TV australiana recorre de condenação por racismo contra indígenas brasileiros

Emissora divulgou reportagem que chama povo suruwaha de 'assassino de crianças'

Organização quer que emissora divulgue correção à reportagem que difama índios (Foto:Armando Soares Filho/Funai)

São Paulo – A emissora de TV Channel 7 da Austrália vai à Justiça amanhã (11) em busca de uma revisão do órgão regulador de mídia do país, que a condenou por veicular uma reportagem racista. A matéria do programa Sunday Night retrata os índios suruwaha, no Amazonas, como um povo indígena “assassino de crianças”. Após sua exibição no ano passado, a Survival International, uma organização internacional que defende direitos indígenas, reclamou à Autoridade Australiana de Comunicações e Mídia, afirmando que a reportagem era racista e mentirosa.

Na matéria Amazon’s Ancient Tribe (Antiga Tribo da Amazônia), os repórteres Tim Noonan e Paul Raffaele afirmam que os suruwaha cometem infanticídios. Eles declararam que esses indígenas acreditam que as crianças recém-nascidas de mães solteiras ou com doenças são maus espíritos e que, portanto, devem ser queimadas ou abandonadas na selva para serem devoradas por animais selvagens. A reportagem declara que esses indígenas vivem na “Idade da Pedra” e que são “um dos piores violadores dos direitos humanos no mundo”.

A Autoridade Australiana de Comunicações e Mídia considerou que a Channel 7 violou duas cláusulas do código de televisão elaborado em 2010 pelo país. Uma  delas determina que as emissoras não podem produzir materiais que possam provocar ou perpetuar intenso desgosto, sério desprezo ou severa ridicularização contra uma pessoa ou um grupo. A outra cláusula prevê que as emissoras devem veicular informações factuais e precisas. Amanhã, a Channel 7 tentará provar que suas afirmações sobre os suruwaha não deveriam ser consideradas como factuais.

Para o diretor da Survival, o inglês Stephen Corry Channel, seja qual for a alegação da Channel 7, a ofensa aos suruwaha não deve ser tolerada. “Channel 7 está pedindo à corte australiana que rejeite as considerações do órgão regulador, declarando que seus espectadores não foram sequer levados a acreditar que a matéria fosse verídica. Se há ou não algo errado em veicular conscientemente suas invenções sórdidas como notícias, a difamação dos suruwaha não pode ser vista como uma brincadeira”, disse ele.

A Survival deseja que a emissora abra, em sua programação, o mesmo espaço para veicular uma correção da reportagem. Mas a Channel 7 se nega a fazer a isso. Uma das ativistas responsáveis por essa campanha, a inglesa Sarah Shenker, afirmou que a s Survival poderia até produzir para eles um vídeo que explicasse quem realmente são os suruwaha. “A Channel 7 deveria emitir sua própria correção, e aí então os suruwaha podem decidir o que querem fazer nesse espaço. Se eles quiserem ajuda, nós estaremos aqui. Eles foram completamente ultrajados pelo programa”, disse Sarah.

De fato, antigamente, os suruwaha cometiam infanticídios, mas a prática foi abandonada há anos, segundo antropólogos brasileiros e a Survival. A organização divulgou diversas declarações de indígenas integrantes da aldeia visitada pelos repórteres australianos que desmentem as informações da reportagem.

 

Leia também

Últimas notícias