Exército

Após golpe, Mursi é impedido de deixar o Egito

Itamaraty informa que acompanha 'com preocupação a grave situação'. Forças Armadas suspenderam Constituição e anunciaram convocação de eleições

Mohammed Saber/EFE

Uma multidão foi à Praça Tahrir comemorar a queda, mas há dúvidas sobre o futuro do país

São Paulo – O presidente deposto do Egito, Mouhamed Mursi, foi impedido de deixar o país horas depois de sofrer um golpe de Estado comandado pelas Forças Armadas. Os serviços de segurança proibiram também a saída de todos os colaboradores de Mursi e do líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Badie, assim como de Khairat Al Shater, que também integra a entidade. A Irmandade Muçulmana era o principal apoio político de Mursi. Não há informações sobre o local onde se encontra o presidente deposto.

O presidente do Tribunal Constitucional Supremo, Adly Mansour, jurará amanhã (4) como novo chefe do Estado egípcio perante a Assembleia Geral dessa instância judicial. A Constituição foi suspensa esta tarde e foi anunciado também que haverá um governo de transição. Os militares apoiarão o governo interino até que as novas eleições sejam realizadas. A versão oficial é de que o Exército não quer tomar o poder, mas apenas auxiliar o povo, que pedia ajuda. Após o término do anúncio, milhares de pessoas começaram a comemorar na Praça Tahrir pela saída de Mursi do poder.

Em nota, o Itamaraty informou que o governo brasileiro “acompanha com preocupação a grave situação no Egito”, e instou a que se busquem soluções pacíficas aos desafios do país, “chamando ao diálogo e à conciliação para que as justas aspirações da população egípcia por liberdade, democracia e prosperidade possam ser alcançadas sem violência e com a plena vigência da ordem democrática”.

Mursi disse que as medidas anunciadas pelo chefe das Forças Armadas, Abdel Fatah al Sisi, são um “golpe” e que ele continua sendo o presidente do país. Ele pediu aos altos comandantes militares e aos soldados que cumpram a Constituição e a lei e não respondam ao “golpe” e que evitem envolver-se no derramamento de sangue.

Em sua página de Facebook, o islamita destacou que “todos enfrentarão sua responsabilidade perante Deus, o povo e a história”, depois que as Forças Armadas o substituíram como presidente pelo chefe do Tribunal Constitucional, Adly Mansour.

A onipresença do exército egípcio ficou clara depois dos últimos acontecimentos, mas já era forte no nascimento da atual república após um golpe militar liderado pelo então oficial Gamal Abdel Nasser em 1952.

O exército desempenhou um papel primordial durante a revolução que desbancou Hosni Mubarak do poder em fevereiro de 2011 e também como fiador da paz durante a transição para um governo civil.

No transcurso da revolta, que começou em janeiro de 2011 e causou mais de 800 mortes, o exército liderou intensas negociações até convencer Mubarak, militar de carreira e comandante em chefe da Força Aérea, para que abandonasse seu cargo.

No dia 12 de fevereiro de 2011, um dia depois da queda de Mubarak, o Conselho Supremo das Forças Armadas, para o qual o deposto presidente cedeu todos os seus poderes, se comprometeu a transferí-los a uma autoridade civil escolhida democraticamente.

Nos meses seguintes à revolução, novos protestos tomaram conta da praça Tahrir pelas prerrogativas de que se queria conceder à Junta Militar quando se elaborasse a futura Constituição.

Por fim, as eleições de maio de 2012 deram a vitória ao líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, que se tornou o primeiro presidente civil desde 1952, quando Nasser depôs o rei Farouk.

Em novembro de 2012, meses depois da eleição de Mursi, o exército voltou a ter um papel importante quando a violência tomou novamente as ruas do Cairo, depois que o presidente egípcio emitiu um decreto que o situava acima da lei, o que provocou uma onda de protestos.

Com informações da Agência Brasil e da EFE.

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