Goldman Sachs não será processado por fraude financeira

Investigação do Senado norte-americano sugeriu que o banco contribuiu com a crise do 'subprime', em 2008

São Paulo – O banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs e seus executivos não serão processados por fraude contra o mercado de ações, declarou o Ministério Público dos Estados Unidos na quinta-feira (09). Em um comunicado oficial, o departamento disse que não possui provas suficientes para indiciar a gigante de Wall Street por negligência na crise do “subprime”, denunciada pelo Senado norte-americano em abril de 2011. 

“Depois de uma revisão cuidadosa da informação providenciada pelo relatório (do Senado) e mais de um ano de investigações meticulosas”, informou o texto do MP, “as agências de justiça e de investigação concluíram que o ônus da prova para conduzir um processo criminal não foi cumprido com base na lei e nos fatos que existem até este momento”. O departamento, no entanto, não descartou a possibilidade de julgar a empresa caso novas provas apareçam.

“Nós estamos satisfeitos que este problema tenha ficado no passado”, respondeu David Wells, porta-voz da instituição financeira, citado pela revista Bloomberg.

Investigação do Senado

Liderados pelo senador democrata Carl Levin, o Subcomitê Permanente do Senado norte-americano realizou uma investigação por dois anos sobre as causas da crise do “subprime” que atingiu os EUA e o mundo em 2008 e 2009, juntando aproximadamente 56 milhões de páginas de documentos. Em abril de 2011, o grupo divulgou um relatório com as suas principais conclusões.

Segundo o documento, a empresa e outros bancos tomaram conhecimento da crise da hipoteca das casas norte-americanas e passaram a vender os títulos de seguros imobiliários podres que possuíam aos seus clientes sem avisá-los de que lucraria com a queda do valor dessas ações. Além de ter lucrado bilhões às custa do prejuízo de milhares de pessoas, a Goldman Sachs contribuiu para a expansão e agravamento da “bolha” imobiliária ao incentivar pessoas de todas as partes do mundo a comprar os títulos de risco, aumentando a especulação em cima de títulos podres. 

“Usando e-mails, memorandos e outros documentos internos, este relatório conta a história interna do assalto econômico que custou a milhões de norte-americanos seus trabalhos e suas casas, que acabou com investimentos, bons negócios e mercados”, explicou Levin. 

“Empréstimos de alto risco, falhas na regulação, créditos inflacionados, e empresas da Wall Street entrando em conflitos de interesse com seus clientes, contaminaram o sistema financeiro dos EUA com hipotecas tóxicas”, acrescentou ele, que pediu à Justiça para que avalie se o conflito de interesses presente nas transações da Goldman Sachs poderia ser enquadrado em um processo criminal.  

O banco se defendeu das acusações por meio de seus principais funcionários que alegaram não saber do prejuízo que estavam infligindo aos seus clientes. Lloyd Blankfein, chefe executivo da Goldman Sachs, garantiu à equipe de investigação que a empresa nunca apostou contra investidores em prol de seus interesses.

Outras acusações

O Senado norte-americano não foi o único a acusar a instituição financeira de conflitos de interesse e cumplicidade com a crise do “subprime”. Um relatório da SEC (Comissão dos Mercados de Valores dos EUA) de abril de 2010 também denunciou a Goldman Sachs por induzir clientes ao erro e omitir fatos na venda dos seguros. A empresa pagou 550 milhões de dólares ao grupo para solucionar o processo em julho do mesmo ano.

A decisão do MP veio no mesmo dia em que a SEC decidiu não processar mais a empresa pela venda de 1,3 bilhões de títulos de seguro de hipoteca, como informou a Goldman Sachs. As duas novidades proporcionaram boas notícias à gigante de Wall Street, cujas ações já voltaram a crescer na quinta-feira (09/08).

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