EUA e Alemanha criticam possível saída de Reino Unido da União Europeia

Premiê britânico propôs realização de referendo sobre participação do reinado no bloco

São Paulo – Os Estados Unidos alertaram o governo britânico sobre as possíveis consequências de um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia. A Casa Branca teme que seu principal aliado europeu dê início a uma política isolacionista, o que é contrário aos interesses norte-americanos.

A advertência foi realizada por Philip Gordon, vice-ministro de Assuntos Europeus da administração de Barack Obama, durante uma entrevista coletiva na noite de ontem (9) na embaixada dos EUA em Londres. 

Depois de ter se encontrado com autoridades britânicas, o oficial pediu para o Reino Unido aumentar o seu poder no bloco em vez de se afastar da integração regional. “Nós temos uma relação crescente com a União Europeia como uma instituição que tem cada vez mais voz no mundo, e nós queremos ver uma voz britânica forte”, afirmou Gordon.

Mesmo reconhecendo a necessidade de discutir dentro de uma organização aglutinadora, o oficial norte-americano alertou para o perigo de a votação acender um debate interno entre os europeus. “É melhor para todos quando os líderes têm tempo para focar em desafios comuns” e não, em temas específicos. 

“Cada hora dispendida no debate institucional sobre a estrutura da União Europeia é uma hora a menos gasta em como lidar com os problemas comuns de emprego, de crescimento e de paz internacional em todo o mundo”, disse o diplomata.

Apesar de ter afirmado que não quer influenciar os assuntos internos da administração do reinado, o representante da Casa Branca deixou claro quais são os interesses dos EUA e apelou para os aliados britânicos não deixaram o grupo político. 

“Saudamos uma União Europeia voltada para os assuntos externos com o Reino Unido dentro do bloco”, disse ele. “Esse é o interesse norte-americano.” 

Para jornais britânicos, a declaração de Gordon pode ser uma mensagem ao governo conservador de David Cameron de que a “relação especial” entre os países pode se deteriorar duramente com a mudança de status do Reino Unido no bloco regional.

Foi a primeira vez que o governo norte-americano se pronunciou publicamente sobre o caso. No entanto, na semana passada, o presidente Obama advertiu o premiê britânico em uma reunião privada. 

Outros parceiros internacionais também criticaram a proposta de Cameron e uma possível saída britânica da União Europeia. O premiê irlandês, Enda Keny, descreveu a situação como “desastrosa” e o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, pediu para o reinado continuar membro “ativo e de liderança”.

O governo de Angela Merkel foi mais duro na sua avaliação. “Certamente, existe o risco de o referendo paralisar os esforços para melhorar a Europa e aprofundar a integração. O Reino Unido pode ficar isolado e isso não pode ser de seu próprio interesse”, afirmou Gunther Krichbaum, do comitê alemão de assuntos europeus.

O oficial criticou a possibilidade, indicada por muitos, das autoridades britânicas ameaçarem bloquear as medidas que fortalecem o euro se não conseguirem aprovar as reformas que quer. “Não podemos criar um futuro político se você está chantageando os outros estados. Isso não vai ajudar o Reino Unido, que precisa também de uma Europa estável”, disse.

A proposta do referendo sobre a permanência do país na União Europeia foi feita por Cameron no início deste mês em uma entrevista a rádio BBC 5. De acordo com o primeiro-ministro, os britânicos têm o direito de opinar sobre o relacionamento do reinado com a Europa frente às mudanças que o bloco pretende realizar para fortalecer o euro. Entre tais medidas está a criação de um supervisor bancário único.

Ainda neste mês de janeiro, o premiê se pronunciará sobre a votação proposta para dar mais detalhes. De acordo com o Guardian, Cameron deve afirmar que se ele for eleito em 2015, vai revisar o acordo da União Europeia para promover novos arranjos de governança e repatriar poderes.

Além da possibilidade de saída do bloco, propostas de novos termos de participação do Reino Unido serão colocadas em votação no referendo. Pesquisas de opinião públicas recentes indicam que grande parte dos britânicos é favorável à saída do reinado do grupo regional.