Militares chilenos são flagrados ofendendo vizinhos e provocam pequena crise diplomática

Governo de Santiago foi rápido em desculpar-se com chancelarias argentina, peruana e boliviana, países ofendidos pelos cantos de um grupo da Marinha que treinava na cidade de Viña del Mar

Caracas – Uma pequena saia-justa viveram ontem (7) as forças armadas chilenas, mais precisamente a Marinha do país, após a divulgação de um vídeo em que alguns militares aparecem cantando músicas xenófobas contra argentinos, bolivianos e peruanos. Enquanto trotam pela orla de Viña del Mar, um deles grita: “Argentinos matarei”, ao que todos respondem com as mesmas palavras. Os versos seguintes dizem “bolivianos mutilarei” e “peruanos degolarei”, ambos também repetidos em alto e bom som pelo grupo.

Seria uma cena clássica de recrutas se exercitando ao ar livre, não fosse o conteúdo dos cânticos. A ‘demonstração de afeto’ aos vizinhos ocorreu durante o dia, em meio a turistas e crianças, como mostram as imagens. Aliás, a autora do vídeo é uma argentina que estava em férias no país e resolveu registrar a cena com seu celular.

O Chile mantém disputas fronteiriças históricas com Peru, por limites marítimos e pesqueiros, e Bolívia, que perdeu sua saída para o mar após uma guerra contra os chilenos no século 19. Tanto bolivianos como peruanos até hoje reclamam das porções territoriais conquistadas pelo vizinho no passado. Daí que a repercussão negativa não tenha tardado em chegar.

A Bolívia condenou o “conteúdo absolutamente racista e xenófobo do vídeo”. “Acredito que não somente é um repúdio por parte das autoridades do governo boliviano, mas que também tenha havido manifestações desfavoráveis em todas as partes do mundo”, disse a ministra de Comunicação, Amanda Dávila. Em La Paz, o Ministério de Defesa manifestou seu “enérgico protesto e rechaço”, já que ações do tipo “entorpecem e enfraquecem os compromissos internacionais básicos contidos na Carta das Nações Unidas, na Carta da Organização dos Estados Americanos e da União de Nações Sul-Americanas”.

O Peru também não gostou da canção. Seu ministro de Interior, Wilfredo Pedraza, qualificou as imagens de “vergonhosas” e pediu que fossem “investigadas e sancionadas com as máximas penas que existam dentro da Marinha chilena”. Logo após, no entanto, Pedraza expressou sua vontade em encerrar o assunto depois que as autoridades chilenas se desculparam publicamente pelo incidente e prometeram apurar os acontecimentos – inclusive com possibilidade de punir os responsáveis, se necessário.

De acordo com o jornal La Tercera, a chancelaria chilena foi rápida em iniciar gestões bilaterais com cada um dos países citados na canção dos militares – e, ao que parece, a rápida reação governamental serviu para baixar o tom das declarações e aliviar tensões. A Marinha também se apressou em apurar os fatos. O ministro de Defesa chileno, Alfonso Vargas, confirmou ontem que o vídeo foi gravado no dia 28 de janeiro, durante treinamento de 27 membros de um grupo de engenheiros que passava por treinamento em Viña del Mar. “Estão todos identificados”, garantiu Vargas. Em no máximo 20 dias, continuou, todos serão devidamente julgados pelas instâncias militares.

 

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