Cúpula do G20

Brics criticam espionagem norte-americana e concretam fundo próprio de reservas

Dilma Rousseff teria explicado a seus pares de China, Índia, Rússia e África do Sul recentes revelações de espionagem sobre seu governo

Sergei Karpukhin/Efe

Fundo dos Brics terá US$ 100 bilhões de dólares. Cada país terá um valor a aportar

São Paulo – Em encontro paralelo à Cúpula do G20, hoje (5), em São Petersburgo, na Rússia, os líderes dos países membro do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) discutiram temas de economia e a espionagem norte-americana. E o secretário de imprensa da presidência russa, Dmitry Peskov, “a espionagem digital dos Estados Unidos em assuntos internos de outros países é uma manifestação de terrorismo”.

Segundo o porta-voz do governo brasileiro, Thomas Traumann, a presidenta Dilma  Rousseff fez, durante a reunião dos Brics, um breve relato sobre a espionagem norte-americana ao Brasil. Um dos principais alvos do monitoramento de Washington, segundo o programa Fantástico, da Rede Globo, Dilma deve conversar diretamente com Barack Obama sobre o tema durante essa visita à Rússia.

Existe a possibilidade de que Dilma cancele sua viagem oficial a Washington, marcada para outubro, caso não receba explicações convincentes sobre o monitoramento. O governo brasileiro espera que Barack Obama se desculpe pela espionagem ou ao menos apresente novas justificativas. Não colou a explicação de que os Estados Unidos monitoram e-mails e telefonemas para “conhecer melhor o mundo”, como disse ontem o norte-americano.

Na reunião, os líderes dos Brics também reclamaram que, apesar da lenta recuperação da economia mundial, os países desenvolvidos poderiam fazer mais para impulsionar a demanda global e a confiança do mercado. A estagnação do processo de reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) também foi discutida, que ocorreu a portas fechadas. Segundo os representantes dos Brics, é “necessária a urgente implementação da cota FMI e a reforma de governança de 2010”.

A questão cambial foi outro assunto de destaque na reunião. As preocupações expressas na Cúpula dos Brics em Durban, na África do Sul, em março deste ano, foram reiteradas pelos líderes na Rússia, Índia, China e Brasil. Eles enfatizaram que a normalização da política monetária precisa ser eficaz e cuidadosamente calculada e comunicada. Há medo de que medidas não convencionais, adotadas por nações desenvolvidas, afetem de maneira negativa os países em desenvolvimento.

Os Brics disseram estar ansiosos para a 9ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), que será realizada em dezembro deste ano, em Bali, Indonésia. Há uma forte expectativa de um destravamento da Rodada de Doha. O novo diretor-geral da OMC é o brasileiro Roberto Azevêdo, que, em entrevista à Rádio ONU, hoje, afirmou que “é preciso uma conversa franca e desarmada com os países membros para tentar encontrar soluções”. “Numa negociação, todo mundo tem que ceder”, defendeu, “é um exercício permanente de dar e receber.”

A Rodada de Doha é um ciclo de negociações multilaterais iniciadas em Doha, no Qatar, em 2001, que defende a liberalização do comércio mundial, diminuindo barreiras comerciais e medidas de proteção econômicas. No entanto, os interesses de cada país, principalmente na proteção ao setor agrícola, impediram que o diálogo avançasse.

Um dos pontos mais importantes do encontro paralelo dos Brics foi o avanço na criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Acordo de Reserva de Contingência.  O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) contará com um capital inicial de 50 bilhões de dólares (cerca de R$ 116 bilhões).

Com o Acordo de Reserva de Contingência (CRA, na sigla em inglês), também houve importantes progressos depois das recentes reuniões. Conforme previamente discutido, o fundo será, inicialmente, de 100 bilhões de dólares (R$ 232 bi) e cada país terá um valor a aportar – China, US$ 41 bi; Brasil, Índia e Rússia, US$ 18 bi cada e a África do Sul, US$ 5 bi.