Governo Obama investiga em segredo milhões de telefonemas de cidadãos

Washington confirma operação sigilosa na operadora Verizon: 'ação contra terroristas'

Olivier Douliery. EFE

A ordem da administração Obama foi dada no dia 25 de abril, autorizando acesso ilimitado ao conteúdo de uma ligação

São Paulo – Apesar de ter sido eleito sob o lema da mudança, o presidente norte-americano, Barack Obama, parece estar seguindo os mesmos passos do antecessor, George W. Bush. Reportagem de hoje (6) do jornal britânico The Guardian mostrou que a administração atual segue espionando a população do país com a justificativa da “guerra ao terror” e amparado no “Patriot Act”, controversa lei aprovada em 2001 que suprime as liberdade civis.

Segundo o Guardian, a NSA (sigla em inglês de Agência de Segurança Nacional) dos EUA criou um banco de dados com ligações telefônicas e mensagens de voz de milhões de cidadãos, coletados de pessoas que utilizam o serviço da operadora Verizon – uma das mais populares no país. O jornal obteve cópia de uma ação judicial sigilosa da NSA.

A ordem da administração Obama para espionagem foi dada no dia 25 de abril deste ano, autorizando as autoridades  policiais a terem acesso ilimitado ao local, duração e conteúdo de uma ligação, assim como mensagens de voz. A medida não se restringe ao território norte-americano: todos os usuários da operadora Verizon no exterior podem ter tido seus registros telefônicos interceptados pelo governo.

Horas após o anúncio feito pelo Guardian, a Casa Branca reconheceu que monitorou milhões de clientes de telefonia fixa e móvel da operadora Verizon. O governo, em nota oficial, se justifica dizendo que é “uma ferramenta muito importante para proteger o país de ameaças terroristas”.

O governo rebate também a informação de que as autoridades policiais têm acesso ao conteúdo da mensagem. “Não temos permissão para obter o conteúdo das mensagens ou o nome dos proprietários. A nossa ação se restringe ao número do telefone e a duração da chamada”, afirma a fonte oficial.

A chamada Corte Estrangeira de Vigilância de Inteligência (Fisa), que é secreta, teria concedido a ordem ao FBI, que teve a missão de executar o plano que, segundo o Guardian, tinha um tempo específico para acontecer – de 25 de abril até 19 de julho. De acordo com o jornal britânico, a natureza da informação que é fornecida a NSA é bastante incomum, já que, em geral, as ordens emitidas pela Fisa se relacionam com uma pessoa determinada que deva ser investigada, seja suspeito de ser membro de um grupo terrorista ou agente de outro país.

Comparando as datas, a ação de espionagem foi iniciada 10 dias depois da explosão das bombas na Maratona de Boston, ataque que deixou dois mortos e mais de 100 feridos. Na ocasião, foi publicado pela imprensa norte-americana que todos os telefones da região metropolitana de Boston estavam grampeados.

Por enquanto, se desconhece se a Verizon é a única operadora afetada pela medida judicial e também se o período que cobre a disposição – de três meses – supõe um caso isolado. Até o momento, a NSA, o departamento de Defesa, a Casa Branca e a Verizon se recusaram a dar entrevistas para comentar o caso. Obama tampouco se pronunciou.

Na administração de George W. Bush, a imprensa norte-americana revelou uma série de gravações e escutas telefônicas ordenadas com base no “Patriot Act”. Essa é a primeira vez, no entanto, que, sob a tutela de Obama, um caso de espionagem de grandes proporções é revelado. Fato que pode dar “sinais da continuação da política de controle da população”, segundo a imprensa europeia.

Leia também

Últimas notícias