Caso NSA

Obama ‘entende e lamenta’ cancelamento de viagem de Dilma aos EUA

Em nota, Casa Branca diz que visita de Estado não poderia ser 'ofuscada' por apenas uma questão. Presidente reitera que está empenhado no caso, mas que mudanças podem demorar meses

Fernando Bizerra Jr/EFE

Obama se reuniu com Dilma durante o G-20, quando prometeu se empenhar pessoalmente no caso

São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, manifestou por meio de nota compreender a decisão de Dilma Rousseff de cancelar a visita que faria no próximo dia 23 a Washington. No comunicado, emitido minutos depois da confirmação pelo Palácio do Planalto, o norte-americano destaca que os temas de cooperação bilateral não serão afetados e que mais adiante, de comum acordo, será fechada uma nova data para uma missão de Estado, o grau mais alto da escala diplomática do país.

“O presidente disse que ele entende e lamenta as preocupações que supostas atividades de inteligência dos EUA geraram no Brasil e deixou claro que está empenhado em trabalhar em conjunto com a presidente Dilma Rousseff e seu governo nos canais diplomáticos para superar esta questão como uma fonte de tensão em nossa relação bilateral”, diz o comunicado, lido pelo porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. Obama afirmou ainda que, como disse anteriormente, está empenhado pessoalmente na correção das violações cometidas pelos serviços de espionagem, mas que este processo pode tomar vários meses.

Ontem, Obama e Dilma tiveram uma conversa telefônica a respeito da possibilidade de cancelamento da visita, hipótese que foi confirmada hoje pelo Planalto. Em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirma que “as práticas ilegais de interceptação das comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros do governo brasileiro constituem fato grave, atentatório à soberania nacional e aos direitos individuais, e incompatível com a convivência democrática entre países amigos”.

Já a nota da Casa Branca destaca que o status dado à visita reflete a importância que Obama dá à “crescente parceria global” entre os povos dos Estados Unidos e do Brasil, e que a visita “não deveria ser ofuscada por uma única questão bilateral, não importa quão relevante ou desafiador o problema possa ser”.

Dilma e Obama tiveram reunião privada durante a cúpula do G20, no último dia 6, em São Petersburgo, na Rússia. Após o encontro, a presidenta disse a jornalistas ter dito ao norte-americano que ficava em situação muito desconfortável ao receber informações sobre as denúncias por meio de reportagens e esclareceu que queria saber “tudo, tudinho” a respeito do esquema e de como ele era usado para bisbilhotar a vida de brasileiros. “A minha viagem a Washington depende das condições políticas a serem criadas pelo presidente Obama”, explicou, na ocasião.

Os Estados Unidos vêm mantendo o discurso de que o rastreamento visa unicamente a garantir a segurança do país, versão que não convence o Palácio do Planalto, especialmente após as revelações de que Dilma e a Petrobras foram vigiados. Quando o programa Fantástico, da Rede Globo, revelou que a NSA havia vasculhado informações da petrolífera, a presidenta emitiu nota reiterando a gravidade das denúncias trazidas à tona. “Sem dúvida, a Petrobras não representa ameaça à segurança de qualquer país. Representa, sim, um dos maiores ativos de petróleo do mundo e um patrimônio do povo brasileiro”, disse.

A gravidade das denúncias se tornou maior porque as informações começaram a surgir logo em seguida a uma viagem do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a Washington, ainda em agosto. Cardozo chegou ao Brasil numa sexta-feira, e o esquema de espionagem de mensagens da presidenta veio à tona em um domingo.

Na última semana, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado foi a Washington para um encontro com a assessora de segurança nacional dos Estados Unidos, Susan Rice. Em nota, o governo americano disse naquele momento que “expressou ao ministro Figueiredo que os Estados Unidos compreendem que as recentes revelações à imprensa – algumas das quais distorceram nossas atividades e outras provocaram questões legítimas por nossos amigos e aliados – criaram tensões na muito estreita relação bilateral com o Brasil.”

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