreditem que Parisi esteja absorvendo parte dos eleitores da candidata.

Postulante independente à presidência, Franco Parisi adquiriu notoriedade no país dando conselhos em programas de televisão sobre como economizar, como investir em ações e como não ser enganado em pequenos golpes financeiros. Assim, ganhou o apelido de “economista das celebridades”.

Ele lançou a candidatura presidencial em 2011, quase em simultâneo com os primeiros protestos do movimento estudantil, e desde então tem feito turnês pelo país com palestras-comícios, onde cobra cerca de R$ 65 para arrecadar fundos para sua campanha como candidato independente.

Se autoproclama “o inimigo das grandes corporações”, promete acabar com os abusos das empresas contra os consumidores e o abuso dos políticos sobre o Estado. Defende sua condição de “não político” como sua principal virtude: “não sou político, sou um professor que quer ser presidente”, é um de seus principais jargões.

Na semana passada, ele ofereceu um café da manhã para correspondentes estrangeiros. Veja os principais trechos da conversa com os jornalistas, do qual Opera Mundi participou:

Política

“As pessoas estão cansadas dos políticos tradicionais porque eles reproduzem as práticas daninhas que a maioria dos cidadãos quer que sejam eliminadas da política e da sociedade. Mas temos que começar pela política. Como? Elegendo um não político para presidente, alguém que represente o cidadão comum. Depois, fazendo com que as instituições públicas sejam administradas por profissionais de carreira e que não sejam mais cargos políticos. Eu quero que o meu chanceler seja o diplomata com o melhor currículo, não importa se tem partido ou não. No Serviço Eleitoral, na Receita, nas superintendências, sempre se deve priorizar uma pessoa com vasto currículo e que conhece a instituição melhor que ninguém. Chega de políticos ocupando lugares que devem ser de técnicos especializados.”

“Não ter um partido não me causa nenhum inconveniente. Se lembrarmos como foi o governo da Michelle Bachelet, e se virmos agora o do Sebastián Piñera, podemos perceber que os maiores problemas que eles tiveram no Congresso foi com as bancadas governistas, que deveriam ser seus principais colaboradores.”

Constituição

“Eu vou mudar a Constituição através de uma assembleia constituinte. Gosto muito do exemplo de como o Equador mudou sua constituição. Li muito sobre o processo impulsado pelo presidente Correa e acho que podemos fazer o mesmo aqui no Chile. E também buscar as mesmas prioridades dos equatorianos, garantir os direitos do meio ambiente, e o direito das pessoas, e não das empresas, de usufruir desse meio, garantir os direitos dos povos originários, entre outros aspectos.”

Relações internacionais

“O Chile acredita na integração regional e está aberto a todo tipo de associação, sempre que isso também gere algum benefício concreto para o país. Não é nada contra a Aliança do Pacífico nem contra outros grupos desses, somente temos que ter claro o que estamos ganhando ao fazer parte de cada um deles. Eu adoraria, por exemplo, que fossemos um integrante pleno do Mercosul, mas isso tem que ter um sentido. Se for só para engordar o bloco e não trazer nenhum benefício para o país, não me interessa.”

“Acho que as relações internacionais também precisam passar por outro nível, na América Latina, não ser somente entre governos, ou entre instituições e empresas. Precisa haver uma relação mais aberta e mais livre entre os cidadãos. Que um chileno possa ir a qualquer país do continente sem precisar de passaporte, somente com o documento do seu país, e o mesmo com os cidadãos dos países da região que queiram vir ao Chile. As pessoas precisam sentir que a integração envolve a vida delas também.”

Educação: Senado universitário

“A educação pública deve ser gratuita. Isso não significa acabar com os entes privados, que também contribuem para com o sistema, mas os colégios que forem públicos têm que ser gratuitos, e tem que haver uma prioridade do estado em melhorar o nível da educação nesses estabelecimentos públicos, sobretudo no interior do país. Quero que as melhores escolas e universidades sejam as de fora de Santiago, que sejam o impulso para o desenvolvimento regional.”

“Nós vamos criar o senado universitário, para que o sistema de educação superior seja supervisionado pelos próprios integrantes da comunidade acadêmica. O senado universitário será tripartite: terá representantes dos estudantes, dos professores e dos funcionários de todas as universidades do país, todos deliberando sobre o sistema no qual funcionam as faculdades, as formas de aperfeiçoá-lo etc. Também estarão responsáveis por combater os lucros com uso de dinheiro estatal, e com maior poder de atuação em casos que sejam descobertos.”

Casamento gay

“Sou católico desses que não vão à missa. Minhas decisões não são pautadas pela Igreja. Acredito no direito ao matrimônio civil pelos casais homossexuais, o que não significa que vamos obrigar as igrejas que não acreditam nisso a aceitarem. O Estado é que não pode fazer essa diferenciação. Contra o aborto, acho que é aceitável em casos de violência sexual ou em casos de riscos pra saúde da mãe ou do bebê.”

Reforma tributária

“Acabarei com o fundo de utilidades tributárias, que só beneficia as grandes empresas e as ajuda a tributar sobre um lucro estimado e não o lucro real dessas empresas. Voltaremos a ter tributação especial sobre investimento estrangeiro, mas de forma responsável, sem que isso seja uma ameaça ao investidor – somos um país estável e podemos oferecer garantias de regras claras e justas, o que manterá os recursos investidos no país. Com essas medidas poderemos baixar significativamente os impostos sobre produtos, principalmente os da cesta básica, e outros que atingem o consumidor.”

Recursos naturais

“Gostaria de renacionalizar o cobre, mas isso é impossível, porque temos contratos assinados que, se não cumprimos, poderemos arcar com consequências desastrosas, mas posso assegurar que no caso do lítio a história vai ser diferente. Eu vou fazer uma aposta na Codelco, nossa empresa estatal de mineração, para que ela seja a principal exploradora do lítio nacional, e que o país consiga grandes avanços econômicos e tecnológicos através dessa atividade.”

Leia também

Últimas notícias