Sem conclusão

Após reunião, EUA reconhecem preocupações ‘legítimas’ do Brasil sobre espionagem

Conciso, comunicado lida pela assessora de Segurança Nacional norte-americana após encontro com chanceler diz ainda que trabalho da inteligência tem sido distorcido pela imprensa

Pete Souza/Casa Branca

Obama ainda deve explicações a Dilma sobre as denúncias de espionagem dela e da Petrobras

São Paulo – Planalto e Itamaraty ainda não se pronunciaram sobre a reunião realizada ontem (11) em Washington entre o chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado e a assessora de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Susan Rice, e por enquanto não pretendem comentar o caso, mas, aparentemente, a administração Barack Obama ainda não atendeu aos pedidos de Dilma Rousseff.

Durante a cúpula do G20, em São Petersburgo, a presidenta disse ao colega que queria saber “tudo, tudinho” sobre as denúncias de espionagem norte-americana sobre cidadãos brasileiros, ela própria e a Petrobras. Os indícios foram publicados pela TV Globo nas últimas semanas a partir de documentos ultrassecretos vazados pelo ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, Edward Snowden.

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Em nota lida por sua porta-voz após a reunião, Susan Rice disse apenas que considera “legítimas” as preocupações do Brasil em relação aos programas de inteligência do país. Mas não deixou de ressalvar que muitas das denúncias divulgadas pela imprensa, apesar de estarem baseadas em apresentações oficiais da NSA, estão sendo distorcidas pelos jornalistas.

“A assessora de Segurança Nacional expressou ao ministro Figueiredo que os Estados Unidos compreendem que as recentes revelações à imprensa – algumas das quais distorceram nossas atividades e outras provocaram questões legítimas por nossos amigos e aliados – criaram tensões na muito estreita relação bilateral com o Brasil.”

Em São Petersburgo, Barack Obama havia se comprometido “pessoalmente” com os esforços diplomáticos para aplacar o descontentamento de Dilma Rousseff. A presidenta está irritada com as evidências de que as agências norte-americanas bisbilhotaram suas comunicações pessoais com assessores, além de terem realizado espionagem industrial sobre a estatal Petrobras.

Poucos dias antes das novas revelações, a Casa Branca havia “garantido” ao Brasil que monitorava as telecomunicações globais apenas para garantir sua segurança nacional, e jamais para obter vantagens comerciais. No entanto, o jornalista responsável pela publicação dos documentos, Glenn Greenwald, afirma desde o início a vocação também econômica da espionagem norte-americana.

De acordo com a porta-voz de Susan Rice, “os Estados Unidos estão comprometidos a trabalhar com o Brasil para encarar estas preocupações, enquanto seguimos trabalhando de maneira conjunta em uma agenda compartilhada de iniciativas bilaterais, regionais e globais.” Até agora, mais de dois meses depois das primeiras denúncias, esse “comprometimento” não tem produzido resultados práticos.

Pelo contrário, Dilma manifestou em São Petersburgo que não deseja continuar sendo informada pela imprensa sobre a espionagem norte-americana. E já deu sinais de que poderá cancelar sua visita oficial a Washington, marcada para 23 de outubro, se Obama não criar as “condições políticas” para sua viagem.

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, que ocorre em Nova York no final do mês, a presidenta deverá defender um novo modelo de governança das telecomunicações e da internet, hoje concentrada nos Estados Unidos, onde foi criada e floresceu. Washington é radicalmente contrário à ideia de compartilhar a administração da rede mundial de computadores.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também voltou a criticar o monitoramento de informações confidenciais do governo e de empresas brasileiras. “Nós precisamos levar a sério a democracia neste mundo globalizado. Precisamos discutir a governança global”, disse ontem (11) durante os Diálogos Capitais, em São Paulo. “Pode, por acaso, o senhor Obama e seu sistema de inteligência ficarem bisbilhotando as conversas da nossa presidenta? Em nome de que democracia? Qual foi a decisão judicial que deu permissão? Qual foi o delito que Dilma cometeu?”

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