'Escravidão moderna'

Entidade critica silêncio da Fifa com mortes em obras da Copa do Catar

Segundo CSI, apenas em julho morreram 33 operários vindos do Nepal. Jornal britânico fala em pelo menos 44, sem contar os submetidos a condições degradantes ou escravidão

STEFFEN SCHMIDT/EFE

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São Paulo – A Confederação Sindical Internacional (CSI), à qual são filiadas as brasileiras CUT, Força Sindical e UGT, criticou a postura da Federação Internacional de Futebol (Fifa) em relação aos trabalhadoras em obras da Copa do Mundo de 2022, no Catar. “Ninguém deveria pagar com a vida para que a Copa seja um êxito esportivo e comercial”, afirma a secretária-geral da entidade, Sharan Burrow. Segundo ela, “1,2 milhão de trabalhadores migrantes se veem forçados a trabalhar em temperaturas extremamente elevadas”. Apenas em julho, diz a CSI, falando em “escravidão moderna”, 32 nepalenses morreram devido ao calor, muitos deles jovens de 20 a 30 anos. O jornal britânico The Guardian fala em pelo menos 44 mortes de 4 de junho a 8 de agosto, a maioria de ataque cardíaco.

De acordo com a entidade sindical, os trabalhadores vindos do Nepal representam ao menos a metade de migrantes no Catar. “Informes por parte de outros países indicam números parecidos de trabalhadores que também estão perdendo a vida”, diz nota da CSI. A confederação afirma que a falta de proteção e direitos têm causado, em média, pelo menos uma morte por dia.

Nos próximos 3 e 4 de outubro, o Comitê Executivo da Fifa se reunirá em Zurique para discutir as datas da Copa de 2022. A preocupação com o calor no país asiático abriu um debate sobre a possibilidade de transferir o torneio para o inverno. No verão, as temperaturas se aproximam dos 50 graus. A organização da Copa já informou estar empenhada em uma tecnologia de resfriamento.

Sharan afirmou que o movimento sindical compreende as preocupações com a saúde e segurança de jogadores e espectadores, mas acrescentou que os dirigentes estão “profundamente decepcionados” pelo fato de a entidade não considerar uma situação “muitíssimo mais grave”, relacionada à situação dos trabalhadores responsáveis pelas obras de infraestrutura.

“O Catar disse que serão necessários de 500 mil a 1 milhão de trabalhadores a mais para construção da infraestrutura da Copa – um aumento de mão de obra superior 30%. Se nada mudar, podemos antecipar um aumento parecido nas quantidades de mortos”, afirma a secretária-geral. “É preciso que a Fifa envie uma mensagem muito clara e firme ao Catar, expressando que não permitirá que a Copa aconteça às custas de um sistema de escravidão moderna que constitui a realidade atual de centenas de milhares de trabalhadores migrantes naquele país. Sem as mudanças necessárias, haverá mais trabalhadores morrendo na construção de instalações da Copa do que jogadores nos campos de futebol da Copa.”

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