Diplomacia

Patriota afirma que caso de senador boliviano não pode se repetir

Novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo Machado foi empossado hoje (28), em Brasília. Em cerimônia, Dilma reforçou 'prioridade' da integração latino-americana para a política externa brasileira

Roberto Stuckert Filho/PR

Patriota lembrou que, durante seu mandato, país venceu todas as eleições para cargos internacionais

São Paulo – O diplomata Antonio Patriota afirmou hoje (28), no discurso em que se despediu do cargo de ministro das Relações Exteriores, que o caso do senador boliviano Roger Pinto Molina, trazido ao Brasil por um funcionário da Embaixada do Brasil em La Paz, não pode se repetir.

“A atuação independente do servidor em La Paz, em assunto de grande sensibilidade e sem instruções, representa conduta que não pode voltar a ocorrer”, disse Patriota. “O governo ofereceu proteção ao senador Roger Pinto Molina em estrito cumprimento de suas obrigações estabelecidas na Convenção de Caracas sobre asilo diplomático. Durante o período em que o senador esteve asilado na Embaixada do Brasil em La Paz, o governo brasileiro agiu sempre com respeito à soberania boliviana, sem deixar de buscar solução negociada juridicamente sólida que garantisse o trânsito seguro do senador ao território brasileiro.”

Já o novo ministro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, em discurso breve e morno disse que pretende aproximar o Itamaraty do Congresso Nacional e da sociedade civil – uma exigência crescente de sindicatos, movimentos sociais e entidades interessadas em participar dos rumos da política externa brasileira. “Comprometo-me, seguindo as diretrizes da presidenta Dilma Rousseff, a tornar o Ministério das Relações Exteriores cada vez mais útil ao parlamento e à sociedade civil.”

Figueiredo, que exercia as funções de embaixador do Brasil nas Nações Unidas, substitui Antonio Patriota, demitido na segunda-feira (26) após a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada em La Paz. Patriota, que agora será o chefe da representação brasileira na ONU, em Nova York, aproveitou a oportunidade para lembrar seus “feitos” como chanceler. Citou as viagens oficiais realizadas pela presidenta e por ele mesmo, além das visitas de chefes de Estado e ministros de Relações Exteriores a Brasília.

Leia também:

“Em minha gestão, o Brasil venceu todas as eleições que disputou em organizações internacionais”, recordou Patriota, em referência ao sucesso de José Graziano na corrida pela diretoria-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), de Roberto Azevedo, na Organização Mundial do Comércio (OMC), e de Paulo Vannucchi como membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). “Agradeço pela nova oportunidade que a presidenta me oferece ao indicar-me para chefiar a delegação do Brasil na ONU.”

O tom político da cerimônia ficou a cargo de Dilma Rousseff, que, depois de lançar elogios a ambos diplomatas e ao papel que o Brasil vem assumindo no cenário internacional, afirmou que as parcerias com países emergentes e, em especial, com os membros do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é cada vez mais estreita. A presidenta citou ainda a cooperação com a África e a prioridade que seu governo, apesar das críticas em contrário, continua dando à integração latino-americana.

“Somos doze países irmãos merecedores dos mesmos direitos democráticos, e que devem ser respeitados”, disse. “Fomos marcados por ditaduras e vivemos hoje um estágio de modernização política que nos distingue de outras regiões do mundo marcadas por conflitos étnicos e religiosos.” Dilma frisou que sente “orgulho” do Mercosul, da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). “São entidades fundamentais para continuarmos trilhando o caminho do desenvolvimento e fortalecimento da nossa democracia.”