Jornalistas que investigam ditadura de Pinochet sofrem série de atentados no Chile

Nos últimos quatro dias, foram registrados três casos semelhantes de roubo de informações

Santiago –  Três jornalistas que trabalhavam em investigações relativas à ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) tiveram suas casas invadidas e informações roubadas nos últimos quatro dias no Chile. Uma quarta vítima recebeu ameaças telefônicas. “Em quase todos os casos, os objetos levados continham informações ligadas à investigação jornalística, o que leva a suspeita de que foram ações planejadas, e talvez coordenadas, pelo fato de terem ocorrido em questão de dias”, explicou uma das vítimas e autor do livro Associação Ilícita – Os Arquivos Secretos da Ditadura, Mauricio Weibel.

O repórter, que trabalha como correspondente da agência alemã DPA, apresentou pedido na terça-feira (18) ao Ministério Público do país, solicitando amparo policial aos profissionais atacados e investigação urgente sobre os casos. O órgão acatou a solicitação, mas deve definir a prioridade do inquérito nos próximos dias.

O governo chileno também manifestou repúdio aos incidentes. O ministro do Interior, Andrés Chadwick, conversou pessoalmente com Weibel e colocou à disposição do jornalista e sua família uma guarda policial permanente. O repórter pediu que o apoio também fosse dedicado às demais vítimas.

Cronologia dos casos

A onda de atentados começou na sexta-feira (14) com o roubo do carro de Weibel. Nessa mesma tarde, pessoas vestidas como carabineiros (polícia militarizada chilena) visitaram a antiga residência do jornalista, solicitando informações a respeito de sua família.

O jornalista Javier Rebolledo também teve sua casa invadida e roubada na sexta (14). Os ladrões levaram apenas o pendrive onde ele guardava informações reunidas para o seu novo livro, que pretendia lançar no ano que vem, sobre os poderes civis por trás da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Em 2012, Rebolledo publicou o livro A Dança dos Corvos, no qual descreve casos de tortura e assassinato cometidos pelo governo chileno a partir dos relatos de pessoas ligadas aos órgãos de repressão. A obra ainda revela o esquema de fraude eleitoral realizado pelos serviços de inteligência da ditadura para garantir a aprovação da Constituição de Pinochet (1980), vigente no país até hoje.

No dia seguinte (15), Weibel teve sua casa invadida e no incidente, somente foram roubados dois notebooks, um deles no qual havia informação referente às suas investigações jornalísticas. Em outubro deste ano, o jornalista lançou o livro Associação Ilícita – Os Arquivos Secretos da Ditadura, onde apresenta documentos oficiais da ditadura e demonstra a relação entre os serviços secretos e as diversas instâncias de poder no Chile e até a relação deles com organismos e instituições de fora do país.

No domingo (15), o jornalista Carlos Dorat, coautor do livro junto com Weibel, recebeu uma série de telefonemas anônimos ameaçadores. Segundo ele, a pessoa que ligava, no momento em que ele atendia e perguntava quem era, ficava muda, e depois de um minuto desligava.

O último caso se deu na segunda-feira (17), quando o jornalista e escritor Juan Cristóbal Peña teve sua casa invadida e revirada, embora não tenha reportado a perda de algum material de trabalho. Peña é autor do livro Os Fuzileiros, que conta a história de alguns dos integrantes da FPMR (Frente Patriótica Manuel Rodríguez), que foram responsáveis pelo atentado contra o ditador Augusto Pinochet no dia 7 de setembro de 1986.

Um possível quinto caso é o da invasão da casa da correspondente do jornal The New York Times no Chile, Pascale Bonnefoy, ocorrido em novembro deste ano, quando o seu notebook foi levado. A jornalista investiga casos de violações de direitos humanos, incluindo no período ditatorial, e foi chamada para dar declarações em processos jurídicos.

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