dipolomacia

Após denúncias de espionagem, Dilma antecipa viagem para cúpula do G20

Presidenta chega hoje à Rússia, onde deverá discutir o tema com Barack Obama

Arquivo RBA

Dilma pretende conversar sobre ações conjuntas após denúncias de ações que ferem a soberania dos países

São Paulo – Em meio à crise diplomática com os Estados Unidos, a presidenta Dilma Rousseff antecipou em 24 horas sua programação e viajou ontem (2) para São Petersburgo, na Rússia, onde participará da 8ª Cúpula do G20, grupo de países que reúne as maiores economias mundiais. Dilma partiu de Brasília às 22h de ontem para um voo de cerca de 15 horas até a cidade russa. O avião presidencial deverá fazer uma parada de uma hora e meia em Las Palmas, na Espanha, para reabastecimento.

De acordo com assessores da Presidência, as recentes denúncias de espionagem por agências norte-americanas, das quais Dilma teria sido alvo, também estarão em pauta – no último domingo (1º), o programa Fantástico, da TV Globo, mostrou que a presidente, seus assessores, e o então candidato à Presidência do México, Enrique Peña Nieto, tiveram seus dados pessoais invadidos. Na cúpula, ela deverá se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de quem o governo brasileiro cobrou explicações sobre as denúncias.

Oficialmente, o tema não consta na pauta da cúpula e não há informações sobre reuniões bilaterais da presidenta com outros chefes de Estado antes da abertura do encontro com o G20. Mas esta não é a primeira denúncia que envolve espionagem dos Estados Unidos em outros governos e empresas de diversos países.

“Vamos conversar com parceiros tanto de países desenvolvidos como dos Brics”, diz o chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado, para verificar como “eles se protegem” e que tipo de “ações conjuntas” podem ser tomadas. Ele concedeu uma coletiva ontem (2) ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Um dos documentos vazados dos órgãos de investigação norte-americanos coloca o Brasil numa espécie de lista de países que oferecem “riscos à estabilidade regional”. O grupo inclui ainda Turquia, Egito, Irã e México. “O Brasil é um país democrático, sólido, estável, numa região democrática. Está buscando convivência respeitosa e não pode admitir que seja considerado nem em sonho um país de risco”, disse Figueiredo.

Autoridades brasileiras relutam em comentar medidas práticas que o país venha a tomar em função do episódio. Por enquanto, segundo Cardozo, serão três as iniciativas: cobrar explicações imediatas e por escrito do governo norte-americano, levar o episódio a organismos da ONU, e articular reação conjunta com outras nações vítimas do mesmo problema. Também está em estudo a criação de um “provedor de raiz” brasileiro, supostamente imune à espionagem estrangeira. Segundo o ministro, a resposta norte-americana às reclamações brasileiras pautará a reação seguinte do governo.

Programação

A previsão é que Dilma desembarque hoje (3) por volta das 18h no Aeroporto Internacional de São Petersburgo. Amanhã (4), ela terá agenda privada. Para a quinta-feira, estão previstas reuniões com o presidente da China, Xi Jinping, e com os chefes de governo do Brics, além de um jantar oferecido pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Na sexta-feira, ela participará do encontro dos líderes do G20 com empresários, executivos e sindicalistas dos mesmos países, o chamado B20 (Business Twenty), com o objetivo de reaquecer a economia mundial.

A presidente deverá retornar a Brasília a tempo de participar, no sábado (7), da celebração do Dia da Independência. A volta está programada para ser concluída na madrugada de sábado, a tempo de acompanhar o desfile oficial da Independência a partir das 8h45.

G20

Os temas divulgados na pauta da reunião multilateral na cidade russa serão o reaquecimento da economia global e estabilidade financeira, propostas de medidas para estimular o crescimento sustentável e equilibrado, cooperação tributária e incentivos para a geração de emprego e reformas estruturais, além de energia, desenvolvimento inclusivo e combate à corrupção. O agravamento da crise na Síria também deverá ser tema da cúpula.

Nas próximas quinta e sexta-feira, a presidenta terá reuniões também com os chefes de Estado e de governo dos Brics. Com eles, estão programadas discussões sobre a valorização do dólar e a crise financeira.

A Rússia está no comando do G20 até o ano que vem, quando entregará a presidência para a Austrália. O bloco, que engloba os países industrializados e as economias emergentes, reúne 90% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, 80% do comércio e dois terços da população do planeta.

Ao final da cúpula, os líderes políticos deverão assinar o chamado Plano de São Petersburgo, que é a declaração final, que servirá como base para os acordos do G20, definindo regulações financeiras a curto prazo e medidas para dar mais fôlego à economia mundial. O texto deverá incluir compromissos firmados pelo G20, já acertados em reuniões multilaterais, e estímulos para a geração de emprego, informam autoridades russas. Para que os compromissos sejam incluídos na declaração, é preciso haver consenso de todos os participantes.