Diplomacia

Itamaraty abre investigação sobre fuga de senador boliviano

Ministério convoca funcionário da embaixada em La Paz para prestar esclarecimentos sobre operação que trouxe parlamentar ao Brasil. Governo da Bolívia diz que relações bilaterais não serão afetadas

Arquivo ABI

Contra Pinto Molina há quatro mandados que o impedem de sair da Bolívia

São Paulo – O Itamaraty divulgou nota hoje (25) informando que vai investigar a maneira como o senador Roger Pinto Molina deixou a embaixada em La Paz para chegar ao Brasil. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores disse que soube ontem do ingresso em território nacional do parlamentar, acusado de cometer vários crimes, e que desde maio do ano passado aguardava no edifício diplomático brasileiro um salvo-conduto.

“O Ministério está reunindo elementos acerca das circunstâncias em que se verificou a saída do Senador boliviano da Embaixada brasileira e de sua entrada em território nacional. O Encarregado de Negócios do Brasil em La Paz, Ministro Eduardo Saboia, está sendo chamado a Brasília para esclarecimentos”, diz o comunicado.

Pinto Molina passou ontem pela fronteira entre Puerto Suárez e Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), revelou hoje que o senador deixou a embaixada em La Paz em carro oficial brasileiro, escoltado por fuzileiros navais, e que foi levado por terra até o lado brasileiro da fronteira, em uma viagem que durou 22 horas. Em Corumbá, Pinto foi recebido por agentes da Polícia Federal e de lá seguiu para Brasília em um avião privado enviado pelo próprio Ferraço.

A notícia levou o chanceler Antonio Patriota a cancelar uma viagem que faria à Finlândia. Ele e outros integrantes do alto escalão da diplomacia brasileira realizaram ontem uma reunião emergencial em Brasília.

Inicialmente, o governo boliviano adotou tom de cobrança, afirmando que o Brasil deveria explicar a situação. Hoje, a ministra de Comunicação, Amanda Dávila, concedeu uma entrevista coletiva para afirmar que o presidente Evo Morales mantém “afeto e respeito” pelo governo de Dilma Rousseff. “Este caso não afeta as relações com o Brasil. As relações da Bolívia com o Brasil se mantêm em uma situação de absoluta cordialidade e respeito. O governo boliviano e o presidente Evo Morales expressaram sempre, e seguirão o fazendo, todo o afeto e todo o respeito à presidenta Dilma Rousseff.”

Já o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, classificou a situação como um “ingrato episódio”. Na visão do governo boliviano, Pinto Molina deixou o país como um criminoso comum, questão que será levada em conta do ponto de vista jurídico para que o senador seja devolvido ao país de origem. “Essa fuga, obviamente, tem que ser explicada, tem que ser informada pelo próprio governo brasileiro. Não sabemos exatamente como foi feito, para isso existem nossas chancelarias”, criticou Quintana.

Pinto Molina se apresentou na embaixada brasileira em La Paz no dia 28 de maio de 2012, já sob acusação de associação ao narcotráfico, corrupção e responsabilidade por um massacre de camponeses em 2008. Dez dias depois de ter sido recebido do edifício diplomático, o governo da presidenta Dilma Rousseff lhe outorgou a condição de asilado político, mas a Bolívia se negou a conceder-lhe o salvo-conduto necessário para viajar ao Brasil, sob a alegação que ele deve responder a diversas acusações de corrupção.

Em junho passado o parlamentar foi condenado a um ano de prisão por um tribunal boliviano que o declarou culpado de danos econômicos ao Estado calculados em cerca de US$ 1,7 milhão. O governo boliviano sempre se negou a conceder o salvo-conduto necessário para que Pinto pudesse deixar seu país e vir ao Brasil, argumentando que ele não é um perseguido político, mas um acusado de corrupção.

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