Retorno dos Colorados

Cartes assume governo paraguaio e abre caminho para retorno ao Mercosul

Com Cartes, volta ao poder o Partido Colorado, que ocupou a presidência durante 61 anos consecutivos até serem derrotados por Fernando Lugo, derrubado por um golpe parlamentar no ano passado

Andrés Cristaldo/EFE

Cartes sucedeu Federico Franco, no poder desde junho de 2012 após ‘golpe parlamentar’ contra o esquerdista Fernando Lugo

São Paulo – O empresário Horacio Cartes assumiu hoje (15) o cargo de presidente do Paraguai em ato realizado em frente ao Palácio de Governo e se tornou assim o oitavo governante democrático do país depois da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).

Com Cartes, volta ao poder o Partido Colorado, que ocupou a presidência durante 61 anos consecutivos (35 na ditadura de Stroessner), até serem derrotados, em 2008, pelo ex-bispo esquerdista Fernando Lugo. Dono de 25 empresas, Cartes é conhecido como homem de negócios bem-sucedido: foi presidente do clube de futebol de segunda linha Libertad, que transformou em campeão.

Sobre ele, no entanto, pesam acusações, que vieram à tona na campanha eleitoral. O presidente eleito foi acusado, pelos adversários, de contrabando de cigarros (para o Brasil) e de tráfico. Os diretores de seu banco foram processados pela Receita Federal brasileira em 2004 por irregularidades na remessa de dinheiro do Brasil ao Paraguai. Mas foram absolvidos.

Cartes, que fala português fluentemente, defendeu-se de todas as acusações em sua página na internet – Honor Colorado (Honra Colorada) – e na primeira entrevista como presidente eleito, em abril passado. Na época, disse que queria implementar planos de combate à pobreza parecidos com os do Brasil: cerca de 19% dos paraguaios vivem abaixo do nível de pobreza.

Golpe parlamentar e o Mercosul

Os atos de transferência de poder começou com o até então presidente, Federico Franco, entregando o poder ao presidente do Congresso, Julio Cessar Velázquez. Em um breve discurso diante de senadores e deputados, Franco disse que deixa o governo com “a tranquilidade de consciência de ter cumprido” com seu dever.

Franco assumiu o poder há pouco mais de um ano após a destituição do então presidente Fernando Lugo por um golpe consumado num controverso processo de impeachment, encerrado em menos de 24 horas. O presidente esquerdista foi julgado por “mau desempenho” de suas funções e substituído pelo vice, Federico Franco (do tradicional Partido Liberal), tendo apenas duas horas para se defender das acusações. “Me retiro ao seio do meu lar sem rancores aos que me lançaram ataques gratuitos. Desejo que o novo governo siga o caminho da democracia e o respeito dos direitos humanos”, declarou Franco.

A posse de Cartes abre espaço para o retorno do Paraguai ao Mercosul e à Unasul, organismos dos quais foi suspenso após o golpe. O processo relâmpago sofrido por Lugo foi considerado por Brasil, Argentina e Uruguai um “golpe parlamentar”, o que levou à suspenderam o Paraguai do Mercosul, em junho do ano passado. O país também foi excluído da Unasul até a posse de um novo presidente eleito.

Tão logo tomaram essa decisão, o Brasil, a Argentina e o Uruguai anunciaram a entrada da Venezuela no Mercosul. A adesão do país tinha sido vetada, até então, pelo Congresso paraguaio. Ao ser suspenso do Mercosul, o Paraguai ficou sem voz nem voto nas decisões do bloco – apesar de não perder privilégios econômicos e comerciais.

O novo presidente, no entanto, enfrentará resistências internas. Seu partido, o Colorado, é contrário a qualquer aproximação com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. A fórmula encontrada por Cartes foi manter reuniões bilaterais com os presidentes dos outros três países fundadores do bloco regional: o Brasil, a Argentina e o Uruguai.

A primeira reunião bilateral foi ontem (14) com a presidenta Dilma Rousseff, que desembarcou à noite em Assunção e foi direto para a casa de Cartes. Hoje (15), ele deverá se reunir com os presidentes do Uruguai, Jose Pepe Mujica, e da Argentina, Cristina Kirchner. À saída do encontro, Dilma falou da importância da reincorporação do Paraguai ao Mercosul – tanto para os paraguaios, quanto para os demais países. Ela citou, como exemplo, os investimentos em projetos de integração regional – como a utilização de recursos do Focem (o fundo de desenvolvimento dos países do Mercosul) para construir uma linha de transmissão de energia da Hidrelétrica de Itaipu a Assunção.