‘Nosso principal desafio é o combate à pobreza’, diz presidente eleito do Paraguai

Horacio Cartes disse que quer seguir modelo brasileiro e ressaltou a importância de investimentos na infraestrutura, rebatendo ainda as acusações de ligação com o narcotráfico

Partido Colorado, com a eleição de Cartes, volta ao poder depois de um hiato de cinco anos (Foto: Arquivo/Telesur)

São Paulo – Horacio Cartes, eleito presidente do Paraguai no domingo (21), disse ontem (22), em entrevista coletiva, que gostaria de também travar em seu país uma luta contra a pobreza, assim como fez o Brasil. Esse desejo também foi expressado à presidenta Dilma Rousseff (PT) na tarde de ontem, quando ela telefonou para parabenizar o paraguaio pela sua conquista. Cartes, do Partido Colorado, toma posse em 15 de agosto. A vitória traz de volta ao cenário o partido que, após governar o país por 61 anos, foi derrotado em 2008.

Participou da entrevista a repórter da Rádio Brasil Atual Marilu Cabañas, enviada especial a Assunção para a cobertura do processo eleitoral.

Apesar de ressaltar a necessidade de aumentos em investimentos de infraestrutura e a criação de mais oferta de emprego, Cartes afirmou que o Paraguai produz alimentos para cerca de 90 milhões de pessoas, mas cerca de 20% da população não tem acesso à alimentação básica. Ele mostrou que está interessado em aprender com o Brasil suas políticas públicas de superação da pobreza. “Pedi isso a Dilma, que mostrou muita predisposição a ajudar no que vocês, brasileiros, já têm experiência.”

Cartes disse que se esforçará para que seu governo esteja a serviço do povo, e não de um pequeno grupo de pessoas, e que se esforçará para convencer aqueles que não confiam no Partido Colorado, por meio de trabalho com “transparência”.

“Nosso problema é muita pobreza dentro de muita riqueza. Não tenho duvida da capacidade do Paraguai.” O presidente chegou a afirmar que, se o país continuar com índices tão altos de pobreza ao final de seu mandato, em 2018, seu governo será obrigado a dizer que fracassou.

Cartes é dono de empresa de tabaco e é acusado de envolvimento com narcotráfico, lavagem de dinheiro e contrabando de cigarro para o Brasil. Na entrevista, ele rebateu essas acusações e disse que criou uma página na internet para prestar esclarecimentos. “Isso é absolutamente falso. Depois que entrei na atividade política comecei a encontrar todo o tipo de acusação.”

O presidente eleito também falou sobre os interesses comerciais entre Brasil e Paraguai. “O Paraguai tem interesse para o Brasil, pelo custo energético e de mão de obra. Juntos, os dois podem obter benefícios.”

O desejo de fazer o país voltar ao Mercosul foi expresso por Cartes diversas vezes. Ele disse que fará todo o tipo de esforço para a reintegração. Com o golpe de estado em julho passado contra o então presidente da República, Fernando Lugo, o país foi expulso do Mercosul, o que possibilitou a adesão da Venezuela como membro pleno. O parlamento paraguaio vetava a entrada daquele país ao bloco econômico.

O Paraguai foi afastado do bloco e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) em represália ao impeachment-relâmpago de Lugo. As resoluções que determinam a punição afirmam que o processo, concluído em pouco mais de 24 horas, representou “ruptura da ordem democrática”.

“Temos mais atrativos para buscar coincidências do que ficar nessa diferença, que não é boa para ninguém. Não tenho dúvida de que senadores e deputados de nosso partido sabem hoje que a prioridade é o país. Tudo o que seja bom para o país estará em primeiro lugar”, afirmou. Ele também ressaltou que o momento político vivido agora é distinto daquele que vetou a participação da Venezuela ao Mercosul. “É hora de reparar erros. Quando os senadores paraguaios tomaram a decisão de vetar a Venezuela era outro ambiente, hoje o clima é bom, o compromisso é que se normalizem as relações de mercado comum.”

Lugo

Em entrevista após a divulgação do resultado das eleições, o ex-presidente Fernando Lugo, eleito senador pela Frente Guasú, disse enxergar a derrota do Partido Liberal, nas eleições, como um “castigo” ao golpe parlamentar que o destituiu. “Tudo indica que o Partido Liberal perdeu as eleições no dia 21 de junho do ano passado, na conspiração do impeachment injusto e ilegítimo.”

Ele afirmou que a Frente Guasú é a “terceira força política do Paraguai”, e seguirá trabalhando para conquistar justiça social, junto a suas bases militantes e forças sociais.

O Partido Colorado, de Cartes, volta ao poder após um hiato de cinco anos, porém apenas com maioria relativa no Senado – 19 das 45 cadeiras.

Ouça aqui as reportagens de Marilu Cabañas, direto de Assunção.

Entrevistas no dia da eleição

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 Entrevista coletiva com o presidente eleito

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