‘Guerra não pode ser destino da Colômbia’, diz líder máximo das Farc

Em primeira entrevista concedida durante negociações de paz, Timoshenko defende participação popular no processo

São Paulo – O líder máximo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) afirmou em entrevista que “a ideia de paz do governo colombiano não coincide com a das maiorias desfavorecidas”. Segundo Rodrigo Londoño, mais conhecido como “Timoshenko”, “a guerra não pode ser o destino” do país sul-americano. O combatente deu sua primeira declaração sobre as negociações de paz entre guerrilha e governo iniciadas em outubro. Uma entrevista exclusiva foi publicada pelo jornal Voz e reproduzido ontem (24) pelo site Arco Íris.

Na entrevista, Londoño disse acreditar que os processos de paz devam ser usados para estimular uma nova unidade popular, que dê ao povo colombiano uma verdadeira opção de poder. “Não somente isso é possível como também absolutamente necessário e urgente”, afirmou. “A paz que estamos procurando é a da participação decisória da nação sobre as grandes definições que dizem respeito ao seu futuro. Isso não pode continuar sendo negado na Colômbia.”

Ele também apoia que outros grupos guerrilheiros, como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e o Exército de Libertação Popular (ELP) sigam o exemplo e participem do processo.

Para o líder guerrilheiro, os debates ainda estão na fase inicial, e não seria prudente estipular um prazo para que elas se encerrassem. “A verdadeira discussão dos temas na agenda está apenas começando.” Ele lembra que em maio o confronto armado no país completará 49 anos, e poderá durar muito mais se uma reconciliação não for acertada. “Afinal, qual o sentido de se fazer escândalo por causa de um ou dois meses a mais de diálogo?”.
 
O guerrilheiro também elogiou o fórum sobre desenvolvimento agrário, teve o mérito de abrir as discussões entre as duas partes para a participação da população. “Chegaram à mesa de discussão inúmeras propostas sobre o tema. Começamos a falar com distintos setores vinculados aos problemas da terra. Tudo isso tem grande importância, mostra que as coisas estão indo bem (…) e representa um autêntico clamor por mudanças estruturais.”
 
Timoshenko admite que também fez concessões em suas demandas, especialmente no tema da reforma agrária. “Poderíamos ter começado as negociações exigindo a extinção total das grandes propriedades rurais, que seguem sendo parte de nossas metas. Mas sabemos que, dessa forma, não chegaríamos a lugar nenhum. O governo certamente possui compromissos políticos e pactos de lealdade com interesses muito poderosos no campo, mas eles não podem constituir a única via de conduta.”
 
Mas também faz questão de lembrar que a posição do governo foi pública e enfática ao não admitir, sob qualquer aspecto, debates sobre modelos de desenvolvimento. “Bem, é a posição de uma das partes que se senta com outra para buscar uma solução política para o conflito. Por isso, acreditamos que essa posição está sujeita a mudanças no decorrer das conversas. Para isso serve uma mesa de diálogo.”
 

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