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Legalização da maconha e greve marcam penúltimo ano de mandato de Mujica

Queda de braço salarial com professores e reação conservadora ao projeto de lei sobre a droga monopolizam noticiário

EFE

Mujica passou, na semana passada, a presidência do Mercosul para Nicolás Maduro, da Venezuela

Montevidéu – Na noite de quinta-feira (11), a presidenta Dilma Rousseff chegou a Montevidéu para a Cúpula do Mercosul depois de um intenso dia de greve geral no Brasil. Durante o encontro entre os líderes do bloco, porém, ela não era a única a lidar com questões internas. Conhecido por seus costumes humildes e por doar 90% de seu salário, o presidente do Uruguai, José Mujica, passa por um período crítico do mandato.

Na semana em que foi o anfitrião do encontro sul-americano e passou a presidência do Mercosul para a Venezuela, Mujica participou de complexas negociações salariais com médicos e trabalhadores portuários. Além disso, as férias escolares, que acabariam amanhã (15), terão de ser prolongadas devido à greve dos professores.

O pedido dos professores aponta para que os salários mais baixos, de cerca de 14.000 pesos (US$ 668) por 20 horas de trabalho semanais, passem a ser de 21.000 pesos (US$ 1.002). Por enquanto, o Executivo assinalou que apesar de estar disposto a aumentar os salários, os pedidos dos trabalhadores são muitos. Além disso, as autoridades lembraram que existe um convênio coletivo vigente no setor dentro de dois anos que prevê um aumento salarial de 22% e que já quase foi cumprido.

Segundo dados do jornal  El Observador, o crescimento salarial dos professores no período de 2004 a 2011 foi de 37% a 42%  dependendo da graduação de cada docente. O que significa um aumento superior a de qualquer trabalhador do país.

Próxima eleição

A pouco mais de um ano das eleições presidenciais no Uruguai – marcadas para outubro de 2014 -, e sem poder concorrer à reeleição, a escolha natural deve ser seu antecessor, Tabaré Vázquez. No começo do próximo ano, Vázquez deve disputar as primárias da coalizão governista Frente Ampla com o atual vice-presidente uruguaio, Danilo Astori.

Para uruguaios ouvidos porOpera Mundi, a preferência é pelo ex-presidente. “Mujica é uma ótima pessoa, mas o sistema político de nosso país não está deixando que ele faça o que quer e o que é necessário. Tabaré sabe lidar melhor com esse tipo de pressão e deveria voltar”, opina o engenheiro José Garcilaso.

Durante seu mandato (2005-2010), Vázquez manteve índices de popularidade superiores aos de Mujica. No mês de maio deste ano, por exemplo, o atual governo era aprovado por 42% dos uruguaios, segundo pesquisa da consultora Cifra. Já em maio de 2008, o primeiro representante da Frente Ampla a ocupar a presidência do país era apoiado por 55% da população.

Maconha

Os setores mais conservadores da sociedade uruguaia apontam outros dois motivos para questionar o governo Mujica. Um deles é a tentativa de aprovar a legalização da maconha, que passaria a ser vendida pelo Estado. O projeto deveria ser votado na última terça-feira (9), mas um parlamentar da coalizão governista não cumpriu o acordo e pediu mais tempo para estudar o caso, que agora deverá ser avaliado em 31 de julho.

Enquanto isso, os partidos mais tradicionais do país, que hoje estão na oposição -Colorado e Nacional -, ganharam tempo para tentar vetar a medida. “O Partido Colorado tem uma posição clara contra a maconha”, afirmou nesta semana o líder da bancada, Walter Verri, que repreendeu publicamente um colega de partido que pretende votar a favor da legalização da droga.

Ainda na semana que passou, o jornal El Observador publicou um caderno especial com o depoimento de Héctor Amodio Pérez, considerado um dos responsáveis pelo fim dos tupamaros, guerrilha da qual o atual presidente fez parte nas décadas de 1960 e 1970. Pérez é acusado de trair o movimento e de passar informações aos militares em troca da permissão para morar na Espanha, onde vive até hoje sob identidade falsa.

Apesar de Mujica não ter se pronunciado sobre o caso, outros ex-tupamaros se mostraram bastante irritados com as declarações do dissidente. A senadora e esposa do presidente, Lucia Topolansky Saavedra, que também foi tupamaro, disse que não valeria a pena fazer comentários sobre o que fala um “homem morto”.

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