Primeiro brasileiro

Vitória reflete influência da América Latina no mundo, diz novo diretor da OMC

Brasileiro Roberto Azevêdo foi enfático na defesa da OMC como mecanismo para facilitar as relações multilaterais

Martial Trezinni/EFE

Azevêdo: ‘Ou as bases mudam, ou o mundo vai avançar e a OMC vai ficar para trás’

São Paulo – A eleição do brasileiro Roberto Azevêdo como diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC) foi confirmada hoje (8) em reunião do Conselho Geral da OMC, principal órgão de decisão, do qual participam seus 159 países-membros. Nenhuma voz discordante se opôs a essa recomendação em reunião breve e na qual foi corroborado que o candidato do Brasil tinha recebido “o maior apoio dos países-membros” na terceira e última rodada de consultas e que este também foi o caso nas duas primeiras. Além disso, esses respaldos foram amplos, do ponto de vista geográfico e de desenvolvimento econômico dos países, como exigia o procedimento de seleção.

Nesse fórum, o único a pedir a palavra foi o embaixador do México – país do outro finalista, Herminio Blanco – na OMC, Fernando de Mateo, para desejar sucesso a Azevêdo em sua nova função. Além disso, ele destacou que a nomeação do brasileiro “representa em si uma conquista para a região latino-americana e um passo positivo para a organização”.

Azevêdo foi na mesma linha em suas primeiras declarações após a escolha. O diplomata brasileiro considerou sua escolha uma consequência da crescente influência da América Latina no comércio internacional. “Trata-se de uma região cada vez mais influente no comércio mundial. É um forte ator nas negociações e acho que simplesmente é uma consequência natural dessa crescente participação no comércio e nas negociações”, disse Azevêdo segundo a agência espanhola EFE. “Não se trata do que o sistema (multilateral de comércio) deu à América Latina, mas do que a América Latina deu ao sistema”, enfatizou o ainda embaixador do Brasil na OMC em Genebra. Primeiro americano a comandar o órgão, sua vitória foi amplamente apoiada pelos países emergentes.

O governo argentino emitiu nota que vai ao encontro das declarações de Azevêdo. A chancelaria do país vizinho demonstrou “grande satisfação” com a escolha do brasileiro e considerou que a disputa final entre dois latino-americanos “é um símbolo do progresso de nossa região e de sua crescente participação no comércio global, além de refletir a vocação de nossos países para avançar, a partir do consenso, na construção do ordenamento econômico mundial”.   “O primeiro latino-americano a ser escolhido para esta importante tarefa contribuirá para conseguir um comércio mais justo e de inclusão, que chegue com seus benefícios a todos os cantos do planeta, especialmente do mundo em desenvolvimento”, disse uma nota do Ministério de Relações Exteriores, distribuída à imprensa.

Ar fresco

Em entrevista coletiva concedida hoje, Azevêdo foi enfático na defesa da OMC como mecanismo para facilitar as relações multilaterais. “A OMC está num estágio muito crítico. Nós costumamos dizer isso, mas é verdade mesmo. As negociações estão completamente travadas. Há uma paralisia clara no sistema”, disse, de acordo com reportagem do Uol. “Ou as bases mudam, ou o mundo vai avançar e a OMC vai ficar para trás. É isso que nós temos que evitar”, afirmou. “Na minha visão, estamos correndo risco de perder um mecanismo muito valioso”.

Ele colocou a retomada das reuniões de negociação como “prioridade número um”. “Resolvendo a rodada Doha, vamos destravar a organização e tirá-la da paralisia em que ela se encontra nos últimos cinco anos. Temos que achar uma solução o mais rápido possível.” As negociações estão emperradas desde 2008, quando os países atingiram um impasse sobre a liberalização do setor agrícola, industrial e de serviços.

A Rodada de Doha também esteve no foco da mensagem de congratulações enviada pela Comissão Europeia (CE). “Em nome da União Europeia (UE), eu gostaria de estender minha sincera felicitação a Roberto Carvalho de Azevêdo. Uma OMC forte requer um diretor-geral forte”, destacou em comunicado o comissário europeu de Comércio, o belga Karel De Gucht. “Espero que a nomeação do novo diretor-geral traga ar fresco para as velas do navio da agenda de negociação da Rodada de Doha e o leve com sucesso até seu destino”, disse.

De Gucht opinou que a OMC está em uma “encruzilhada” e que espera que Azevêdo ajude a “voltar a colocar a agenda multilateral no bom caminho, tendo como objetivo uma conclusão bem-sucedida da Rodada de Doha” para a liberalização do comércio mundial. Segundo ele, “um primeiro passo crítico” será dado na próxima conferência ministerial da OMC em Bali (Indonésia), em dezembro, quando se tentará obter resultados nas seções sobre a facilitação do comércio e da agricultura e em diferentes questões de desenvolvimento. “O novo diretor-geral da OMC pode contar com meu completo apoio para fazer dessa conferência ministerial um sucesso”, ressaltou.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, avalia que a vitória de Azevêdo demonstra que o Brasil “mudou de posição” no cenário internacional. Ele ressaltou que essa mudança se deve a uma “política internacional ousada” desenvolvida pelo país desde o governo Lula e que teve continuidade na gestão da presidenta Dilma Rousseff. Gilberto Carvalho acrescentou que essa política permitiu ao país sair do eixo comercial exclusivamente com o Estados Unidos e o Mercado Comum Europeu.

Azevêdo assume o cargo em 31 de agosto, em substituição ao francês Pascal Lamy, e cumpre mandato de quatro anos. Disputada até o último minuto, a eleição envolveu uma longa negociação que ocorre desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda sem confirmação oficial, o cálculo é que Azevêdo obteve 93 dos 159 votos da OMC. O brasileiro contou com o apoio do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além dos países de língua portuguesa e de várias nações na América Latina, na Ásia e África.

Com informações de Agência Brasil e Agência EFE

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