‘Golpista’, gritam manifestantes contra novo presidente paraguaio
Federico Franco assistia às comemorações pelo aniversário de Assunção. Data coincide com início daquele que seria último ano de mandato do destituído Fernando Lugo
Publicado 15/08/2012 - 15h41
O chanceler do Paraguai reprovou a ideia de Franco de submeter a saída do Mercosul a consulta popular (Foto: Andrés Cristaldo. EFE)
São Paulo — O presidente do Paraguai, Federico Franco, foi vaiado hoje (15) por um grupo de aproximadamente 40 manifestantes em Assunção. Franco assistia à abertura das comemorações pelo 475° aniversário da capital paraguaia quando sugiram gritos de ‘golpista’ e outras palavras de ordem contra sua administração. As informações são da Agência EFE.
Isso porque a data de hoje coincide com aquele que seria o primeiro dia do último ano de mandato do ex-presidente Fernando Lugo, destituído por um impeachment-relâmpago no último 22 de junho. Federico Franco, que ocupava a vice-presidência, assumiu o poder após o parlamento paraguaio ter proposto, discutido e votado a destituição de Lugo em apenas 48 horas. O então presidente era acusado por mau desempenho de suas funções. Segundo deputados e senadores, essa incapacidade de governar teria ocasionado a morte de 17 pessoas — seis policiais e onze camponeses — durante uma reintegração de posse em Curuguaty, norte do país.
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Antes de decretar o impeachment, o congresso paraguaio havia tentado aprovar a destituição constitucional de Fernando Lugo em 23 oportunidades desde 2008, quando venceu as eleições e assumiu o Palácio de López. Daí que os partidários do ex-presidente — e os manifestantes que vaiaram Federico Franco hoje em Assunção — acusem o atual governo de ‘golpista’.
Devido ao que foi interpretado pelos países vizinhos como uma ‘quebra da ordem democrática’, o Paraguai está suspenso da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e do Mercosul, bloco comercial composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. Aliás, o ministro de Relações Exteriores paraguaio, José Fernández Estigarribia, descartou hoje a possibilidade de realizar um plebiscito para que a população decida se o país deve continuar no Mercosul — a suspensão do Paraguai é temporária e condicionada à realização de novas eleições livres.
A proposta fora apresentada ontem pelo presidente Federico Franco. Segundo o chanceler, porém, a constituição proíbe que decisões de caráter internacional sejam definidas em consultas populares. “[A sugestão se deve ao] sentido democrático do presidente”, disse Estigarribia, conforme informou a Agência Brasil.
A saída definitiva do Paraguai, continuou, deve ser submetida à apreciação e votação no congresso. Empenhado em desfazer a impressão negativa causada pela destituição de Fernando Lugo, o chanceler acrescentou que os líderes estrangeiros observam o Paraguai e “têm uma visão clara do que ocorre” no país. Estigarribia, no entanto, avaliou que os latino-americanos “fazem juízo de valor errado” sobre a situação política paraguaia.