Para especialista, principais partidos mexicanos não têm diferença ‘substancial’

Professor de Ciências Políticas da Universidade de Colima afirma que qualquer que seja vencedor nas eleições presidenciais de hoje será o que a população considerar 'menos ruim'

Manifestação popular marca o fim das campanhas eleitorais à presidência do México: insatisfação e incerteza sobre o futuro (CC/Javier Armas/Flickr)

São Paulo – Os mexicanos que vão às urnas hoje (1º) têm uma complexa tarefa na escolha de seu representante para a cadeira presidencial. A relação política e econômica com os Estados Unidos e a sangrenta guerra para combater o crime organizado, que já fez milhares de vítimas nos últimos anos, estão entre os principais pesos para a escolha dos cidadãos mexicanos.

Os três principais postulantes são Enrique Peña Nieto, do PRI (Partido Revolucionário Institucional), e Andrés López Obrador, do Partido de la Revolución Democrática (PRD), Josefina Vázquez Mota, do Partido da Ação Nacional (PAN), e Gabriel Quadris de La Torre, do Partido da Nova Aliança (PNAL).

Quem comenta o atual cenário político do México e o que está em jogo nas eleições é o professor de Ciências Políticas da Universidade de Colima, Jorge Luis de Santiago. O pesquisador não vê diferenças significativas entre as legendas e seus candidatos, resultado da complexa formação histórica, política e cultual do país.

Confira a entrevista:

Como foram os debates entre os candidatos à Presidência do México?

A verdade é que os debates televisionados no México têm uma história relativamente curta. Na campanha presidencial de 1994, que saiu eleito o candidato do PRI, Ernesto Zedillo Ponce de León, na opinião de muita gente havia saído vencedor o candidato Diego Fernandez de Cevallos, do PAN. Também ocorreu posteriormente em 2000, quando Vicente Foz ganhou o debate e a presidência. E nos comícios em 2006, quando ninguém pôde destacar-se no debate, Felipe Calderón ganhou em meio a uma das campanhas eleitorais mais sujas.

Atualmente, podemos dizer que apenas dois debates se realizaram. Prefiro falar que não existiu nenhum ganhador absoluto comprovado, já que todos dizem sair vitoriosos ao final da discussão. Nesse sentido, digo que cada meio de comunicação anuncia um ganhador dependendo da filiação política do proprietário ou sua vinculação com seus negócios.

Para mim, esses debates têm sido cansativos, já que são em formato de debate muito rígido, mesmo que tenha melhorado em cada eleição.

O que significaria a volta do partido PRI ao poder?

Basicamente, a volta do PRI não significaria nenhuma mudança substancial nas políticas econômicas e de desenvolvimento do país, já que tanto os 12 anos de administração do PAN, como o grupo de oligarcas dentro PRI que são representados por Peña Nieto se especializaram na alienação dos bens públicos diante dos grandes capitais, questão que vem sido feita descaradamente desde 1988, durante o governo de Carlos Salinas de Gortari, curiosamente uma pessoa muito próxima a Peña Nieto, e que é considerado como implantador do neoliberalismo no México.

Na realidade, tanto Josefina Vazquez Mota como Peña Nieto têm compromisso de vender a petroleira PEMEX e mudar a lei laboral para facilitar ainda mais o precário emprego da empresa. Quem sabe, haja diferenças na redução gradual do sangrento combate ao crime organizado, que provocou oficialmente mais de 60 mil mortos e isso reduza a corrupção e incompetência de Felipe Calderón e sua postura submissa aos Estados Unidos

A suposta luta de Calderón contra o crime organizado se pode considerar que é um fracasso e um elemento chave para sua impopularidade.  A luta contra o crime resulta em uma “montagem sangrenta” para que os mexicanos estejam mais preocupados em “se esquivar de balas” que pedir contas e responsabilidade aos corruptos causadores da redução da qualidade de vida e da entrega da soberania nacional ao capital estrangeiro.

O que parece irônico é que os seguidores do PAN dizem que são péssimas as administrações estaduais e municipais opositoras, mas omitem que a gestão de Vicente Fox duplicou a dívida externa. Isso significa que esse partido hipotecou nosso destino pelos próximos 150 anos, superando em uma década o dano que supostamente causou o PRI em seus 70 anos de governo.

E sobre o candidato Andrés Manuel Lopez Obrador, qual é seu perfil e origem?

No caso de Obrador, posso informar que é um político ex-PRI vindo do Estado de Tabasco e que rompeu com o partido depois que lhe deram a candidatura do governo para seu estado nos anos noventa. Mas me parece ridículo quando falam os especialistas que Obrador representa a esquerda. Posso dizer que ganhou importância e popularidade como Chefe de Governo do Distrito Federal, a Cidade do México, já pelo Partido da Revolução Democrática, que praticamente está sendo formado por “desfeitos” tanto do PRI como do PAN.

Para mim, esses personagens não são se esquerda, ainda que sejam empáticos e agradáveis as reivindicações vinculadas ao nacionalismo mexicano, cujo centro é o “não” à privatização da PEMEX e “não” ao deterioramento da vida dos mexicanos, discurso de López Obrador.

Finalmente digo que muitas pessoas próximas à equipe de trabalho de Obrador falam que é um tipo inteligente, intransigente, autoritário e às vezes pragmático. Assim, posso concluir que nenhum candidato constitui uma boa alternativa entre o que nós mexicanos somos obrigados a eleger entre todas as más opções, este (Obrador) é um pouco melhor

O Movimento “YoSoy132” é apartidário? O que reivindicam os participantes?

Recentemente o movimento tem cobrado bastante relevância midiática. Ele teve origem em 11 de maio deste ano como consequência da visita do candidato presidencial do partido PRI, Enrique Peña Nieto, à Universidade Iberoamericana, na Cidade do México. O movimento, após esse dia, teve como objetivos supostamente “evitar que um candidato presidencial do PRI possa ser imposto pela oligarquia do país”, questão que resulta em situação irônica, já que essa mesma instituição de ensino superior ostenta o duvidoso título de ser o “semeador formador” dos filhos dos plutocratas que historicamente saquearam o país.

Por outro lado, esse movimento da “sociedade civil” que a princípio se considera um “movimento estudantil, cidadão, político e apartidário”, em sua própria página da internet se diz como “movimento anti-Enrique Peña Nieto” e “anti-PI”. Por isso, sua aparente imparcialidade política é pouco convincente, porque é óbvio que existem certos interesses por detrás desse grupo. Seu suposto aparidarismo é uma manobra do sistema.

Mas assim mesmo é primordial estabelecer que esse movimento está longe de ser um legítimo porta-voz da juventude nacional, já que a realidade em nosso país é tão complexa que fica difícil que algum ator político-social possa ser surgir como a principal e única voz dos jovens sem resultar em uma falácia. 

Obviamente esta é minha análise pessoal e que muitas vezes é o contrário do que é difundido nos meios de comunicação, que manipulam e desinfomam.

No estado de Colima, onde moro, as marchas do movimento têm sido encabeçadas por membros das juventudes do Partido da Ação Nacional (PAN), por isso sua credibilidade é bastante duvidosa. Mesmo que tenha gente bem intencionada no movimento, nunca nos esqueçamos que “o caminho para o inferno está cheio de boas intenções”

 

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