Comissão volta a alertar ONU que só via diplomática resolve crise na Síria

Grupo comandado pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro entende que forças leais ao presidente e de oposição cometeram crimes contra a humanidade

Para Paulo Sérgio Pinheiro não existe solução militar e a população síria tem sido a maior vítima dos conflitos (Foto: UN Photo/Jean-Marc Ferré)

São Paulo – A comissão independente que investiga a violação dos direitos humanos na Síria voltou a cobrar hoje (15) que as Nações Unidas atuem para garantir uma solução diplomática para a crise institucional no país, abalado por graves conflitos entre as tropas do presidente Bashar al-Assad e seus opositores. O grupo, presidido pelo professor brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, emitiu novo relatório afirmando que as duas partes cometeram crimes contra a humanidade.

“A crescente militarização do conflito é desastrosa para o povo sírio e poderia provocar consequências trágicas para a região inteira”, diz o comunicado. Antes da divulgação, Pinheiro afirmou à Rádio ONU que a situação é “desesperadora”. “Não há uma solução militar, a Comissão acredita que só uma solução político-diplomática terá condições de cessar esta escalada da violência e preparar a Síria para uma transição política que tenha condições de estabelecer a vigência dos direitos humanos para a imensa diversidade que há na Síria”, enfatizou.

O comunicado volta a cobrar que a comunidade internacional encontre um caminho comum para a transição política no país, dando fim ao conflito, que já dura 17 meses. O documento, de 102 páginas, será entregue à Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, ao término do atual mandato da comissão, que em setembro apresentará seu trabalho ao Conselho de Direitos Humanos. O grupo sugeriu ainda que o caso seja enviado ao Conselho de Segurança e ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. 

“A comissão encontrou motivos razoáveis para acreditar que as forças governamentais e a shabbiha haviam cometido os crimes contra a humanidade de assassinato e de tortura, crimes de guerra e graves violações da lei internacional dos direitos humanos e da lei humanitária internacional, incluindo matança ilegal, tortura, detenção arbitrária, violência sexual, ataque indiscriminado, pilhagem e destruição de propriedade”, dizem os investigadores. 

O levantamento de dados concluiu que as violações foram cometidas com a anuência do alto escalão das Forças Armadas, além do próprio governo de al-Assad. Pinheiro informou que os membros das forças governamentais envolvidos nos crimes estão todos indicados no relatório. 

A especialista norte-americana Karen AbuZayd, que atua como pesquisadora sênior na equipe de Pinheiro, disse à Reuters: “Nós identificamos ambas as partes como culpadas de crimes de guerra e, claro, um maior número e maior variedade do lado do governo. O que ocorreu do lado do governo parece ser uma política do Estado. Não são apenas operações complexas em larga escala, mas similares e disseminadas, e o modo como são realizadas, o modo como os militares e as forças de segurança trabalham em conjunto”, comentou.

Com informações de agências.

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