Governo

Patriota se demite após fuga de senador boliviano

Dilma Rousseff aceitou pedido e indicação do diplomata Luiz Alberto Figueiredo, que comandou negociações na Rio+20 e atualmente representa o Brasil nas Nações Unidas

Marcello Casal Jr/Arquivo ABr

Machado é funcionário de carreira do Itamaraty e comandou as negociações ano passado no Rio

São Paulo – O chanceler Antonio Patriota deixou o governo na noite de hoje (26), dois dias após a confirmação da fuga do senador boliviano Roger Pinto, que deixou a embaixada do Brasil em La Paz e está agora em Brasília.

Em nota, o Palácio do Planalto diz que o ministro das Relações Exteriores foi quem tomou a iniciativa de sair, e que Dilma Rousseff aceitou a indicação do embaixador Luiz Alberto Figueiredo, para ser o novo titular do Itamaraty. “A presidenta agradeceu a dedicação e o empenho do ministro Patriota nos mais de dois anos em que permaneceu no cargo e anunciou a sua indicação para a Missão do Brasil na ONU”, diz o comunicado. Patriota é o décimo segundo ministro a deixar o governo desde o início do mandato presidencial, em 2011 – a última demitida havia sido Ana de Hollanda, da Cultura, desligada em setembro de 2012.

Luiz Alberto Figueiredo Machado, nascido em 1955, entrou no Instituto Rio Branco em 1979. Na última década participou de negociações relacionadas à questão das mudanças climáticas, e comandou a Subsecretaria-Geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Itamaraty desde 2011. Ele comandou as negociações da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), realizada no ano passado no Rio de Janeiro, e teve uma condução considerada exitosa ao conseguir que as citações ao desenvolvimento sustentável e às questões sociais relacionadas à preservação ambiental ocupassem papel relevante no documento final do encontro. Em setembro passado, foi indicado por Dilma para representar o Brasil nas Nações Unidas, em Nova York.

Crise

Patriota se reuniu no Planalto com Dilma para explicar a operação que resultou na fuga de Roger Pinto Molina, acusado de associação ao narcotráfico, lavagem de dinheiro e de participação em um massacre de indígenas em 2008. Na fuga, o senador parece ter contado com a conivência do diplomata de carreira Eduardo Saboia, que está há poucos meses em La Paz. A saída da Bolívia foi feita em carro oficial da embaixada da capital até Corumbá, na fronteira boliviana com o Mato Grosso do Sul.

Pinto Molina se apresentou na embaixada brasileira em La Paz no dia 28 de maio de 2012. Dez dias depois de ter sido recebido no edifício diplomático, recebeu do governo da presidenta Dilma Rousseff a condição de asilado político, mas a Bolívia se negou a conceder-lhe o salvo-conduto necessário para viajar ao Brasil, sob a alegação que ele deve responder a diversas acusações de corrupção.

No domingo, pouco mais de 24 horas após a notícia vir à tona, o Itamaraty emitiu nota dizendo que convocou Saboia a Brasília para prestar esclarecimentos. “Não preciso de instruções específicas para situações de urgência”, justificou o funcionário, para quem a decisão da saída forçada de Molina era necessária em razão “do risco iminente à vida e à dignidade do senador”.

Hoje, o senador boliviano emitiu carta em que transforma acusadores em acusados e ataque em defesa ao dizer que o narcotráfico, crime do qual é acusado, prejudica sua família e os valores da sociedade. “Ao presidente da Bolívia, Evo Morales Ayma, com o coração na mão, digo que o perdoo, por todo o dano que provocou a mim e a minha família”, disse o parlamentar, no documento enviado à Bolívia e divulgado por seu partido, o Convergência Nacional.

Na carta, o opositor de Morales acrescentou que seu “coração e sua consciência continuarão se rebelando e lutando contra o obscuro poder que Morales representa”. “Seguirei sendo um militante contra o narcotráfico que degrada minha Bolívia, que mata e destrói nossos valores. Contra a corrupção, o abuso de poder e a humilhação dos bolivianos que pensam diferente do senhor (Morales)”, escreveu.

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