Nova York

Vannuchi afirma que Dilma deve manter soberania e comedimento na ONU

Colunista da Rádio Brasil Atual vê como melhor para o Brasil discurso que evita linguagem anti-EUA ao mesmo tempo em que exige igualdade nas relações, 'mortal para os norte-americanos'

ONU

Desde 1947, por tradição, cabe ao Brasil o discurso de abertura, que pode pautar as falas seguintes

São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi considera que Dilma Rousseff deve manter o tom de comedimento em seu discurso amanhã (23), na abertura do encontro de chefes de Estado da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Durante a fala, a presidenta deve abordar as denúncias sobre o esquema de espionagem montado pelos Estados Unidos, cobrando uma governança global em torno do tráfego de informações. “É mais provável que a presidenta Dilma, aborde a questão, mas não aborde na base do xingamento, até porque, se ela toca mais de leve, ela tende a crescer como estadista. Ela deve abordar as questões internacionais”, avalia o colunista da Rádio Brasil Atual.

Vannuchi compara a atitude da diplomacia brasileira nos governos Lula e Dilma com aquela que se praticava até a gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). “O Brasil tem uma posição de firme soberania e independência em relação aos Estados Unidos e é a primeira vez na história que uma política desse tipo dura dez anos. O Brasil sempre foi uma espécie de satélite: gostava de girar em torno dos Estados Unidos”, disse.

Em seu comentário de hoje, o analista comparou também a retórica adotada nas administrações federais do PT (2003-2013) com as dos outros governos de esquerda latinoa-americanos. Para ele, o Brasil, “até pelo seu peso”, deve evitar uma linguagem anti-Casa Branca. “O Brasil tem o maior interesse em estreitar relações com os Estados Unidos pela sua importância política, econômica, cultural etc, porém exige igualdade nas relações. Esse sim é o discurso mortal para os norte-americanos.”

Tradicionalmente, cabe ao Brasil o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU. Em 2011, Dilma se tornou a primeira mulher a inaugurar os trabalhos em Nova York, após 54 anos de sessões. O tema definido para este ano é “Agenda de desenvolvimento pós-2015: preparando o terreno”, que busca dar sequência às discussões promovidas durante a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada ano passado no Rio de Janeiro. Mas, além dessa questão central, espera-se que os 193 chefes de Estado abordem outros temas. Dois serão tocados pela presidenta brasileira: o esquema de espionagem norte-americano e a intenção do governo Barack Obama de atacar militarmente a Síria.

As denúncias de que Dilma e a Petrobras foram vítimas da agência de segurança dos Estados Unidos levaram ao cancelamento da visita que a presidenta faria à Casa Branca em outubro, onde seria recebida na condição de visita de Estado, o grau mais alto da diplomacia para uma missão presidencial. Na última semana, o Palácio do Planalto anunciou a decisão do governo com o argumento de que a espionagem leva atenta à soberania nacional e dos direitos individuais. “Tendo em conta a proximidade da programada visita de Estado a Washington – e na ausência de tempestiva apuração do ocorrido, com as correspondentes explicações e o compromisso de cessar as atividades de interceptação – não estão dadas as condições para a realização da visita na data anteriormente acordada”, manifestou o comunicado emitido pela Presidência.

Para Vannuchi, trata-se de uma decisão acertada, mesmo que contrarie a possibilidade de que a presidenta tivesse alguns dias de exposição positiva nas mídias nacional e internacional. “Prevaleceu uma posição que, de longe, parece certamente a mais acertada, tanto é que rachou a própria oposição no Brasil. Os senadores elogiaram, disseram que tinha que ser isso mesmo, e a mídia, tão hostil, tão inimiga da Dilma, ficou quieta e apoiou, dizendo que, de fato, era uma situação constrangedora.”

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