Chile: Concertação aposta em eleições municipais para recuperar prestígio

Coligação que governou o país vizinho entre 1990 e 2010 conta com prestígio da ex-presidenta Michelle Bachelet, mas enfrenta baixa aprovação popular

São Paulo – Com a aprovação popular em baixa, a Concertação, principal bloco político de oposição no Chile, encara as eleições municipais marcadas para o dia 28 de outubro como uma oportunidade de recuperar o prestígio que foi sendo perdido gradativamente desde 2008.

Há quatro anos, quando o país era presidido pela socialista Michelle Bachelet, a Concertação obteve mais votos e elegeu mais prefeitos e vereadores que a Coalizão Pela Mudança, aliança conservadora liderada pelo atual presidente, Sebastián Piñera. Porém, a direita venceu nas comunas mais importantes: Santiago Centro, Providencia, Estação Central, Valparaíso e Concepción – municípios que reúnem quase metade do eleitorado chileno.

No último mês de agosto, uma pesquisa do CEP (Centro de Estudos Públicos) deu apenas 14% de aprovação popular à Concertação. Além de principal bloco opositor, a Concertação (coligação de centro-esquerda formada poro Partido Socialista, Democracia Cristã, Partido Pela Democracia e Partido Radical Social Democrata) venceu todas as eleições presidenciais no país após a reabertura democrática, em 1990, até a vitória de Piñera em 2010.

Segundo o analista político Sergio Micco, do Instituto de Assuntos Públicos da Universidade do Chile, a disputa nos municípios está condicionada às eleições presidenciais de 2013, onde a Concertação sonha em vencer novamente com Bachelet, que apesar dos números ruins da coligação, se mantém, de longe, como figura política mais popular do país – ela é apontada como candidata presidencial preferida por 50% dos eleitores.

Para Micco, a missão concertacionista este ano é fortalecer a candidatura de Bachelet à Presidência, recuperando terreno nas comunas estratégicas. “As eleições municipais funcionam como primárias nacionais porque a eleição para a Presidência é no ano seguinte, e o resultado municipal afeta decisivamente o ânimo das militâncias”.

Panorama

Micco vê dificuldades para a Concertação nas comunas mais importantes: “em três dos cinco casos, a situação está indefinida, e em outro a direita tem clara vantagem. A oposição precisa de ao menos duas vitórias para não deixar a Coalizão se consolidar nas comunas estratégicas”, analisou.

A favor da Concertação estaria o fato de que a própria Bachelet é o fator que pode levar a essa mudança de panorama eleitoral. “Os candidatos da Concertação precisam aproveitar o apoio de Bachelet, enquanto a direita terá que esconder o Piñera (cuja popularidade é de 27%), cujo apoio traz mais rejeição que votos”, ressaltou Micco.

As cinco comunas que possuem os maiores colégios eleitorais do Chile estão, hoje, sob o controle da UDI (União Democrata Independente), partido mais conservador da aliança governista. Não existe limite para reeleições na esfera municipal, o que faz com que a briga da oposição seja, em alguns casos, contra verdadeiras dinastias.

É o caso de Cristián Labbé, ex-guarda-costas pessoal de Pinochet, que comanda a Prefeitura de Providência (uma das comunas que compõe Santiago) desde 1996, e que, em 2012, buscará seu quinto mandato. Situação parecida acontece em Concepción, onde Jacqueline Van Rysselbergue venceu as últimas três eleições, e hoje trabalha por seu afilhado político para conquistar a quarta vitória consecutiva do partido na cidade.

Novidades

As eleições municipais também serão a primeira em que atuará a nova lei eleitoral chilena, que prevê a implementação do voto voluntário e da inscrição automática.

Pela lei antiga, o eleitor podia se inscrever voluntariamente para votar até cinco meses antes da eleição. Uma vez inscrito, ele passava a ser obrigados a votar, enquanto os que não se inscreviam eram proibidos legalmente de participar do pleito. Com a lei atual, não só os eleitores inscritos podem escolher se querem ou não votar como os eleitores que não estão inscritos podem fazê-lo inclusive durante a jornada eleitoral, o que os tornaria automaticamente aptos a votar.

O analista político Sergio Micco vê as mudanças com preocupação. Para ele, “o conceito de voto como um direito e não um dever cria certa elitização do pleito, porque aumenta o desinteresse, principalmente no eleitor de baixa renda, que acredita menos na política ou se sente mais atraído pela tentação de vender o voto”.

Para reforçar sua tese, Micco cita a pesquisa do CEP divulgada em agosto, onde apenas 50% dos entrevistados se disseram dispostos a votar nas eleições municipais. Quando o mesmo indicador reparte as respostas pelo nível socioeconômico, 46% dos entrevistados de baixa renda (42% da população) dizem que votarão com certeza e 18% reponderam que “talvez o farão”. Entre os de classe alta (5% da população), 64% deram certeza do voto e 22% disseram que talvez.

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