Exército é acusado de manipular eleições municipais no Chile

Santiago – Uma denúncia de fraude eleitoral no pequeno município de Pozo Almonte, com pouco mais de 10 mil habitantes, no extremo norte do Chile (a 1.800 quilômetros da capital […]

Santiago – Uma denúncia de fraude eleitoral no pequeno município de Pozo Almonte, com pouco mais de 10 mil habitantes, no extremo norte do Chile (a 1.800 quilômetros da capital Santiago), pode colocar em xeque muitos pleitos no país, que viverá neste domingo (28/10) suas eleições municipais, de turno único.

Segundo o deputado comunista Hugo Gutiérrez, a eleição em Pozo Almonte está influenciada por uma instrução secreta do Regimento Baquedano, quartel militar localizado na cidade, que induz os soldados em serviço a votarem todos no mesmo candidato.

A denúncia de Gutiérrez se baseia em um depoimento recém-emitido à Justiça pelo ex-encarregado regional do Servel (Serviço Nacional Eleitoral do Chile) Miguel Ángel Gomez, que apresentou como prova diversos pedaços de papel com o nome do candidato Augusto Smith, todos com a mesma grafia, os quais teriam sido usados como cola nas eleições de 2008.

Segundo o depoimento de Gómez, outro indício de que os votos do Regimento Baquedano são manipulados é o fato de que o endereço do quartel tem sido declarado domicílio eleitoral de quase todos os soldados em serviço desde 1998.

Além disso, Gómez apresentou os registros das duas últimas eleições em Pozo Almonte, indicando que o candidato Augusto Smith venceu somente nas duas zonas eleitorais onde estão inscritos os soldados.

Pozo Almonte é uma das raras cidades do norte do Chile governadas por um político de direita. Augusto Smith, do partido Renovação Nacional (o mesmo do presidente chileno, Sebastián Piñera) é prefeito desde 1993 – não existe limite de reeleições para prefeitos no Chile. Em 2008, ele conseguiu seu quinto mandato após receber 56% dos votos válidos em um universo de pouco mais de 1800 eleitores, entre os quais os soldados do Regimento Baquedano representam mais de 500 votos.

Segundo Gutiérrez, “esse não é um escândalo pequeno, já que o Exército chileno tem um histórico de intervenção eleitoral desde os tempos dos plebiscitos que sustentaram a ditadura de Pinochet” – em junho deste ano, um ex-colaborador da repressão causou furor no país ao denunciar que a Constituição de 1980, vigente até hoje no país, foi aprovada em um plebiscito que contou com uma gigantesca fraude eleitoral organizada pelo Exército.

O deputado também solicitou ao general Juan Miguel Fuente-Alba, comandante-em-chefe do Exército chileno, uma investigação interna sobre se há instrutivos secretos dentro da instituição para que se vote em determinados candidatos. Segundo ele, existe o temor de que o caso de Pozo Almonte possa se repetir em outros municípios onde também há regimentos do Exército. “Os militares são cidadãos como quaisquer outros e seu direito ao voto é legítimo e inquestionável, o que questionamos aqui é se esse voto vem sendo manipulado de forma a viciar os processos eleitorais”, explicou Gutiérrez.

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