Nova ajuda elimina soberania da Grécia

Pacote de 130 bilhões de euros, o maior a uma nação em tempos de paz, prevê que governo grego não tenha gerência sobre a liberação de recursos, comandada por FMI e União Europeia

FMI e União Europeia parecem desconfiar da capacidade da Grécia de implementar as mudanças exigidas (Foto: © John Kolesidis. Reuters)

São Paulo – O novo pacote de ajuda à Grécia impõe ao país uma perda de soberania ainda maior que o primeiro conjunto de medidas, liberado no segundo semestre do ano passado. Agora, no momento em que o país já obrigou os cidadãos à perda de salários e de direitos previdenciários, a conta bancária de 130 bilhões de euros será controlada pela “troica”, o grupo formado por Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu e União Europeia.

A medida significa que o pagamento da dívida será feito antes que se cumpram os deveres com as contas nacionais, os salários de servidores públicos e as pensões dos aposentados. A liberação, a conta-gotas, dependerá da saúde financeira demonstrada pelo governo grego, que pode ter de aceitar a nomeação de um comissário estrangeiro com direito de veto em cada um de seus ministérios, em detalhes que serão conhecidos nos próximos dias.

Na segunda-feira (20), após treze horas de conversas, os representantes da União Europeia celebraram o acordo para o fechamento do pacote que, por ora, afasta o risco de que a Grécia deixe a zona do euro, processo que poderia levar à desintegração do bloco. A outra alternativa era a suspensão do pagamento da dívida, com possível declaração de moratória, e um efeito de contágio nos mercados europeus.

Os pacotes liberados até agora somam uma cifra próxima a 300 milhões de euros, ainda incapaz de recolocar a economia grega nos trilhos após quatro anos de recessão. Como tem insistido o governo brasileiro, a receita imposta pelo FMI e pela União Europeia às nações em crise levará a ainda mais problemas, já que aposta em um ciclo de corte de direitos sociais em troca de uma suposta melhora do caixa. Na visão de Dilma Rousseff, o remédio é equivocado, uma vez que abre mão do crescimento econômico, o que poderia levar a um aumento da arrecadação e abrir caminho para o pagamento das dívidas astronômicas.

Os líderes europeus têm preferido trabalhar com a perspectiva de um quadro de baixo crescimento, ou mesmo de recessão, durante alguns anos, acreditando que este é o caminho para voltar a equacionar a relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB). Até 2020, os débitos gregos terão de baixar ao equivalente a 120% do PIB. O problema é saber qual será o tamanho da economia grega até lá, dado que o país não consegue sair da recessão. 

Nos últimos meses, a exemplo de outras nações da região, explodiram na Grécia protestos de estudantes e trabalhadores contra as condições impostas pelo FMI. Na negociação do pacote anterior, o primeiro-ministro George Papandreou, que cogitou convocar a população a votar nos ajustes impostos externamente, foi obrigado a renunciar. Em seu lugar entrou Lucas Papademos, um quadro técnico nomeado por influência da União Europeia para conduzir o resgate da nação. Agora, porém, ele não parece ter a total confiança dos líderes do bloco, que preferem assegurar-se de que aplicarão os 130 bilhões de euros da maneira que desejam. 

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