Renúncia de premiê italiano faz Berlusconi ensaiar volta ao poder

Primeiro-ministro Mário Monti disse no sábado (8) que deixará o cargo após a aprovação do Orçamento

São Paulo – O anúncio do primeiro-ministro italiano Mario Monti, de que vai renunciar ao cargo no início do janeiro, após a aprovação do Orçamento, trouxe desconfiança ao mercado financeiro e jogou o país em mais uma crise política. A informação foi divulgada no sábado (8) pelo presidente da República, Giorgio Napolitano, após reunião com o premiê. 

Monti escolheu comunicar sua demissão no sábado, dia em que os mercados estão de folga, para que pudessem absorver com mais tranquilidade a decisão. Mas não adiantou. A Bolsa de Valores de Milão registrou ontem (10) queda de 2,3% e piorou as avaliações da Itália: o risco subiu 33 pontos, fechando em 365.

À noite, após a entrega do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia, Monti, que foi à Noruega assistir à cerimônia, tentou tranquilizar os agentes do mercado sobre sua renúncia. 

“Os mercados não têm que temer um vazio de poder na Itália”, disse. Uma das grandes razões para a turbulência na Bolsa de Valores é o possível retorno do milionário Silvo Berlusconi ao governo italiano. Berlusconi já liderou o Executivo por três vezes, e saiu em novembro do ano passado após perder a confiança do Parlamento: seus pares acreditavam que il Cavalieri não seria capaz de fazer frente à crise financeira em que o país está mergulhado. “Entendo a reação dos mercados, mas não precisam fazer drama”, insistiu Monti, que ainda não decidiu se irá disputar as próximas eleições, em abril.

O retorno de Silvio Berlusconi à cena política italiana está no centro não apenas das incertezas econômicas, como também da renúncia do primeiro-ministro. A decisão de Monti foi tomada depois que o representante do partido Povo da Liberdade (PDL), agremiação de Berlusconi, deu um voto de desconfiança ao governo. Ao perder apoio de parte importante do parlamento, o premiê decidiu deixar o poder. Il Cavalieri não deixou por menos e imediatamente começou sua campanha rumo ao cargo, que deseja ocupar pela quarta vez.

“Todos os indicadores econômicos pioraram”, expressou, acusando Monti de conduzir um governo germanocêntrico, em referência à suposta subserviência da Itália aos interesses da chanceler alemã, Angela Merkel. A Alemanha é o país mais importante da União Europeia e tem sido criticada por incentivar as medidas de austeridade praticadas por Grécia, Espanha e Itália. “Quando eu governava o país era dos chefes de governo mais respeitados da Europa. Mas é verdade que era contrário aos pedidos alemãos que quase levaram a Grécia à guerra civil.” Berlusconi agora tenta costurar apoio da Liga Norte para viabilizar sua candidatura.

Ao lado de Grécia e Espanha, a Itália é a nação europeia que mais vem sofrendo com a crise financeira internacional. A própria ascensão de Mario Monti ao poder é prova disso. Economista e ex-funcionário do banco Goldman Sachs, um dos grandes responsáveis pela crise, Monti não foi eleito para o cargo. Uma manobra política fez com que o presidente italiano, Giorgio Napolitano, lhe concedesse o título de “senador vitalício”, normalmente concedido a ex-chefes de Estado e figuras de destaque na sociedade italiana. Como tal, Monti pôde nomeado – e não eleito – ao posto de premiê para substituir Silvio Berlusconi, que então estava desacreditado pelo mercado.

Monti foi escolhido com a missão de estruturar um “governo técnico” que tirasse a Itália da crise – e por este apelido ficou conhecida sua breve gestão, de pouco mais de um ano, à frente do Executivo romano. Quando cumpriu 365 dias no poder, Monti disse que sua gestão havia salvado não apenas a Itália, mas toda a Zona do Euro. “Talvez hoje, sem as políticas de rigor aprovadas pelo Executivo, não existisse a eurozona ou teria ficado reduzida em sua dimensão geográfica, sem o que a Itália, com um esforço coletivo sem precedentes, conseguiu realizar.”