América Latina

Senador que fugiu para o Brasil diz agora que perdoa Evo Morales

Diplomata que ajudou Roger Pinto Molina a fugir presta esclarecimentos no Itamaraty. Chanceler boliviano afirma que escapada é transgressão de normas nacionais e internacionais

EFE

O senador, que teve imagens divulgadas hoje por seu partido, dará entrevista amanhã em Brasília

São Paulo – O senador boliviano Roger Pinto Molina, que no fim de semana fugiu da embaixada do Brasil em La Paz para Brasília, emitiu hoje (26) uma carta em que transforma acusadores em acusados e ataque em defesa ao dizer que o narcotráfico, crime do qual é acusado, prejudica sua família e os valores da sociedade. “Ao presidente da Bolívia, Evo Morales Ayma, com o coração na mão, digo que o perdoo, por todo o dano que provocou a mim e a minha família”, disse o parlamentar, no documento enviado à Bolívia e divulgado por seu partido, o Convergência Nacional.

Roger Pinto aparentemente contou com a conivência de um funcionário diplomático brasileiro e viajou de carro oficial da embaixada desde La Paz até Corumbá, na fronteira com a Bolívia pelo Mato Grosso do Sul, onde chegou no último sábado. Hoje ele já está em Brasília, graças a ajuda do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), e promete conversar amanhã com a imprensa.

Na carta, o opositor de Morales acrescentou que seu “coração e sua consciência continuarão se rebelando e lutando contra o obscuro poder Morales que representa”. “Seguirei sendo um militante contra o narcotráfico que degrada minha Bolívia, que mata e destrói nossos valores. Contra a corrupção, o abuso de poder e a humilhação dos bolivianos que pensam diferente do senhor (Morales)”, escreveu.

Pinto Molina se apresentou na embaixada brasileira em La Paz no dia 28 de maio de 2012, já sob acusação de associação ao narcotráfico, corrupção e responsabilidade por um massacre de camponeses em 2008. Dez dias depois de ter sido recebido no edifício diplomático, recebeu do governo da presidenta Dilma Rousseff a condição de asilado político, mas a Bolívia se negou a conceder-lhe o salvo-conduto necessário para viajar ao Brasil, sob a alegação que ele deve responder a diversas acusações de corrupção.

O diplomata de carreira Eduardo Saboia, apontado como principal responsável pela saída do senador, esteve hoje no Itamaraty para prestar esclarecimentos. Saboia foi ouvido pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e pelo secretário-geral do Itamaraty, Eduardo dos Santos. Há possibilidade de ser aberto inquérito para apurar responsabilidades sobre a retirada do boliviano de La Paz. Com mais de 20 anos de carreira, Saboia é apontado como um profissional disciplinado, competente e dedicado.
Patriota foi chamado pela presidenta Dilma Rousseff para uma reunião agora à tarde no Palácio do Planalto para tratar do tema, informação que não foi confirmada pelo Itamaraty.

Já o chanceler boliviano, David Choquehuanca, disse hoje que o senador Roger Pinto, não poderia ter deixado o país “por nenhum motivo” sem um salvo-conduto, que não foi concedido pelo governo. As autoridades da Bolívia enviaram uma nota diplomática à embaixada do Brasil, expressando “profunda preocupação” com o caso.

“Na nota diplomática nós expressamos nossa profunda preocupação com a transgressão do princípio de reciprocidade e cortesia internacional. Por nenhum motivo o senhor Pinto poderia deixar o país sem o salvo-conduto”, disse Choquehuanca. Segundo ele, é necessário ter uma explicação oficial do Brasil sobre o tema porque “foram violadas normas nacionais e internacionais”.

“O amparo da imunidade diplomática não pode transgredir normas nacionais e internacionais facilitando neste caso a fuga, a saída irregular do país do senador Pinto. Pode ser um precedente ruim (…) se é que nós, amparados pela imunidade diplomática, vamos permitir esses atos ilegais”, disse.

Com informações da EFE, da Agência Brasil e do OperaMundi.