Oposição não emplaca alternativas a Correa e fala em ‘fraude’ para desqualificar eleição

Ouvidos pela RBA, Lucio Gutiérrez e Alberto Acosta 'desconfiam totalmente' da transparência do pleito no país; o presidente Rafael Correa pediu a seus militantes que 'controlem' o processo para evitar o retorno da oposição

Mais de 300 observadores estão no Equador para monitorar as eleições. Presidente Rafael Correa é favorito (Foto: CNE/Divulgação)

Quito – Os equatorianos vão às urnas hoje (17) para eleger um novo presidente – que pode acabar sendo o mesmo – além de representantes para a Assembleia Nacional e para o Parlamento Andino. Oito candidatos disputam o direito de governar o país, mas todas as pesquisas indicam que o atual mandatário, Rafael Correa, deve acabar com a disputa logo no primeiro turno. Os resultados oficiais começarão a ser conhecidos a partir das 19 horas. Sejam quais forem, confirmem ou não as tendências mapeadas até agora, certamente serão contestados por ao menos um candidato.

A Rede Brasil Atual ouviu três candidatos à presidência do país sobre a transparência das eleições e todos demonstraram algum tipo de desconfiança em relação ao trabalho do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), autoridade encarregada de realizar os pleitos, contar os votos e declarar os vencedores. A oposição à direita e à esquerda de Rafael Correa afirma que o órgão eleitoral está aparelhado pelo presidente, uma vez que seus membros são, em grande parte, ex-funcionários do governo.

“Obviamente, estamos muito preocupados com os rumores de que novamente o governo possa fraudar o pleito”, afirma Lucio Gutiérrez, candidato do Partido Sociedade Patriótica (PSP), que afirma ter sido roubado nas eleições de 2009, quando terminou em segundo lugar. “Não existe ninguém independente no CNE.”

As desconfianças são compartilhadas pelo candidato da Coordenadora Plurinacional das Esquerdas, Alberto Acosta, ex-aliado de Rafael Correa. “Estas eleições serão um partido de futebol que tem um árbitro vendido, pois o CNE responde às ordens do presidente da república e nos deixou de fora da organização do pleito”, diz. “Coloco totalmente em dúvida a transparência das autoridades eleitorais. São uma caixa de ressonância do governo.”

Embora por diferentes motivos, até mesmo Rafael Correa tem seu pé atrás com as eleições. Durante comício multitudinário realizado em Quito na última quinta-feira (14) para encerrar a campanha, o candidato à reeleição afirmou que os militantes de seu partido, Alianza País, devem estar preparados para monitorar a apuração.

“Estamos muito atentos para o controle eleitoral, porque as oligarquias ainda estão infiltradas no CNE e podem lançar mão das artimanhas de sempre para voltar ao poder”, alertou. “Neste domingo, teremos que prestar muita atenção ao voto. Por isso, já temos companheiros já estão trabalhando no interior do país.” De acordo com o presidente, uma possível fraude pode colocar em risco “tudo o que ganhamos” com a revolução cidadã – apelido que deu à sua gestão.

Olhos internacionais

Apesar das críticas, mais de 300 observadores de 110 países estão no Equador para monitorar as eleições. Apenas a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) enviou mais de 50 delegados para acompanhar o pleito. Além do bloco regional, haverá nos locais de votação e apuração membros da Liga Árabe e da Organização de Estados Americanos (OEA), entre outras entidades internacionais.

Ontem (16) pela manhã a chefe da missão eleitoral da Unasul no Equador, María Emma Mejía, afirmou estar “convencida de que estão dadas as condições” para a realização do pleito no que se refere ao deslocamento e distribuição do material eleitoral – urnas, cédulas e scanners que serão utilizados para a contagem rápida do CNE. “Será uma prova de fogo para o país”, analisou. “O mundo quer saber se a democracia se consolidará com as eleições de 17 de fevereiro.”

O presidente da Junta Eleitoral da República Domincana, Roberto Rosário, que também está no Equador para acompanhar o pleito, deu entrevista à canal de tevê venezuelana Telesur afastando as suspeitas de fraude. “Não recebemos diretamente nenhuma denúncia séria”, afirmou. “Não temos nenhuma preocupação quanto à legitimidade do processo.”

Na oposição, porém, Lucio Gutiérrez questiona inclusive o papel dos observadores. “Não confiamos nas pessoas que vieram acompanhar a votação. São todos amigos de Rafael Correa.” O candidato do PSP avalia ainda que o trabalho dos delegados internacionais é superficial. “Não farão auditorias nos computadores do CNE, por exemplo. São como um médico que só olha o paciente de fora e pensa que está saudável.”

Quando perdeu as eleições, em 2009, Lucio foi à tevê denunciar uma fraude que seria rapidamente descartada. Não é o que Alberto Acosta, da Coordenadora Plurinacional das Esquerdas, pretende fazer. “Se houver transparência, vamos aceitar o resultado, seja qual for, pois somos democráticos. Além disso, não tenho espírito de reclamão e não ficarei choramingando em caso de derrota.”

Um divisor de águas no Equador e no continente
O Equador é um dos únicos países da América do Sul, junto com o Chile, que não faz fronteira com o Brasil. Mas também é tocado pela floresta amazônica, além de ser cruzado pela cordilheira dos Andes, banhado pelo Pacífico e ter o privilégio de administrar as Ilhas Galápagos. Essa paisagem diversificada, concentrada num território pouco maior que o estado de São Paulo (283 mil km2), faz com que o Equador seja um dos países de maior biodiversidade do mundo. 
Aqui habitam 15 milhões de pessoas. A maior cidade é Guayaquil, com 2,4 milhões, seguida pela capital Quito, com 2,2 milhões. Seis milhões de equatorianos vivem na zona rural, dos quais 40% em condições de pobreza. Os indígenas são 10% da população e suas entidades formam o movimento social mais importante do país. A economia é fortemente baseada no petróleo. Diferente do Brasil, porém, o petróleo equatoriano se encontra na região amazônica, o que tem trazido problemas ambientais à floresta e seus habitantes. De acordo com estudos geológicos, as reservas do país começarão a minguar há cerca de 25 anos. Isso fez com que o presidente Rafael Correa começasse a abrir as portas do país à mineração industrial, também prioritariamente na Amazônia.
Após seis anos de governo, Correa é favorito para ganhar nas eleições amanhã (17) mais quatro anos de mandato. Seu favoritismo se deve à aprovação de uma nova Constituição, em 2008, além de amplas reformas realizadas por sua administração nos sistemas de saúde, seguridade social, educação e infraestrutura do país. A taxa de desemprego atual beira os 6%. 
Em resumo, Correa foi o primeiro presidente em décadas a investir o dinheiro obtido com a exportação de petróleo em programas sociais e na redução das desigualdades. As eleições do domingo serão o nono processo de consulta pública, entre referendos e eleições, a que se submete o presidente e seu partido. Até agora, venceu todos.
Sua reeleição representará uma continuidade aos processos de integração na América Latina, e ganhará relevância agora que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, maior entusiasta da chamada “Pátria Grande”, ainda luta contra um câncer e não se sabe se resistirá ao tratamento que realiza em Cuba há pouco mais de dois meses. Sua vitória significa a permanência do Equador em iniciativas como a Aliança Bolivariana para as Américas, Alba, na União de Nações Sul-Americanas, Unasul, e a disposição do país em ingressar para o Mercosul.

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