Confronto

Tiroteio deixa 51 mortos e 435 feridos no Egito

Forças Armadas Egípcias garantem que foram atacadas por manifestantes islamitas e que responderam 'dentro da lei', enquanto Irmandade Muçulmana fala em 'massacre' contra seguidores de Mursi

Mohammed Saber/EFE

Manifestante ferido em confronto é levado para hospital; Exército fala em ação de ‘grupo terrorista’

São Paulo – Ao menos 51 pessoas morreram e 435 ficaram feridas nos confrontos da madrugada de hoje (8) entre as forças de segurança e manifestantes em frente à sede da Guarda Republicana no Cairo, segundo declarações do chefe do departamento de ambulâncias, Mohammed Sultan, à Agência Efe. O porta-voz insistiu em que o fato ocorreu dentro do “ataque de um grupo terrorista à sede da Guarda Republicana”, da mesma forma que tinha denunciado previamente o Exército.

As Forças Armadas do Egito garantiram que suas forças foram atacadas com armas de fogo pelos manifestantes islamitas no quartel-general da Guarda Republicana, o que motivou sua resposta. Em entrevista coletiva concedida hoje e cercada de tensão, um porta-voz do exército e outro da polícia acusaram os seguidores do deposto presidente Mohammed Mursi de terem iniciado os confrontos, e asseguraram que sua resposta foi “dentro dos limites da lei”.

O porta-voz militar Ahmed Ali apresentou imagens e vídeos que mostram homens atirando coquetéis molotov e pedras contra as forças de segurança. Ali desqualificou as “provocações” por parte dos líderes islamitas, dos quais não citou nomes, para incitar os manifestantes a atacar as instalações do Estado. “Um grupo armado atacou o perímetro do quartel. O pessoal encarregado da segurança foi atacado com munição real e balotes, enquanto outros subiam nos muros para jogar pedras, coquetéis molotov, explosivos e material pesado”, disse.

Tanto o porta-voz das Forças Armadas como o da polícia vincularam a crescente violência no Cairo com os incidentes dos últimos dias na Península do Sinai, onde grupos “jihadistas” fizeram ataques contra as forças de segurança e sabotaram ontem o gasoduto que abastece a Jordânia.

Ali desmentiu que esteja em curso uma campanha de prisões arbitrárias contra dirigentes da Irmandade Muçulmana e afirmou o compromisso dos militares de não perseguirem ninguém enquanto estiverem agindo em conformidade com a lei.

Massacre

Por outro lado, a Irmandade Muçulmana assegurou que o que ocorreu foi um “massacre” realizado pelas Forças Armadas e pela Polícia contra os seguidores islamitas, e acusaram o chefe do Exército, Abdel Fatah al Sisi, de arrastar o país em direção a “uma nova Síria”.

Enquanto isso, a promotoria egípcia ordenou fechar e lacrar a sede do Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, no centro do Cairo, após supostamente descobrir armas em seu interior, informou a televisão estatal egípcia.

Ainda segundo a televisão estatal, dois soldados foram retidos à força por partidários armados do presidente deposto Mohammed Mursi no bairro de Ain Shams, leste do Cairo, e foram obrigados a gritar palavras de ordem em favor deste.

A Irmandade Muçulmana apresentou hoje, durante a entrevista coletiva concedida pelas Forças Armadas, vídeos e cápsulas de bala que comprovariam que os policiais e soldados dispararam contra islamitas seguidores de Mursi. Dois porta-vozes da Irmandade mostraram à imprensa a munição supostamente entregue por soldados e oficiais que se negaram a abrir fogo contra os manifestantes. Foi exibido ainda um vídeo no qual se vê um suposto franco-atirador sobre um edifício do quartel-general da Guarda Republicana.

Fontes policiais afirmam que pelo menos três membros das forças de segurança, entre eles um oficial do exército do Egito, morreram nesta segunda-feira e outros 54 ficaram feridos nos confrontos entre islamitas e membros das Forças Armadas.

Investigação

O presidente interino do Egito, Adly Mansour, formou uma comissão judicial para investigar o tiroteio. Em comunicado, a Presidência pediu aos manifestantes que se afastem “dos centros vitais e das instalações militares” do país e insistiu que todas as partes devem se controlar para que a segurança nacional seja a prioridade e para que o período transitório termine o mais rápido possível.

No comunicado, a Presidência ainda expressou sua “profunda tristeza” pela morte de civis nos fatos, que segundo esta instituição, ocorreram após uma tentativa de invasão da sede da Guarda Republicana. Além disso, disse que a manifestação de forma pacífica é um direito de todos os cidadãos, sob a proteção do Estado.

Antes da guerra civil

O xeque Ahmed al Tayyip, da instituição mais tradicional do islã sunita Al-Azhar, pediu que os egípcios alcancem um acordo para reconciliação nacional “antes que o país caia na guerra civil”. Em mensagem à nação, Tayyip pediu a libertação de todos os presos políticos, o retorno à democracia em menos de seis meses, a formação de um comitê de reconciliação nacional em um máximo de dois dias e uma investigação urgente sobre o episódio ocorrido hoje em frente à sede da Guarda Presidencial.

O xeque de Al-Azhar alertou sobre o risco de uma guerra civil e lembrou que já fez isso em outras ocasiões. Tayyip revelou que ficará em sua casa “até que todos assumam suas responsabilidades pelo derramamento de sangue”.

Tayyip, que teve grandes divergências nos últimos meses com a Irmandade Muçulmana, pediu que se anuncie rapidamente um calendário para o país, não superior a seis meses, para retornar o caminho democrático no país.As autoridades fecharam hoje a sede do Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço da Irmandade Muçulmana, depois que dezenas de dirigentes do grupo foram detidos nas últimas semanas.

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