Henrique Capriles oficializa candidatura da oposição à presidência da Venezuela
Derrotado por Hugo Chávez nas eleições de outubro, o opositor atacou os herdeiros do chavismo e disse que vai trabalhar pela 'união' dos venezuelanos
Publicado 11/03/2013 - 09h39
Página oficial do MUD já estampa campanha de Capriles ao governo venezuelano, contra Nicolás Maduro, em abril (reprodução)
São Paulo – Derrotado por Hugo Chávez nas eleições venezuelanas de outubro passado, o advogado Henrique Capriles Radonski, de 40 anos, anunciou oficialmente na noite de ontem (10) que voltará a concorrer à presidência da República como candidato único da oposição no próximo 14 de abril, data fixada pelo Conselho Nacional Eleitoral para que o povo decida quem substituirá o líder bolivariano no comando da Venezuela.
Atual governador do estado de Miranda, o mais rico e populoso do país, Capriles disse reconhecer que a disputa será “muito difícil”. Seu discurso de lançamento de campanha foi transmitido ao vivo pelo canal Globovisión, porta-voz do antichavismo. O jovem político é filiado ao partido Primero Justicia, uma das agremiações que integram a coalização opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD). Assim como fizeram em outubro, as siglas que há anos vêm lutando contra Hugo Chávez decidiram lançar uma candidatura conjunta para tentar vencer o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que terá como candidato o atual presidente interino da república, Nicolás Maduro.
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Em seu discurso, Henrique Capriles procurou deslegitimar os herdeiros de Hugo Chávez, respeitando, porém, a imagem do líder falecido. Chegou a criticar uma das medidas mais controversas tomadas pelo governo chavista durante a convalescência do presidente: a desvalorização do bolívar frente ao dólar. Nicolás Maduro justificou o aumento de 46% na moeda americana – que passou de 4,30 para 6,30 bolívares – dizendo que a medida havia sido ordenada por Hugo Chávez. E mostrou sua assinatura no decreto. “Mentira”, bradou Capriles. “Eles utilizaram uma pessoa que já não está porque não têm mais nada a oferecer ao país.”
Entorno
O candidato da MUD lembrou trechos de discursos de Hugo Chávez em que o próprio presidente reclamava de alguns setores do chavismo pelo elevado grau de corrupção que existe nas hostes governamentais. “O problema é o entorno”, citou. “E agora é o entorno que quer governar, que quer ficar no poder. Olhem como é que começaram: abusando do poder e violando a Constituição.” Capriles faz referência ao atropelo constitucional cometido pelos chavistas, que interpretaram a seu favor o artigo 233 da Carta venezuelana. De acordo com o texto, quem deveria assumir a presidência após a morte de Hugo Chávez era Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional.
“Nicolás, não vou deixar o caminho livre pra você, companheiro”, continuou o representante da MUD. “Você terá de me derrotar com votos, e vou lutar por cada voto, porque vou lutar pelo país.” Capriles também mostrou que pretende desmontar as afirmações chavista de que a oposição é entreguista e antipatriótica, pois defende os interesses do capital internacional e é alinhada aos Estados Unidos. “Vocês não são os bons e nós somos os maus. Aqui somos milhões que amamos a Venezuela”, rebateu, pedindo desculpas por erros do passado. Capriles também atacou a polarização política que existe no país entre chavistas e antichavistas. “O que tenho a oferecer é uma pátria unida. É hora de todos nos unirmos com força e amor pelo país.”
Finalmente, o governador de Miranda atacou Nicolás Maduro e seus aliados por terem mentido aos venezuelanos sobre o estado de saúde e a morte do presidente Hugo Chávez. No entanto, reconheceu que não é capaz de saber ao certo quando exatamente o líder bolivariano perdeu a vida. “Tudo isso que está acontecendo foi friamente calculado. Já sabiam quando convocaria as eleições e tinham todo o cronograma fixado. Mentiram ao país desde quando o presidente foi para Cuba”, argumentou, dizendo que jamais seria capaz de capitalizar politicamente em cima da dor alheia. “Mas você, Nicolás, você foi capaz de ir às câmeras e brincar com a esperança de milhões de venezuelanos. Quem sabe quando morreu o Hugo Chávez? Vocês tinham tudo planejado.”
Henrique Capriles formalizará sua candidatura no Conselho Nacional Eleitoral na tarde de hoje, quando vence o prazo para as inscrições. Em outubro, quando se enfrentou ao líder bolivariano, o candidato da MUD obteve 44% dos votos válidos, dez pontos a menos que seu adversário. Se desempenho surpreendeu o país. Algumas semanas depois, Capriles venceria o ex-vice-presidente da república e atual chanceler venezuelano, Elías Jaua, nas eleições para o governo de Miranda. Jaua é um dos nomes mais fortes do chavismo – e contava com todo o apoio do então presidente. A campanha presidencial começa oficialmente no dia 2 de abril e acaba no dia 11, a três dias do pleito.