Farc e governo colombiano retomam negociações de paz em Havana

Hoje tem início a quarta rodada de diálogo, marcada pelo retorno da guerrilha às ações violentas após um cessar fogo de dois meses

Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, em evento com policiais, semana passada: só assinará cessar fogo após acordo de paz (Foto: Presidência)

São Paulo – Representantes do governo colombiano e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) retomam hoje (31) em Havana, Cuba, sob observação de cubanos e noruegueses, os diálogos de paz que vêm sustentando desde 19 de novembro passado. Após outras tentativas fracassadas, levadas a cabo por governos anteriores, o objetivo é acabar de uma vez por todas com a guerra interna que já dura mais de 40 anos e atinge principalmente a população civil.

Será a quarta rodada de negociações. A última encerrou-se em 24 de janeiro. Antes da pausa de uma semana, os representantes das Farc e do governo colombiano emitiram uma declaração conjunta na qual afirmam que “o diálogo caminha com bom passo e chegamos a pontos de coincidência, embora persistam algumas diferenças”. Talvez a maior divergência até agora tenha a ver com o cessar fogo. As Farc haviam declarado um “armistício” de dois meses em respeito à abertura das negociações de paz – algo que vinha exigindo há anos.

No entanto, o presidente Juan Manuel Santos não acompanhou a atitude da guerrilha, e ordenou ao exército colombiano que continuasse a combater a insurgência mesmo durante as conversações. O governo assegura que apenas baixará as armas após a assinatura de um acordo de paz, pois teme que o cessar fogo bilateral – e a inevitável criação de zonas desmilitarizadas no país – repita o que é visto com um “erro” do passado.

Ontem, o grupo anunciou que acabava de se apoderar de dois policiais colombianos, que estão mantidos como reféns. “Nos reservamos o direito de capturar como prisioneiros os membros da força pública que tenham se rendido em combate”, diz uma mensagem das Farc divulgada pelo Twitter. “São prisioneiros de guerra, e este fenômeno se dá em qualquer conflito que exista no mundo.”

Aqui entra outra disputa simbólica que está na mesa de diálogos em Havana. O governo considera que os militares e policiais capturados pela guerrilha estão “sequestrados”, pois defende a tese de que as Farc são um grupo terrorista – essa visão do conflito já fez com que os colombianos invadissem o Equador em 2008 para eliminar seus inimigos em território alheio sem qualquer autorização do governo vizinho. Já as Farc interpretam os enfrentamentos como uma “guerra civil” e, portanto, considera as pessoas que mantém em seu poder como “prisioneiros de guerra”.

Apesar de ter voltado a apreender policiais e militares, as Farc reafirmaram seu compromisso em não mais realizar sequestros econômicos, com vistas a receber resgates em dinheiro, conforme prometeu em fevereiro de 2012. Ainda assim, antes de dar início à quarta rodada de negociações, o chefe da delegação colombiana, Humberto de la Calle, fez um pronunciamento em Havana para expressar o “rechaço absoluto” ao sequestro dos policiais. E garantiu que não é retomando a violência que a guerrilha fará com que o governo declare um cessar fogo. “As Farc terão que responder pelos crimes que cometem.”

Além da disputa política e militar, as conversações de paz que se desenrolam em Cuba têm girado em torno de temas como o desenvolvimento rural, um dos pontos mais destacados na agenda estabelecida pelas partes. Enquanto as Farc exigem uma reforma rural e agrária integral, socioambiental, democrática e participativa, que melhore as condições de vida no campo, o governo colombiano defende uma política agrária “moderna, audaz e nova”, respeitando o direito à propriedade.

Outros temas a serem abordados pelo diálogo de paz são a participação política da guerrilha, uma vez deixe as armas; o fim do conflito armado; a solução dos problemas relacionados ao tráfico de drogas; os direitos das vítimas da guerra civil e os mecanismos de verificação dos pactos a serem firmados pelo processo de paz.

Com Telesur, El Espectador e El País

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