Lugo entende que só milagre o leva de volta ao poder

Presidente destituído do Paraguai não deve viajar à Cúpula do Mercosul e novo presidente afirma que não vai se esforçar agora para reatar relações internacionais

Lugo afirmou que viajará pelo país para reunir simpatizantes e explicar que foi submetido a um julgamento político (Foto: Jorge Adorno / Reuters)

São Paulo – O presidente destituído do Paraguai, Fernando Lugo, afirmou hoje (26) que apenas um milagre pode fazê-lo retornar ao poder, já que as vias institucionais se fecharam com a decisão da Corte Suprema de Justiça de rejeitar o recurso apresentado por ele contra o impeachment-relâmpago levado adiante na semana passada pelo Congresso.

“No âmbito legal, todas as portas se fecharam ontem quando deram a constitucionalidade do processo e o reconhecimento da justiça eleitoral. Legalmente não existe um caminho para reverter esta situação”, disse Lugo em entrevista à agência Reuters. “Há uma possibilidade impossível, milagrosa, na qual o mesmo Parlamento possa decidir que se equivocou e que recua… fica o caminho político, mas o consenso no Parlamento me parece impossível.”

O presidente destituído afirmou que fará uma “cruzada” pelo país para reunir simpatizantes e explicar que foi submetido a um julgamento político. Em 24 horas o Congresso aprovou o início e o fim do processo contra ele em meio a uma disputa policial no interior do país. Na segunda-feira (25) assumiu o vice dele, Federico Franco, que deve ficar no poder até as próximas eleições, em 2013. 

Lugo afirmou ainda que não deve comparecer à Cúpula do Mercosul, que teve início esta semana e que reúne nos dias 28 e 29 os chefes de Estado de Brasil, Uruguai e Argentina em Mendoza. Franco não foi convidado a participar porque os países da região debatem a possibilidade de suspender o Paraguai do Mercosul por desrespeito à cláusula democrática do bloco. “Estou quase decidindo que não viajarei na sexta-feira pelos motivos que estou dizendo, que os presidentes da região se sintam em liberdade… não quero pressionar nem os presidentes, nem os países da região a tomarem decisões.”

Defesa e relações internacionais

Em Assunção, o novo presidente disse que deixará em segundo plano a relação do país com a comunidade internacional. “Não podemos, neste momento, nos ocuparmos das relações internacionais se primeiro devemos cuidar para que tudo esteja normal”, disse Franco. “Sou responsável por garantir que não vá ocorrer uma guerra civil.”

Ele garantiu ainda que respeitará o calendário eleitoral do próximo ano. “Os prazos eleitorais serão respeitados, serão realizadas eleições conforme se estabelece a lei eleitoral. Se Deus e a Virgem Maria permitirem e também com a ajuda dos meios de comunicação internacionais, vamos entregar o meu governo em 15 de agosto de 2013 e, tomara que, com um país mais organizado”, disse.

Responsáveis pela destituição de Lugo voltaram a apresentar argumentos para explicar a rapidez do processo político. O presidente da Comissão Constitucional do Congresso paraguaio, senador Miguel Saguier, veio a Brasília tentar evitar sanções impostas via Mercosul e buscar apoio da presidenta Dilma Rousseff ao novo gabinete. 

“O nosso sistema é muito distinto do sistema brasileiro. No Brasil, quando a Câmara dos Deputados acusa o presidente, o suspendem de suas funções. No Paraguai, não. O presidente que está sendo submetido ao julgamento político continua com a totalidade dos seus poderes, sendo comandante das Forças Armadas e sendo administrador-geral do país. Alem disso, soubemos da presença de conselheiros da Unasul que foram visitá-lo. Ele poderia atropelar o Congresso. O que poderíamos fazer?”, disse o senador paraguaio, acrescentando, “não poderíamos esperar três meses”.

Ao mesmo tempo, ele fez eco à queixa de Franco contra a decisão dos presidentes legítimos da região de excluírem o Paraguai da cúpula. “Estão dizendo que violamos o direito de defesa do Lugo, mas não nos deixam participar da reunião do Mercosul. Não nos dão nenhum minuto para poder mostrar nossos argumentos. Creio que estão julgando de maneira injusta o Paraguai. De 80 deputados, 76 votaram contra Lugo. De 45 senadores, 39 votaram contra o presidente Lugo”, argumentou. 

O presidente da Associação de Produtores Rurais do Paraguai, Germán Ruiz Aveiro, disse que a falta de apoio político e os constantes conflitos entre agricultores e sem-terra foram as principais razões para o impeachment de Fernando Lugo. “A nossa preocupação é que se lançou uma ideia internacional de que houve um golpe de Estado e esse foi um recurso parlamentar em que o presidente perdeu apoio. Quando o Partido Liberal retira o apoio e pede o juízo político, ele [Fernando Lugo] cai. Fizeram um juízo político por todos os acontecimentos políticos que vinham acontecendo”, disse.