golpe de estado

Justiça egípcia decreta prisão preventiva de 15 dias para Mursi

País vive hoje um dia de protestos a favor e contra Mursi. Na Alexandria, pelo menos duas pessoas morreram

MOHAMMED SABER/efe

Seguidores de Mursi se manifestam nas proximidades da mezquita Rabaa al-Adawiya no Cairo

Cairo – A justiça egípcia ordenou hoje (26) prisão preventiva de 15 dias para o deposto presidente Mohamed Mursi por sua suposta ligação com o grupo palestino Hamas para perpetrar “ações inimigas contra o país” e pela invasão a uma prisão.

O juiz Hassan Samir, do Tribunal de Apelação da capital, adotou esta medida depois de interrogar a Mursi, que está retido pelo Exército, sobre as provas apresentadas no caso, informou a agência de notícias estatal Mena.

Após o golpe de estado militar que o depôs no último dia 3, Mursi se acha em paradeiro desconhecido, mas retido pelo Exército.

Desde essa data, a procuradoria emitiu várias ordens de prisão contra dirigentes da Irmandade Muçulmana, entre eles seu guia espiritual, Mohammed Badía, por seu suposto envolvimento em atos de violência.

Em Jerusalém, o movimento islamita palestino Hamas negou hoje taxativamente ter colaborado com Mursi para perpetrar “ações inimigas contra o país”. “É um ponto negro na história de quem tomou a decisão”, declarou um dos principais líderes do Hamas em Gaza, Salah al Bardawil, que tachou as acusações de “vergonha” que “dão a impressão de que o Hamas é um inimigo do povo egípcio”, informou o movimento em seu site.

Bardawill lamentou tal “comportamento político repugnante, que infelizmente provém da justiça egípcia, à qual respeitamos”. “Não há uma só prova de que o Hamas tenha danificado o Egito“, acrescentou após falar que a acusação judicial de participação no assalto a uma prisão em 2011 é falsa e tem a intenção de “ganhar tempo para prender” Mursi.

O dirigente insistiu, além disso, que seu movimento, nascido da Irmandade Muçulmana (à qual pertence Mursi) “não é um movimento terrorista segundo a lei egípcia”, mas “um Movimento de Libertação Nacional e de resistência que defende a dignidade da nação árabe e islâmica”.

Além de ser acusado de colaborar com o Hamas, Mursi é suspeito de ter participação no ataque a instalações das forças de segurança e na invasão do presídio de Wadi Natrun, no norte do Cairo.

Mursi também é suspeito de estar envolvido no assassinato de alguns presos e oficiais da Polícia, assim como no sequestro de altos cargos de segurança.

Outras acusações também o enquadram na fuga da prisão de Wadi Natrun e na facilitação da fuga de outros reclusos, além de destruir documentos do presídio e de assaltar delegacias.

Mursi esteve recluso em Wadi Natrun durante a revolução que derrubou o regime de Hosni Mubarak entre janeiro e fevereiro de 2011, mas conseguiu escapar dois dias após sua detenção graças ao caos que reinava nos presídios após a fuga dos agentes.

No último dia 4, a justiça egípcia emitiu uma ordem para proibir a saída de Mursi do país por supostamente ter insultado o Poder Judiciário junto a outros oito dirigentes da Irmandade Muçulmana.

Há três dias, o chefe do governo islamita palestino do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, negou todo envolvimento de seu movimento no Egito e pediu à imprensa egípcia parar de publicar acusações “falsas”.

Confrontos

Pelo menos duas pessoas morreram hoje em confrontos entre manifestantes partidários e opositores do presidente Mursi em Alexandria, no norte do Egito, informou à EFE uma fonte dos serviços de segurança. A fonte explicou que os choques, que qualificou de “muito duros”, ainda continuam nessa cidade, a segunda maior do país.

O diretor do hospital universitário de Alexandria, Hosam Abu Saud, confirmou a morte de dois manifestantes à Mena e disse que há, além disso, 19 feridos internados na unidade.

Os choques começaram nas imediações da mesquita de Al Qaed Ibrahim, uma das principais da cidade, junto ao calçadão marítimo, e se estenderam pela região de Ibrahimiya.

A Mena destacou que os serviços de segurança conseguiram conter os confrontos em torno ao templo com gás lacrimogêneo, mas eles continuaram em Ibrahimiya.

Pelo menos dois veículos foram queimados durante os incidentes, nos quais também foram destruídos vários locais comerciais.

À parte de Alexandria, também houve confrontos hoje no distrito de Shubra, no norte do Cairo, e em Damieta, no delta do Nilo, que deixaram 18 feridos.

No centro da capital, no bairro Ramsés, ocorreram choques entre os islamitas e moradores da área, sem que por enquanto houvesse vítimas.

Transparência

A Alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu hoje que o processo de Mursi seja “transparente”. Desde que Mursi foi detido, Pillay tinha solicitado às atuais autoridades egípcias que o libertassem ou o acusassem formalmente para poder ser julgado, de acordo com as normas internacionais.

Após conhecer a notícia da decretação da prisão, o porta-voz de Pillary, Rupert Colville, reiterou que a Alta comissária pedia sua libertação ou um julgamento justo e “transparente”. “Lembramos que as autoridades têm a obrigação de respeitar o direito de todo cidadão de se manifestar pacificamente, seja qual for sua filiação política”, afirmou Colville.

O porta-voz solicitou às forças de segurança que não apliquem um uso excessivo da força e que respeitem os direitos fundamentais dos manifestantes.

 


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