Nova repercussão

Alemanha sabia de espionagem norte-americana, diz Snowden

Embaixada dos EUA diz esperar orientação de Washington sobre questionamento do Itamaraty à prática de espionagem em Brasília

Ex-agente denuncia cumplicidade entre governos Obama e Merkel

São Paulo – Segundo o ex-consultor da CIA Edward Snowden, responsável por vazar dados de programas de espionagem secretos da NSA (Agência de Segurança Nacional norte-americana) à imprensa, o serviço secreto alemão trabalha em cooperação próxima com o serviço secreto norte-americano. As declarações, se confirmadas, descartam a hipótese de a Alemanha não saber dos programa de espionagem em massa dos Estados Unidos.

Em entrevista publicada ontem (7) pela revista alemã Der Spiegel, realizada antes de Snowden se tornar fugitivo, o norte-americano diz que “eles [a NSA] têm um conluio com os alemães, assim como com a maioria dos países ocidentais”.

Para o comentarista internacional da Rádio Brasil Atual, Flávio Aguiar, a entrevista publicada no final de semana fez com que o caso ganhasse um outro tipo de repercussão na Europa, e principalmente na Alemanha. “Snowden chega a usar a expressão de que os dois serviços secretos ‘praticamente dormem na mesma cama’, o que provocou um grande mal estar político e um novo capítulo nesta tempestade política.”

Ele lembra que quando o ex-agente da NSA vazou as informações de espionagem, as autoridades alemãs, inclusive a primeira-ministra Angela Merkel, havia manifestado indignação pela informação de que o espaço virtual na Europa era monitorado pelos EUA. “É muito pouco provável, se há realmente essa proximidade entre os dois serviços, que as autoridades alemãs não soubessem do que estava acontecendo, e esta já é uma hipótese praticamente descartada.”

A revelação da revista alemã Der Spiegelvem depois de o jornal francês Le Monde, também usando documentos vazados por Snowden, afirmar que a França tinha um grande sistema de espionagem, “o segundo maior da Europa, atrás do britânico”.
Antes disso, documentos foram expostos descrevendo programas de espionagem da Inglaterra, que, supostamente, usam mecanismos muito parecidos com os da NSA e também têm grande poder de interceptação.

Edward Snowden encontra-se, desde o dia 23 de junho, na zona de trânsito de um aeroporto em Moscou, tendo pedido asilo a 27 países, de acordo com o Wikileaks. Nesta semana, Nicarágua, Venezuela e Bolívia ofereceram asilo ao norte-americano, mas autoridades desses países dizem que ainda não tiveram resposta dele sobre o lugar aonde deseja ir.

Brasil

 

O governo dos Estados Unidos informou que não responderá publicamente ao pedido de esclarecimento feito pelo Ministério das Relações Exteriores sobre a existência de um sistema virtual de espionagem de cidadãos brasileiros. O assunto é tema de uma reunião na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília na manhã de hoje (8). A assessoria da embaixada diz que, por enquanto, aguarda orientações de Washington para se manifestar sobre o tema.

As informações sobre espionagem aos cidadãos brasileiros vieram à tona a três meses da primeira visita de Estado da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos. A visita da presidenta está prevista para 23 de outubro e foi confirmada pelas autoridades. A visita de Estado é considerada especial pelos norte-americanos por ser autorizada apenas a alguns parceiros.

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, está prestes a deixar o cargo. Para o lugar dele foi designada a diplomata Liliana Ayalde. A informação foi confirmada há um mês, mas por enquanto não há data para a substituição ocorrer. Ayalde é atualmente secretária assistente adjunta de Estado para Cuba, a América Central e o Caribe, no setor de Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado Americano.

Por e-mail, o Departamento de Estado norte-americano informou que será dada a resposta apropriada ao pedido brasileiro. “O governo dos Estados Unidos vai responder apropriadamente a nossos parceiros no Brasil pelas vias diplomáticas e de inteligência. Não vamos comentar publicamente ou especificar supostas atividades de inteligência. Como política, deixamos claro que os EUA obtêm inteligência estrangeira do tipo coletado por todas as nações”, diz o texto.

Ontem (7) o governo do Brasil pediu explicações aos Estados Unidos sobre as informações referentes à espionagem das comunicações de cidadãos brasileiros pela Agência Nacional de Segurança daquele país (NSA, na sigla em inglês).

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que foram pedidos esclarecimentos aos Estados Unidos por intermédio da Embaixada do Brasil em Washington e também ao embaixador dos Estados Unidos no Brasil. O chanceler ressaltou que recebeu com “grave preocupação” a notícia de que contatos eletrônicos e telefônicos de seus cidadãos estariam sendo monitorados.

Patriota disse que o governo brasileiro lançará iniciativas na Organização das Nações Unidas (ONU) pelo estabelecimento de normas claras de comportamento para os países quanto à privacidade das comunicações dos cidadãos e a preservação da soberania dos demais Estados. O Itamaraty pretende ainda pedir à União Internacional de Telecomunicações (UIT), em Genebra, na Suíça, o aperfeiçoamento de regras multilaterais sobre segurança das telecomunicações.

O escândalo sobre o monitoramento das comunicações privadas de cidadãos e empresas de dentro e de fora do país pelo governo dos Estados Unidos veio à tona após Snowden revelar a prática. Os dados eram vigiados por meio do Prism, programa de vigilância eletrônica altamente secreto mantido pela NSA.

 

Com informação de Telesur, Agência Brasil e Opera Mundi.

Ouça aqui o comentário de Flávio Aguiar na Rádio Brasil Atual.

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