Occupy Wall Street lança campanha de resgate de dívidas nos EUA

Projeto Rolling Jubille, lançado nesta semana, tem como objetivo perdoar mais de 1 milhão de dólares em dívidas

O movimento Occupy Wall Street pode ter sumido dos holofotes da mídia e das ruas norte-americanas nos últimos meses, mas isso se deu apenas porque os seus integrantes estão empenhados em organizar um novo projeto contra o sistema financeiro: o Rolling Jubille. Assim como os bancos foram resgatados pelo governo dos Estados Unidos, o Occupy Wall Street quer resgatar o 99% da população, que permanece atolada em dívidas consequentes da recessão econômica.  

Os ativistas lançaram uma campanha nacional nesta semana de arrecadação de dinheiro destinada ao resgate da população norte-americana endividada com contas médicas, financiamento hipotecário e educacional, entre outros empréstimos. 

Em sua primeira ação, que serviu para testar a viabilidade da iniciativa, o grupo gastou US$466 e conseguiu abolir US$14.000 em dívidas de saúde, livrando algumas pessoas dos abusivos juros bancários. Por conta do sucesso da operação, os ativistas decidiram expandir o projeto para todo o território norte-americano e estabelecer como meta inicial a arrecadação de US$50 mil para perdoar US$1 milhão em dezenas de dívidas.

Como funciona? Nos Estados Unidos, indivíduos e empresas podem comprar dívidas dos credores por preços relativamente baixos se o devedor não está em dia com as prestações ou dá sinais de que não conseguirá pagar o empréstimo. O comprador pode continuar cobrando a pessoa endividada ou perdoar sua dívida, e é isso o que o Occupy Wall Street está fazendo. O movimento inverteu a lógica do sistema financeiro que entende a medida como uma ação de risco, mas que pode gerar altos lucros. Neste processo de negociação, a organização estima que a cada US$1 investido na compra da dívida, US$30 são abatidos. “Isso é uma barganha louca!”, conta um dos integrantes. 

“Depois de muitas consultas com advogados, com o IRS (o equivalente a receita federal norte-americana), e nossos colaboradores no mundo das dívidas podres, nós estamos prontos para levar o Rolling Jubille para toda a nação, comprando as dívidas das comunidades que lutam durante a recessão”, afirmaram os organizadores em um comunicado. 

Assistencialismo ou injustiça?

Embora não estejam protestando contra o sistema financeiro nas ruas de Nova York, o novo projeto do Occupy Wall Street mantém a crítica às políticas econômicas do governo e continua a defender o 99% da população em oposição à elite bancária. A aparência assistencialista da iniciativa ganha novos contornos com a justificativa da luta contra o sistema.

“Os 99% estão sob ataque. Nós usamos cartões de crédito para pagar nossas contas no fim do mês. Enquanto isso, Wall Street ganhou milhões de dólares em cima destes empréstimos”, afirma o vídeo de promoção (veja abaixo) da campanha. “Eles estão ficando mais ricos ao nos manter endividados. Wall Street ergueu o sistema contra nós. Eles cometeram fraude e mesmo assim, foram resgatados, deixando suas dívidas sob nossa responsabilidade”. 

Isso não poupou, no entanto, o movimento de críticas por sua nova proposta. O jornalista Matthew Yglesias, do site de notícias Slate, questiona porque os ativistas não estão doando esse dinheiro para outras pessoas necessitadas, mas que não contraíram dívidas. “Pensando em duas famílias que passam por dificuldade, uma que está endividada e a outra não, não está claro porque achar que a família que pegou grandes quantias de dinheiro emprestado é mais digna de assistência”, escreveu ele. 

Doação

O programa pede, agora, a colaboração das pessoas que podem doar dinheiro para a causa.  “Este é um jeito simples, mas poderoso de ajudar os companheiros necessitados e libertá-los de pesadas cargas de dívida para que possam ter foco em serem produtivos, felizes e saudáveis”, explica David Rees, que participou da elaboração da iniciativa.

O Occupy Wall Street também organizou o festival “O Resgate do Povo” em Nova York no dia 15 de novembro para divulgar a nova campanha. Os ingressos, que variam de US$25 a US$250, já estão esgotados e todo o valor será revertido para o fundo do projeto. 

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